Resolvi começar esse texto a partir de um trecho do post de novembro.
Nele eu citei uma entrevista em que a Sarah Dawson disse que acredita que os cavalos aprendem melhor o que eles aprendem primeiro, e por isso é tão importante dar a eles uma base consistente e sólida.
Se tem uma coisa que me emociona é ver uma criança montando. Não tem coisa mais linda do que ver um tico de gente batendo a perninha e sair no galope, falar ‘whoa’ e o cavalo dar aquela deslizadinha. Choro. Tem os mais novinhos, e tem os mais erados, cada um com a sua habilidade, mas todos com a mesma vontade.
E eis a minha reflexão. De que a filosofia da Sarah serve não só para os potros, mas também para as crianças. E não só no que diz respeito à relação delas com o cavalo, mas com o mundo. Mas vamos restringir essa reflexão apenas para a parte dos cavalos, que é o que nos interessa nesse espaço.
Lembro da minha infância, do quanto eu tentei, do quanto errei e aprendi. Fiz a minha primeira prova de Rédeas com oito anos de idade. Percurso 6 (ou seja, com trocas de mão). Presidente Prudente. Uma mão, dedinho no vão das rédeas. Minha mãe costurou fitas de cetim vermelhas numa camisa branca para combinar com a minha calça Wrangler vermelha (sim, era moda na época). Mais do que isso, lembro das horas de treino com meu pai. Ele era duro, porque queria que aprendesse. Eu chorava sempre, mas mais porque eu era mole, ainda sou.
Treinar era importante, e é imprescindível para o bom desempenho na pista. Mas a Rédeas é muito mais do que treino. Da porteira para dentro existe um mundo de possibilidades que dependem dos treinos anteriores, mas também da condição em que o cavalo e cavaleiro se encontram naquele momento. Quem faz prova sabe de tudo isso. Mas tem um aspecto que também conta, não só na pista, mas também quando você não está montando, e que é tão importante quanto o treinamento em si: a atitude.
Hoje quando olho para trás eu acredito que eu tive problemas de atitude relacionadas ao cavalo. Quando ganhei o Potro do Futuro Amador Limitado da ANCR em 2000 eu fiquei animada, quis aprender a domar. Imagina! Mal sabia jogar uma sela no cavalo. Ganhei um tombo bem grande quando comecei a levar o potro para pista, e fiquei quase um ano sem montar de tanto medo/vergonha. Outra vez, meu cavalo se perdeu na pista, endureceu, e eu fiquei com muita raiva e quis ‘dar uma lição nele’. Nem preciso dizer que isso é muito feio né, e que quem levou a lição quando saiu da pista fui eu.
Talvez seja normal, muita gente te elogia, te encoraja, põe fé e torcida na gente, e a cabeça vira uma bagunça. Se até adulto se perde nisso, imagina uma criança. Mas eu tive a sorte de ter meu pai sempre me orientando, me cortando quando eu abusava, e me mostrando o que era certo ou errado.
Eu sou fã de algumas crianças da Rédeas. Que montam muito bem, que têm uma postura admirável na pista. Mas se tem uma coisa que eu não admiro é criança que ‘pega duro’ e acha isso bonito. Talvez seja até bom saber ‘pegar duro’, porque isso requer uma certa habilidade. Mas lugar de fazer isso é em casa, e sob orientação de um adulto responsável.
Um dia comentei com o treinador de uma dessas crianças que ele devia observar isso, porque esse comportamento não é recomendável nas provas, ou seja, não é uma atitude admirável em uma criança daquela idade. Resposta ‘imagina, deixa assim, deu tanto trabalho pra eu ensinar’.
Um minuto de silêncio para essa resposta. Repito, o que elas aprendem primeiro elas aprendem melhor, e elas tendem a repetir o que elas veem os adultos fazendo. Então vamos ser exemplos e orientar nossas crianças para que elas se tornem pessoas de atitude e postura respeitosas e com espírito esportivo no meio do cavalo.
Por Karoline Rodrigues
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Foto: arquivo pessoal