Ele é uma verdadeira enciclopédia da raça Quarto de Milha e tem profundo conhecimento da área da comunicação voltada ao cavalo, especialmente
Abdalla Jorge Abib, 65, nasceu em Assis, interior paulista, e hoje mora na capital. Cursou a FMU em São Paulo e sua história de vida profissional, sem dúvida, se mistura com a do Quarto de Milha. Ele acompanhou não só o surgimento bem como o desenvolvimento da raça no Brasil, além da fundação da ABQM.
Foram 33 anos dedicados ao Quarto de Milha como funcionário da ABQM, atuando na área de Marketing e Comunicação. Entre as atividades desenvolvidas, Abdalla foi o responsável pela produção e edição da Revista Quarto de Milha, o primeiro órgão oficial da entidade. Com toda a certeza, ele é um dos que mais entendem de cavalo e da raça no Brasil.
Conversamos com ele, confira!
Começo
“Meu envolvimento com a área do agro e do cavalo, especificamente, teve como base a Revista APB – Agricultura e Pecuária Brasileira, de propriedade do meu pai. Era um veículo em âmbito nacional, que abrangia várias raças equinas, bovinas e ovinas. Além disso, focava também a área da agricultura. Aos 15 anos de idade, pelo menos umas duas vezes por semana, eu ia ao escritório, na parte da tarde logo após a escola. A curiosidade sobre o assunto surgiu forte.
Naquela época, já gostava muito de filmes de faroeste e colecionava gibis do Cavaleiro Negro, Durango Kid, Zorro, Roy Rogers (que hoje se tornaram relíquias). Fora o conteúdo jornalístico da Revista APB, ela foi importante também para eu tomar conhecimento sobre a área gráfica, pois naquele tempo era utilizando o sistema de clichês para impressão. A saber, uma placa inteiriça de metal, gravada em relevo a partir de uma matriz.
Em seguida, acompanhei o trabalho feito com as máquinas da IBM, usando esferas para a digitação dos textos e as montagens das páginas em poliéster. Passei também pelo período de ilustrações com trabalhos de aerografia, dos fotolitos convencionais, até o momento atual da era digital”.
A origem do Quarto de Milha no Brasil
“O surgimento do Quarto de Milha no Brasil foi em 1954, coincidentemente o ano em que nasci. E como acho que nada é por acaso, não sei se tem alguma relação com a paixão que mantenho pela raça até hoje. Desse modo, sabemos que a raça foi trazida para cá através de um grupo norte-americano muito forte, a Swift Armour, que era proprietário das maiores Fazendas no Texas, a Swift King Ranch.
Eles vieram investir em terras, adquirido quatro fazendas na região de Presidente Prudente/SP. Como resultado, veio na primeira remessa o garanhão Saltillo Jr e seis éguas, além de 270 cabeças de gado Santa Gertrudis. Pelo que li, a finalidade inicial da SKR com o QM era formar um plantel de tropa somente para o manejo das fazendas de gado. Contudo, seis anos depois, com a morte de Saltillo Jr em 1960, eles trouxeram para substituí-lo o garanhão Caracolito e outras éguas.
Pelas marcantes características que a raça possuía começou a despertar o interesse de fazendeiros e empresários da região. Então, a SKR fez o seu primeiro leilão, em maio de 1968, na Fazenda Bartira, comandado pelo leiloeiro Trajano Silva. O Quarto de Milha, que tinha um tipo forte e compacto, como eram Saltilho Jr e Caracolito, cruzando com as éguas com sangue inglês, resultou em um animal bem aceito na região para lida, corrida e provas funcionais.
Outros animais dessa épica se tornaram importantes para o desenvolvimento da raça: El Zorrero, Failas Ambassador, Dan’s Boy Skippy, San Cardenal, Sucesso SKR,Víbora Solano, Proud Effort, Obrigativo SKR, entre outros. E as matrizes, como Macanuda SKR, Make Merry, La Semilla, Pepita SKR, Safira SKR, entre outras. A partir de 1982 os animais nascidos eram registrados com o sufixo KRB (King Ranch do Brasil)”.
Relação com o Quarto de Milha
“A Revista APB foi um importante canal para eu me interessar em conhecer mais sobre cavalos e alguns criadores, que passaram a ser referência para mim. Acompanhava meu pai, meu cunhado Anielo Pernice, e também meu irmão mais velho Miguel, indo aos finais de semana em exposições agropecuárias. O interesse pelo Quarto de Milha, acima de tudo, só crescia. Assim como consumia informações sobre a ABQM. De tal forma que tenho no Dr. Heraldo Pessoa um exemplo de dedicação e símbolo disso tudo.
