Luciano Rodrigues, cavaleiro e pequisador, obteve essa solicitação de um leitor do portal Cavalus. Confira!
Um dos grandes milongueiros do folclore argentino, Atahualpa Yupanqui, em uma de suas canções Pelajes Entreveradas, canta sobre 54 pelagens de cavalos. Uma delas chama a atenção: o malacara. Também conhecido como o cavalo de ‘frente aberta’.
De acordo com Dom Emilio Solanet, no livro ‘Pelajes criollas’, o malacara não é propriamente uma pelagem, mas uma característica. Típica das regiões dos pampas, relacionado principalmente ao Cavalo Crioulo.
A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Crioulo – ABCCC não apresenta o malacara como pelagem. Todavia, a Sociedad de Criadores de Caballos Criollos Del Uruguay descreve como uma particularidade da cabeça do animal.
Sendo o malacara o animal que possui faixa de mais de 2,5 cm de largura, não podendo ser confundido com o malacarita que é o zaino colorado com cara branca.
Origem
Em inúmeras pesquisas procuramos a origem etimológica do malacara. Provavelmente, usando o método dedutivo, descende do castelhano, da palavra mala cara, ou seja, cara feia. De modo depreciativo, aquele que não tem boa feição, não é apresentável, mal, ruim. Assim sendo, porque o cavalo de cara branca, o malacara, foi entendido de modo depreciativo?
Conforme diz Ascêncio Pinheiro Filho, o malacara não era bem visto na região dos pampas nos tempos de conflitos e guerras na colonização destes territórios. Pois as grandes planícies do pampa e da Patagônia, com um campo de visão admirável, a ‘ancha branca’ se movendo poderia indicar um invasor, o inimigo, o ‘cara mau’.
Pampa e malacara
Uma das hipóteses para essa teoria é a similaridade entre o pampa e o malacara. Para Hernan Zubizarreta, assim como para outras fontes, o pampa não é uma pelagem e sim uma característica. O pampa é quando a mancha se expande, envolve um ou ambos os olhos e cobre todo o focinho, até a mandíbula.
Desse modo, a similaridade entre as pelagens podemos dizer que o pampa pode ser em referência a região dos pampas gaúchos. Porém, em outro momento histórico, já pacífico, enquanto o malacara descende da mesma região, em referência a tropa inimiga.
Um cavalo chamado Malacara
Durante a colonização galesa na Patagônia (séc. XIX) em 1865 chega a região John Daniel Evans, com 3 anos de idade. Sua vida foi a de explorar as terras patagônicas em busca de minas de ouros e minerais.
Em uma expedição nas regiões de Chubut e os Andes, junto com mais três companheiros, John Evans foi surpreendido por indígenas. Era março de 1884 quando os companheiros foram mortes na fuga dos indígenas, apenas Evans conseguiu fugir, graças ao seu cavalo chamado Malacara.
Sabe-se que para essa fuga o cavalo realizou uma proeza: saltou uma ladeira íngreme, algumas fontes dizem de mais ou menos quatro metros, contudo nenhum indígena ousou realizar tal fato.
Malacara está enterrado em Trevelin (Argentina), seu túmulo é um dos pontos turísticos da cidade. John Evans contribuiu para formação de novos povoados, estabelecendo os limites fronteiriços entre Argentina e Chile.
Referências
- SOLANET, Emilio. Pelajescriollos. Buenos Aires: Ed. Kraft, 1955.
- ZUBIZARRETA, Hernan J. Clasificación de pelajes equinos segúnla genética. Disponível em: https://www.petcompanyweb.com.ar/images/pdf/PELAJES-DE-CABALLOS-Segun-genetica.pdf.
- https://caballoscriollos.com.uy/pelajes-criollos-iv/
- http://www.folkloredelnorte.com.ar/pelajes.htm
- https://www.cavalocrioulo.org.br/studbook/pelagens
Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador | Campeira Dom Herculano | lu_fr@yahoo.com.br
Crédito da foto: Reprodução/Facebook
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