A equoterapia e a percepção

No artigo abaixo, Luciano Rodrigues nos conta sobre a percepção para o ser humano ligada à equitação e equoterapia

A equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial das pessoas. Ela emprega o cavalo como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais.

Aproveitando da biomecânica da equitação, percebe-se a importância dela para o aprimoramento da percepção. Mais especificamente na localização espacial dos usuários.

A função da percepção para o ser humano é a faculdade de como integramos as informações sensoriais para perceber os objetos e de como utilizaremos estas percepções para nos movimentarmos no ambiente.

Efeitos sensoriais

As informações sensoriais que são captadas pelos órgãos específicos são codificadas pelo sistema nervoso central (SNC). Dessa forma, estas sensações estão divididas em cinco modalidades: visão, tato, olfato, paladar e audição.

A maioria das sensações é percebida como tendo uma fonte específica no espaço, quer no corpo ou fora deste. Assim sendo, a capacidade de localizar a fonte de estimulação depende da capacidade de distinguir entre estímulos próximos entre si.

O sistema sensorial trabalha para a formulação do pensamento perceptivo, como necessidade para a sobrevivência do ser. Por exemplo, a capacidade de navegação no espaço-tempo no momento de atravessarmos uma rua, do cálculo da distância de um abismo, da sirene de um trem, do perigo de se queimar etc.

Estas definições veem dos psicólogos da Gestalt que argumentavam que o cérebro constrói ativamente percepções completas a partir de detalhes na imagem visual, procurando e combinando partes que correspondem mais satisfatoriamente a objetos no mundo real.

Localização espacial

Na Equoterapia a andadura do cavalo traz para o paciente uma compreensão do mundo tridimensional, já que tem uma visão mais elevada, isso cria a possibilidade de ver o objeto de outros ângulos: horizontalmente e verticalmente.

Para podermos nos localizar em um espaço devemos saber onde se encontra este objeto, para isto temos que diferenciar os objetos entre si.

Para a localização espacial, não basta que haja apenas a identificação dos objetos. Desse modo, um segmento importante para esta tarefa é à distância, a profundidade.

Como todas as imagens formadas em nossa retina são bidimensionais, não temos como perceber esta profundidade. Então, a influência estabelecida pelo cérebro é importante para termos ciência da distância entre eu/objetos e objetos/objetos.

Esta noção de profundidade formada nas imagens se deriva pelo tamanho relativo, que faz a figura maior ser vista como mais próxima. A perspectiva linear, pela qual, quanto maior for à convergência linear, tanto mais distante parecerá o objeto.

E assim, o jogo de luz e sombra, que também interfere na percepção da distância relativa dos objetos. Todos esses fatores são amplamente utilizados em pinturas, para criar a percepção de três dimensões em figuras representadas sobre o plano, que só tem duas dimensões (o quadro).

A percepção

O ato de perceber o objeto, de analisar os movimentos, tem muito tem a ver com a atenção oferecida a eles. De acordo com especialistas, a atenção implica os disparos acentuados de células que respondem ao objeto de interesse ou no decréscimo dos disparos das células que respondem aos objetos que estão sendo ignorados.

Portanto, na equoterapia esta atenção se deve pela motivação que estimula o paciente, conseguindo atrair a atenção e a concentração dele. Esta motivação em se realizar tarefas, é muito bem explicada por quem estuda o assunto.

Em conclusão, a relação harmoniosa com este ser incondicional desperta um sentimento de empatia e afetividade. Antes de mais nada, aliado a uma atividade física ao ar livre e em contato com a natureza, gera um outro sentimento tão poderoso quanto o prazer.

Já foi provada pela psiconeuroimunologia a influência que faz as emoções sobre o corpo e sua saúde, auxiliando assim o seu aprendizado.

O movimento real causado pelo deslocamento da retina é um exemplo de complexidade, pois o mesmo ato de mover os olhos, quando lemos um livro é considerado o mesmo movimento quando a o deslocamento dos objetos.

A equoterapia e a percepção

Acima de tudo, na equoterapia são realizados vários movimentos no mesmo instante. Trabalha-se o cérebro para fazer essa seleção e por meio dela o paciente percebe algo. Contudo, no mesmo instante deixou de perceber outros.

Estes movimentos são codificados por células específicas no córtex visual. Estas células respondem a alguns movimentos e não a outros. E cada célula responde melhor a uma direção e velocidade de movimento.

Por fim, chega-se à conclusão que a equoterapia como método de terapia para pacientes com deficiência na percepção da localização espacial, é bastante favorável.

Pois o cavalo possui andaduras que favorecem o andamento tridimensional do paciente, o cavalo seguindo os padrões de movimento tipicamente humano é única.

Estes movimentos causados pelo animal servem como estímulo para o paciente, produzindo um aumento temporário da atividade fisiológica de um organismo. Não só acionando as emoções, como também tem efeito em nosso cotidiano, pois oferece a capacidade de desenvolver uma caminhada (passo).

Referências

  • ANDE-BRASIL – Associação Nacional de Equoterapia;
  • ATKINSON, R. L.; et al. Introdução à Psicologia de Hilgard;
  • KANDEL, E. R. Fundamentos da Neurociência e Comportamento;
  • MEDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia: bases & fundamentos;
  • UZUM, A. L. L. Equoterapia: aplicação em distúrbios do equilíbrio.

Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador | 
Campeira Dom Herculano | lu_fr@yahoo.com.br
Crédito da foto: Divulgação/Flickr/ Leonardo Raulino

Leia também:
Em tempos de crise: cavalo e política se misturam

Deixe um comentário