Um legado e uma história de tradição dos 50 anos do Rancho Quarto de Milha

Desde os seus 17 anos, quando iniciou sua jornada no Sindicato Rural de Presidente Prudente, Renato do Rancho esteve imerso nos eventos que marcaram a região, incluindo a Exposição de Animais

Na semana passada, o Portal Cavalus divulgou a primeira parte de uma entrevista especial que a Revista Roper’s Sports fez com Renato de Jesus Souza Silva, conhecido como Renato do Rancho, que dedicou décadas de sua vida como gerente e secretário executivo do Rancho Quarto de Milha.

Confira a segunda parte desta entrevista, onde Renato fala sobre a contribuição do Rancho Quarto de Milha no fomento do Laço, a história do Rancho e o seu legado até os dias atuais.

Tradição e legado do Rancho Quarto de Milha

RR – Como o Rancho Quarto de Milha contribuiu para o crescimento e desenvolvimento das modalidades de Laço na região do Oeste Paulista, Mato Grosso do Sul e norte do Paraná?
Renato do Rancho: Tudo começou com a equipe de cavaleiros do Rancho, cuja fama se espalhou por várias partes não só das regiões próximas, mas por todo o país, com inúmeras apresentações pioneiras realizadas em diversos pontos do Brasil, sendo a primeira em Corumbá-MT, seguida de muitas outras, como em Vacaria-RS, Goiânia-GO, Rio de Janeiro – RJ, Maceió-AL, Londrina-PR, Blumenau-SC, além das constantes presenças das principais exposições e feiras anuais da época, como em Bauru, Novo Horizonte, Ourinhos e, é claro, Presidente Prudente.

Atendendo os vários convites para apresentações e demonstrações das provas rurais do Quarto de Milha, o Rancho foi o grande incentivador da criação das primeiras pistas de provas de Laço, verdadeiras “pontas de lança” para a introdução da criação do Quarto de Milha no país, a exemplo da região de Presidente Prudente, Sul de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, Norte do Paraná, Sul de Minas Gerais e Sul de Goiás.

Em parceria com a ABQM, através da promoção de diversos cursos de adestramento, inclusive com a vinda de profissionais americanos, o Rancho Quarto de Milha também foi pioneiro na busca de novos conhecimentos técnicos e aperfeiçoamento de criadores e de seus peões.

No Rancho foram realizados os primeiros leilões de cavalo de Trabalho, o primeiro Potro do Futuro, as primeiras competições de Laço de Bezerros, de Laço em Duplas, daqui saindo vários campeões nacionais, incluindo o Lucinei Nunes Nogueira, o “Testa”, o maior laçador do país que deixou seu legado através do seu filho Lucinei Nunes Nogueira, o Júnior Nogueira, hoje bicampeão mundial nos Estados Unidos. Foi também nos leilões anuais do Rancho Quarto de Milha que os criadores nordestinos, amantes da tradicional vaquejada, aprovando a eficiência do Quarto de Milha, vieram buscar seus primeiros animais da raça, os quais foram posteriormente campeões do Nordeste, alguns sendo valorizados em milhares de dólares, mesmo sendo mestiços castrados!

Mas foram os Clubes de Laço que formaram a verdadeira “ponta de lança” para o desenvolvimento da criação do Quarto de Milha, através das provas locais e regionais, sem esquecer todo o benefício da “indústria do boi e do cavalo” que fomentaram, com as fábricas de selas, cintas e cintos, chapéus, bonés, botas, roupas, treillers de transporte e demais produtos e subprodutos das atividades relacionadas, a moda country, etc.

RR – Poderia compartilhar conosco algumas memórias marcantes ou momentos especiais que você vivenciou durante os primeiros 10 e 20 anos da história do Rancho Quarto de Milha?
Renato do Rancho: Marcou participar da criação de vários clubes de laço, de organizar os primeiros campeonatos regionais e estaduais do Cavalo de Trabalho, de conhecer os primeiros juízes americanos que vieram no Rancho e os nossos primeiros campeões regionais e nacionais.

Marcou também nossa demonstração em Blumenau, SC, em 1983, sempre debaixo de chuva, que não parava. Tinha ido com o Durval Medeiros que resolveu ficar por lá e acabei voltando no caminhão dos cavalos com o Testa dirigindo, passando já por meia pista impedida na serra e ao chegar em Curitiba, fomos informados que já estava tudo fechado por lá, ninguém entrava e ninguém saía. Aconteceu a grande enchente do Rio Itajaí-Açu, em 9 de julho de 1983, uma tragédia que devastou a cidade. Depois disso que a comunidade criou a OktoberFest, para arrecadar recursos para recuperar a cidade.

Marcou também minha amizade com o Lucinei Nunes Nogueira, o Testa, acompanhando desde seu início no Rancho e seu crescimento como o maior laçador do país, sua esposa Eliziane (primeira mulher a laçar no Team Roping), sofrer com sua morte precoce, mas poder ver seu filho Lucinei Junior, o Testinha, crescendo nas pistas de laço do Brasil até chegar a Bi-Campeão Mundial nos Estados Unidos. Me orgulha muito ver o grande legado que o Testa deixou.

RR – O que o Rancho Quarto de Milha representa para você pessoalmente, considerando sua longa história e sua conexão com a raça Quarto de Milha?
Renato do Rancho: Tenho muito orgulho de ter visto pelo menos duas gerações de gente do agronegócio ainda me chamar de “Renato do Rancho”, pois muita coisa da própria história do Rancho eu vivenciei e até ajudei a fazer.

Nunca fui fazendeiro, pecuarista ou criador de cavalos, inclusive nunca tive um, mas o Rancho Quarto de Milha de Presidente Prudente fez parte da minha vida e eu da dele, sendo que existiu e ainda persiste uma certa simbiose que tem se mostrado resiliente.

Sou grato a todos, principalmente aos fundadores do clube, que permitiram que isso acontecesse.
RR – Como você vê o papel do Rancho Quarto de Milha no cenário atual das competições e eventos relacionados à raça, considerando seus 50 anos de existência e seu legado na região?
Renato do Rancho: Muita coisa mudou nesses anos, o cavalo Quarto de Milha cresceu e se espalhou por todo o país, mas três gerações de cavaleiros continuam nas pistas do Brasil muita coisa que é fruto do trabalho pioneiro do Rancho.

O Rancho hoje continua realizando provas, shows e eventos agropecuários na sua arena coberta, mantem uma Escola de Equitação e sua diretoria busca implementar novas atividades para o fortalecimento do clube.

Mas acho que falta o fomento que o Rancho criava, organizando as provas regionais, mesmo não oficiais, fortalecendo as exposições agropecuárias da região, oferecendo mais cursos técnicos, enfim, fazendo girar a “indústria das provas” que tanto beneficiou todo o agronegócio que girava em seu entorno.

O Rancho começou como “Clube de Adestramento do Cavalo Rural” e acho que ele devia voltar às origens.

Renato do Rancho criou a página no Facebook @ranchoqdm, um espaço virtual dedicado a contar, em detalhes, os 50 anos de história do Rancho Quarto de Milha. A página oferece uma plataforma interativa onde entusiastas e amantes dos cavalos podem se conectar, compartilhar informações, experiências e celebrar a rica história e legado do Quarto de Milha.

Leia a primeira parte da reportagem especial aqui: 50 anos do Rancho Quarto de Milha

Por Natália de Oliveira/Revista Roper’s Sports
Fotos: Arquivo pessoal/Renato do Rancho

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