Entre os que contribuíram muito para o ‘ponta pé inicial’ da ABQM, o Dr. Heraldo sempre conta que o secretário executivo da AQHA, Don Jones, que foi residente no Brasil, prestando todo o auxílio e cooperação, foi peça importante. Inclusive, quando trouxe, sem despesas, o juiz Bill Verdugo para a primeira exposição do Quarto de Milha em 15 de agosto de 1969.
Oportunidade para o grupo que incluiu Dr. Heraldo, Dr. José Eugênio, Chiquito Furquim, Quartim Barbosa, Ruy Assumpção, entre outros, de fundar a ABQM.
Eles também contaram com o apoio de outros conhecidos nomes, como: José Macário, Domingos Medeiros (Dimanche), Adão Lereno, Geraldo Ribeiro de Souza, José Carlos Delfim Miranda, o ‘Cacau’, e o Renato Eugênio de Rezende Barbosa, o ‘Tô’, titular da Fazenda Berrante, em Assis/SP. Esse último plantel que se tornou um dos pioneiros com grande destaque na criação do Quarto de Milha, importando animais como Doc’s Gamay, Sanjay, entre outros.
E já no ano seguinte (1970), o cavalo Caracolito recebeu da ABQM o registro nº 1. Também surgiram treinadores que contribuíram muito para história da raça, como Jayme Rodrigues, Benedito Moreira, Marcão Toledo, Jairo Oliveira, Eloi Medeiros, entre outros, que serviram como professores para tantos outros profissionais”.
Aproximação com a ABQM
“Mais uma vez acompanhando o meu pai, e sem saber ainda o que representava e o que representaria para mim o Quarto de Milha, estive presente no primeiro leilão oficial da raça, realizado em fevereiro de 1972, na Água Branca/SP. E neste dia, depois de ver aqueles enormes animais, rústicos, fortes, me transportei aos filmes de faroeste.
Em suma, os anos passaram, e mesmo cursando a faculdade, sempre quando tinha ‘brecha’, frequentava outros eventos. Lembro que em 1978, meu pai e eu fomos com um grupo de criadores a convite do presidente da ABQM – Sérgio Paes de Almeida -, a São Vicente/SP, acompanhar alguns páreos de Corrida. Fiquei atônito com a velocidade dos animais.
Outros eventos de Quarto de Milha começaram a ocorrer na Água Branca, oportunidade de me aproximar ainda mais da ABQM e conhecer mais criadores”.
Entrada no mercado
“Já na década de 80, me lembro que tínhamos alguns criadores que eram clientes da Revista APB e outros que conheci frequentando eventos, como: José Nelson Fakri, Sérgio Nougués, Samir Jubran, os irmãos Sérgio e Wilton Paes de Almeida, Gianni Samaja, José Macário, Fauzet Farha, Renato Eugênio, Irmãos Rudney e Sidney Atalla, Fernando Muniz, Luiz Boccalato, Plínio Kiehl, entre outros.
Visto que, em uma das visitas a empresa de Nelson Fakri (avô do Sorocaba, da dupla sertaneja Fernando & Sorocaba), ele me fez a seguinte proposta: – “Você quer fazer uma revista de moda para a Tecelagem Lorena?” –. Foi algo que me pegou de surpresa. Todavia, lhe respondi que fazer revista não seria problema, mas de moda nunca havia imaginado produzir. Ele me tranquilizou dizendo que a família estaria envolvida com o projeto, me dando suporte com a estrutura necessária.
Então topei a parada e editei a revista com o lançamento das estações Primavera/Verão, veiculada durante um grande desfile no Clube Paineiras, em São Paulo/SP”.
Criação da Revista Quarto de Milha e a entrada na ABQM
“Logo depois disso, meu pai se aposentou e foi cuidar do pequeno haras que possuía em Assis. Assim como meu cunhado Anielo, com a família, mudou e transferiu a revista APB para a Assis. Aceitei, dessa forma, o convite de Nelson Fakri para trabalhar na comunicação e marketing de sua empresa (1983). Dois anos depois (1985), o Dr. Sérgio Luiz Rodovalho Nouguès foi eleito presidente da ABQM, o Sr. Nelson como Conselheiro Fiscal e me convidaram para produzir a Revista Quarto de Milha, que vinha sendo impressa em duas cores, produzida mais como um Informativo.
Foi a partir daí que tudo começou! E após a veiculação de 12 edições, o Dr. Sérgio manifestou a vontade de montar um departamento e produzir a revista na própria Associação. Quis que eu passasse a integrar o quadro de funcionários da ABQM, coordenando o departamento. Isso se deu em 2 de junho de 1986 e com muito orgulho e satisfação fiquei na Associação por 33 anos e meio, editando e produzindo a Revista Quarto de Milha.
Além destas funções, fui o responsável por vários anos da comunicação e marketing da entidade, atuando nas seções de Notícias e Leilões/Mercado, além de coordenar estas áreas nos eventos oficiais”.
