O uso de anticorpos produzidos por cavalos vem desde 1901. No final da década de 1890, quando a descoberta da soroterapia trouxe a cura para a difteria, doença que se espalhava rapidamente entre as crianças e matava metade daquelas que adoeciam. Para elaborar esses medicamentos, eram utilizados anticorpos produzidos por animais.
Como os casos de difteria no século 19 eram inúmeros, a produção de soro em grande quantidade se tornou necessária, e os cientistas perceberam que precisavam usar um animal robusto para o trabalho. E ficou a pergunta: qual bicho poderia ser usado para essa finalidade? É aí que o cavalo entra na história.
Os mamíferos, que possuem um sistema imune bem parecido entre si, têm uma capacidade maior de produzir anticorpos e acabam sendo mais resistentes. Há também uma questão simples de tamanho: quanto mais sangue o animal possui circulando no corpo, maior é a quantidade de plasma (parte do sangue em que ficam os anticorpos) e, portanto, maior é a produção de soro.
Os cavalos têm o tamanho e a força necessária para tolerar bem todo o processo de obtenção do plasma. E, mais ainda, são calmos e fáceis de controlar, e podem ser treinados para a atividade que os cientistas precisam.
Como funciona a produção de soro?
O processo começa quando são aplicadas no cavalo pequenas doses contendo o veneno, vírus ou bactéria a ser combatido pelo organismo humano; o cavalo produz o anticorpo contra a doença ou as toxinas do veneno; o plasma do animal, rico em anticorpos, é coletado. Esse plasma passa por procedimentos químicos e físicos até se tornar um soro que pode ser usado para tratar a saúde de pessoas.
O Butantan produz 13 tipos de soros diferentes, entre antiofídicos (contra veneno de cobra), antiescorpiônico (escorpião), antiaracnídico (aranha e escorpião), antilonômico (lagarta), antidiftérico (difteria), antitetânico (tétano), antibotulínico (botulismo) e antirrábico (raiva), além de versões combinadas. E desde 1901 conta com a ajuda dos cavalos para isso. Eles ficam na Fazenda São Joaquim, propriedade do Butantan no interior de São Paulo, e trabalham como se estivessem doando sangue, sendo retirada apenas uma quantidade de plasma que não prejudica o animal. Depois de todo o processo, eles ficam 40 dias apenas descansando e comendo.
Em 2018, a coleta de plasma dos cavalos foi automatizada, melhorando a qualidade da matéria-prima. Atualmente, ela é feita por meio de plasmaférese, um processo no qual os veterinários utilizam um equipamento que coleta o sangue, separa o plasma que contêm os anticorpos e devolvem ao animal as hemácias, plaquetas e outros elementos, tudo isso feito em um ciclo contínuo, de modo que o cavalo não fica debilitado com a retirada do plasma.
Como é a coleta de plasma para a produção do soro
Os cavalos trabalham em grupos e cada grupo atua na produção de um soro específico. Se em um conjunto foi feita a coleta para o soro antirrábico, por exemplo, esses animais sempre serão usados para este propósito.
Geralmente, os cavalos do Butantan não são de raça específica. Os cavalos passam por um processo de aprovação (critérios como altura mínima, peso proporcional, exames de sangue e cuidados veterinários também são importantes nesse momento) e cabe ao Butantan selecionar estes futuros doadores de plasma.
Os cavalos começam a doar plasma a partir dos cinco anos de idade e se aposentam com mais ou menos 20 anos. E eles são muito bem tratados: são sempre escovados, vacinados, bem alimentados e monitorados para não terem vermes ou parasitas.
Por: Assessoria Butantan
Fotos: Divulgação
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