Um dos destinos mais tradicionais para cavalgada no Brasil é a Coxilha Rica, na região de Lages/SC. Sem dúvida, trata-se de um dos trechos mais preservados da antiga Rota dos Tropeiros. Antes de mais nada, eu já fiz essa cavalgada várias vezes e sempre encontrei a mesma boa acolhida desses catarinenses com alma de gaúcho.
Em uma das primeiras viagens fui acompanhado da Claudia Lechonski, conhecida professora da Universidade do Cavalo. E ainda da renomada fotógrafa Paula da Silva, que como sempre fez fotos maravilhosas. A saber, divulgadas mundo afora.
Nosso ponto de partida foi a Fazenda Barreiro, mais tradicional da região, fundada em 1782. O Laelio Bianchini ‘tio Lelo’, dono da fazenda, é a incomparável companhia que nos contou dos costumes, cultura e construções deixadas por seus antepassados.
Lá, um museu guarda peças do século 19 e uma carta com 150 anos, retirada das paredes de uma das primeiras casas. Logo depois do jantar, em um galpão de madeira, decorado com peças antigas, foi a vez de música folclórica gaúcha regional no fogo de chão.
Cavalgada na Coxilha Rica
O destaque nessa cavalgada, portanto, foram as travessias pelas ‘coxilhas’, que são extensões de campos verdes ondulados. Também cavalgamos pelos corredores de taipa, centenas de quilômetros de corredores entre muros de pedra.
Construídos a mais de 250 anos, por escravos e índios, esses corredores evitavam a dispersão das tropas conduzidas pelos tropeiros. Trata-se de rico patrimônio histórico, cultural e arquitetônico. E, só para exemplificar, local por onde já passaram milhares de mulas que vinham de Viamão/RS a caminho de Sorocaba/SP.
No dia seguinte de manhã, antes do café, o chimarrão passou de mão em mão. Depois de nos despedir do tio Lelo, encilhamos os cavalos e trotamos pelas coxilhas. Cavalgamos vários dias, parando cada dia numa tradicional fazenda da região.
As refeições sempre muito boas e típicas. Destaque para o ‘entreveiro’, prato típico feito com carne, pinhão e verduras, servido ao grupo no almoço do terceiro dia. Bem como da paçoca de pinhão e vaca atolada no jantar do quarto dia.
Fazendas durante a cavalgada
A Fazenda da Ferradura foi a segunda fazenda tradicional onde paramos. Lá tivemos a oportunidade de conhecer e escutar os causos do tio Beja, como é conhecido Benjamin Kuse de Faria. Tradicionalista autêntico, referência dos costumes serranos da região.
Para nos receber, tio Beja carneou uma de suas ovelhas e ao redor do fogo escutamos muitas histórias da Coxilha Rica. Dona Ilusa, mulher do tio Beja, nos mostrou seu tear. Ela faz artesanato de lã e as peles estão por toda casa.
De maneira idêntica, a Fazenda São João foi outro destino que merece destaque. Foi uma das primeiras residências da família Ramos, de grande importância política no estado de Santa Catarina. Afinal, quatro governadores do Estado e um presidente da República pertencem a ela.
O casarão sede, de arquitetura luso-brasileira, foi construído há cerca de 200 anos. Os mangueirões de pedras junto à casa continuam em uso até hoje para juntar o rebanho. Coxilha Rica, um lugar que parece ter sido esquecido pelo tempo.
Por Paulo Junqueira Arantes
Cavaleiro profissional e Diretor da agência Cavalgadas Brasil
www.cavalgadasbrasil.com.br
Veja outras notícias da editoria Turismo Equestre no portal Cavalus