Claudia Ono comenta em sua coluna da semana que a afirmação acima sobre as embocaduras não é verdadeira
É muito raro que um cavaleiro pare para pensar nos efeitos que as embocaduras causam nos cavalos. É absurdamente comum ouvir ‘diagnósticos’ de que o cavalo tem a boca dura, não tem sensibilidade, não sente a boca.
Será que essas pessoas tem a mínima noção da quantidade de terminações nervosas que estão em contato com as embocaduras? O que vou relatar aqui é parte do que dois especialistas mostram a respeito desse assunto.
Não basta não dar soco no freio. A simples ação de serrar ou erguer as mãos causa danos na boca do cavalo e danos em seu comportamento. Grande parte dos problemas no percurso de Três Tambores ocorre pela pressão excessiva na boca dos cavalo e uso errado das mãos.
O bom cavaleiro não precisa das mãos e utiliza essa como a última comunicação com seu cavalo.
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Nas palavras de Alexander Nevzorov, fundador da escola de equitação Nevzorov Haute Ecole:
O ferro na boca de um cavalo, grosseiramente falando, é dividido em duas categorias:
1- ação ‘trigeminal’, quando os ramos do nervo trigêmeo, que passam ao longo da mandíbula do cavalo, são escolhidos como o ponto principal da dor.
2- efeito ‘dental’, onde a área desdentada muito macia – as barras, os dentes (primeiro e segundo pré-molares), língua, palato e gengivas são submetidos a uma influência dolorosa direta – isto é, pressão direta que atua sobre os nervos.
Embocaduras de ação trigeminal são baseadas mais em intimidação. O cavalo, sendo uma criatura fenomenalmente inteligente, sempre lembrará que tipo de ‘mina’ foi colocado em sua boca pelo homem.
Esse ferro não provoca uma dor constante e cruel, mas inflige apenas injeções breves e curtas desta dor no cérebro e na consciência do cavalo.
Enquanto as embocaduras de efeito dental assumem o uso constante das rédeas, o que agora é chamado pela frase divertida de ‘contato com a boca’. Isto é, essas partes constantemente lembram o cavalo de seu lugar e sua servidão ao infligir dor e desconforto contínuos.
É difícil dizer qual tipo, o trigêmeo ou o dental é mais cruel. Eu acredito que eles são aproximadamente iguais em crueldade.
Qualquer ferro trigeminal provoca um impacto doloroso direto no nervo palatino menor, nos ramos do nervo maxilar, nos nervos lingual e sublingual e nos ramos do nervo trigêmeo.
Qualquer ferro dental provoca um impacto doloroso direto no nervo palatino menor, nos ramos do nervo maxilar, nos nervos lingual e sublingual e nos nervos infra-orbitais e alveolares.
Isto é um fato anatômico. Não há como contornar isso.
O estudo de W. Robert Cook, FRCVS, PhD diz:
“Quando surgem problemas comportamentais no esporte equestre, os proprietários, sem dúvida, buscam soluções. Mas muitos proprietários de cavalos não pensam em procurar na boca um cavalo para obter uma resposta. De acordo com resultados de estudos recentes, as embocaduras podem ser a causa de mais problemas comportamentais e doenças do que muitos proprietários imaginam atualmente.”
Robert Cook concluiu recentemente um estudo no qual comparou 66 crânios de cavalos domésticos e 12 crânios de cavalos selvagens em quatro coleções do Museu de História Natural dos Estados Unidos em busca de diferenças na estrutura perto do ponto em que a embocadura entra em contato com o crânio.
Uma escala de classificação de cinco pontos foi usada para documentar esporões ósseos induzidos pela embocadura nas barras da boca (o grau 1 é normal e o grau 5 é o mais anormal). Esporões ósseos são conseqüências nas barras da boca, semelhantes ao sobreosso no osso da canela do cavalo.
Os primeiros dentes da bochecha na mandíbula inferior são os primeiros a serem danificados devido à sua proximidade com a embocadura, portanto a frequência de danos dentários foi baseada neles.
As principais conclusões do estudo incluíram:
1- 62% dos crânios de cavalos domésticos tinham esporões ósseos nas barras da boca;
2 – 61% dos crânios de cavalos domésticos exibiram erosão do primeiro dente da bochecha inferior;
3 – 88% dos crânios de cavalos domésticos mostraram evidências de danos nos ossos ou nos dentes;
4 – À medida que o grau de formação de esporão ósseo aumentava de 1 para 5, também aumentava a frequência de danos dentários;
5 – Não foram encontrados esporões ósseos ou danos dentários em nenhum dos 12 crânios de cavalos selvagens.
Conclusão sobre os efeitos das embocaduras
Esses estudos e relatos de especialistas apenas endossam aquilo que vejo em todos os cavalos que chegam problemáticos até a minha mentoria: o contato com a boca é o calcanhar de aquiles dos cavalos e mãos inábeis sempre causarão estragos em pista além dos causados fisicamente.
Não é porque não enxergamos algo que essa coisa não existe. Os cavalos nos dão sinais o tempo todo. Estar de fato ao lado deles muda tudo na pista, porque aumenta a empatia entre competidor e cavalo e aumenta as chances de eliminar as causas dos problemas.
Mesmo quando montamos com o mínimo contato em suas bocas, ainda assim causamos dor. Não é porque um cavalo está sob o controle da pressão que ele está calmo e seguro. Não perceber a distinção entre subjugado e calmo certamente acabará gerando um terceiro problema.
Qual a saída? Evoluir na sua equitação e conhecimento sobre os cavalos.
Fontes:
https://thehorse.com/119688/is-your-horses-bit-harmful-to-his-mouth/
https://www.youtube.com/watch?v=JmLf_HzEJrw https://www.facebook.com/NevzorovHauteEcole/posts/686737021374267
Por Claudia Ono
Três Giros
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
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