Claudia Ono fala na coluna da semana sobre o desejo de ter o melhor do seu cavalo pautado na busca por saber como ele entende as suas ações
É comum ouvir que o cavaleiro deve se comunicar com o cavalo, que as rédeas fazem a ponte da comunicação, e por aí vai. Mas você tem noção do que isso significa? Se existe algum problema relacionado ao seu cavalo no seu tambor, então a comunicação está falhando.
Imagine uma cena:
Um conjunto entra em pista com dificuldade. O cavalo nervoso, não quer entrar, mas acaba entrando após tentativas. Entra e não quer largar, afasta e cola na cerca, se entorta, briga. O cavaleiro bate perna, coloca o corpo para a frente, as rédeas para a frente mais ansioso do que o cavalo. Se irrita, bate o reio. O cavalo dá um pulo para a frente, mas afasta novamente.
Acaba largando todo desesperado, parece só pensar em correr, chega ao primeiro giro e o cavaleiro acha que não vai virar. Então, puxa a rédea firme para trás e ao mesmo tempo tentando arrastar para dentro do giro. O cavalo firma o pescoço, ergue a cabeça, passa reto e vira já na cerca. Isso foi o que você viu.
O que se passou realmente:
Os cavalos necessitam de segurança como necessitam de alimento. Você tira o seu cavalo da convivência em grupo, que é garantia de segurança e se torna o grupo dele. Mas não age como ele, nem entende o que ele diz.
Então, coloca no tambor e só pede, pede, pede. Nunca dá a ele a chance de ser cavalo e a contrapartida. A convivência é uma via de mão única. O percurso é pressão sobre pressão. Cafunés e ‘cut cut’ não dão segurança aos cavalos nem a animal algum. A demonstração de compreensão e a ação conjunta é que dão.
Chega o dia da prova e tudo fica diferente da rotina diária em casa. Até para aquecer tudo muda. Pressão, mais pressão para deixar ele bem ‘quente’. Para virar o tambor ele leva um puxão na boca. Ah, ele não sente dor? Esse pensamento é o de quem não sabe nada sobre cavalos.
Quando esse cavalo vai para a pista correr ele sabe que toda aquela pressão e dor estão lá aguardando por ele. Por que ele iria entrar e largar tranquilo? E assim que segue para a pista cheio de medo da pressão, o cavaleiro coloca mais pressão ainda. Ao invés de aliviar a pressão e deixá-lo seguro.
Consegue ver os bastidores por trás daquela cena?
Os cavalos dão sinais o tempo todo. Mas a maioria das pessoas interpreta tudo errado. Todas as vezes em que algo não vai bem com um cavalo ele dá um sinal. Levanta o focinho, balança a cabeça, abre a boca, endurece o pescoço, arregala os olhos.
E todas as vezes em que as rédeas são usadas de forma errada, sempre que elas são muito usadas, o resultado aparece em forma de erros. Erros do cavaleiro, mas que são vistos como erros dos cavalos.
O que vem a seguir? Após essa prova cheia de problemas, onde o cavalo errou e se ‘rebelou’, ele vai para a pista ser corrigido. E na prova seguinte tudo se repete, igual ou pior.
E como mudar isso? Colocando comunicação entre esse cavaleiro e seu cavalo. Nada disso teria acontecido se esse cavaleiro soubesse o que fazer e o que não fazer para garantir que seu cavalo se sentisse seguro, confortável e capaz de executar aquilo que sabe.
Então, se o seu desejo é ter o melhor do seu cavalo, comece buscando saber como ele entende as suas ações. Hoje existem opções para que você possa se informar. Até pouco tempo atrás só havia informação em outros países, mas as redes sociais trouxeram tudo para as nossas mãos.
Você não precisa ser treinador, não precisa mudar de CT, nada disso. Só precisa saber como acionar corretamente o seu cavalo e os problemas se resolverão.
Por Claudia Ono
Três Giros
Crédito da foto: Divulgação/Horse&Rider
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