Gratidão
“Tudo que eu disse anteriormente me ajudou a conhecer boa parte deste universo. Sempre procurei me informar e acho que fui feliz em conviver com as pessoas certas. Tenho muito que aprender ainda e meu conhecimento devo a várias pessoas, pois li entrevistas sobre elas ou em descontraídos bate-papos.
Sei que vou esquecer de mencionar alguns nomes, mas esses contribuíram para o meu conhecimento: José Nelson Fakri, Heraldo Pessoa, Sérgio Nouguès, Ovídio Ferreira, José Macário, Érico Braga, FauzetFarha, José Aprígio, Vicente Molla, Emílio Fanton, Márcio Tolentino, entre tantos outros.
E nos 50 anos de ABQM, completados no dia 15 de agosto do ano passado, indiretamente prestei serviços aos ex-presidentes: Sérgio Paes de Almeida, Samir Jubran e Gianni Samaja. Já nesses mais de 33 anos como funcionário, trabalhei diretamente com dez deles. Pela ordem: Sérgio Nouguês, José Macário, Érico Braga, Douglas Ferro, Ovídio Ferreira, Paulo Farha, Marcelo Ferreira, Fábio da Costa, Cicinho Varejão e Caco Auricchio (por apenas quatro meses)”.
Momentos marcantes
“Durante esse longo período que estive envolvido com o Quarto de Milha, onde a maior parte foi dedicada à Revista Quarto de Milha, algumas edições ficarão marcadas em minha memória e creio que se tornaram importantes para a história da raça. Destaco entre elas a 1ª Especial de Garanhões, em 1991; a nº 71, com a inauguração da escultura do busto da raça na sede da ABQM; a edição comemorativa do 1º Congresso Brasileiro; a nº 73, com a inauguração do Jockey Club de Sorocaba; a edição 180, em 2008, com 364 páginas – o recorde até hoje; e a de Garanhões 2012, com 308 páginas.
Fico feliz também em ter estado presente na maioria dos eventos da ABQM, tanto os da área esportiva, como de mercado, através dos leilões e os de congraçamentos sociais, como o Hall da Fama e o Awards. Destaco o Campeonato Nacional de Conformação e Trabalho, que até 1988 era composto por várias etapas até ser realizado no ano seguinte, em uma única semana, em sua 12ª versão, na cidade de Curitiba/PR.
Estive na criação do 1º Congresso Brasileiro, em Bauru/SP, em 1991; no 1º Potro do Futuro e Nacional de Vaquejada, em 2003, na cidade de Bezerros/PE; participei do GP ABQM Potro do Futuro de Corrida, que inicialmente ocorreu em 1978, em Jaú/SP. Esse evento, aliás, foi realizado também em outros hipódromos paulistas, como Avaré e Ribeirão Preto, depois Brasília/DF, Curitiba/PR, Goiânia/GO, até que em 1991 passou a ser em definitivo no Jockey Club de Sorocaba/SP”.
Agradecimentos aos colegas de trabalho
“Mais da metade da minha vida foi dedicada ao Quarto de Milha e à ABQM. E embora saiba que também esquecerei de mencionar alguns nomes, quero compartilhar minha vivência profissional em todos esses anos de Revista Quarto de Milha, agradecendo alguns colegas que trabalharam comigo. Quer seja como colaboradores quer seja como prestadores de serviços.
Entre eles, Anielo Pernice (In Memorian), Mariluce Costa, Moacir Russo, Mara Iasi, Marcia Schmited, Marcelo Pernice, Daiane Barbosa, Juliana Santos, Elizabeth Sanchez, Ana Paula, Carol Biazon, Sebastião Nascimento, Cláudia Rivoiro, EliasPernice (In Memorian), Wagner Galante, Wilson do Amaral, Alvaro Maya, Hugo Lemes, Miguel Oliveira, Mauricio Messias, Gerson Verga, Fábio Cabrera, Gabriel Oliveira, Adilson Silva, Beto Negrão, Almir Xavier, Tony Mendes, Jaqueline Silva, Malu Cáceres, Faby Mattos, Aluiso Alves, Allan Damasceno, Eduardo Custódio, Marcelo Vergílio, Leandro Nascimento, Clovis Prates, entre outros”.
Hoje
“Só posso me orgulhar de tudo isso e dizer que ao longo desse período a Revista Quarto de Milha e a ABQM me proporcionaram a conquista de muitas amizades. Saí da ABQM, entretanto, continuo atuando na raça na produção de matérias jornalísticas, releases, assessoria de imprensa, além da criação de anúncios e outras peças promocionais. Dessa maneira, continuo à disposição dos quartistas profissionalmente através dos contatos: (11) 99918.6501 | ajabibeditor@hotmail.com.”
Por Luciana Omena
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
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