Conheça a invicta carreira de Kincsem

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, conta a história de Kincsem, a égua húngara com maior índice de vitórias em corrida

Todos os países possuem o seu ‘Robin Hood’. Portanto, com a Hungria não é diferente. Os Betyár (ciganos) eram como o bando de Lampião no Brasil, viviam saqueando gados e cavalos. Sua influência gerou o seu próprio folclore.

Assim, há uma história de que um desses bandos Betyár invadiu um estábulo de Ernst von Blaskoviche. Roubaram alguns cavalos, dentre eles a Kincsem. Posteriormente, após a localização do bando pela polícia, ela foi devolvida.

A égua é, antes de mais nada, um ícone nacional, referência mundial em cavalos de corridas. É, nada mais nada menos, que a líder de vitórias em corridas de cavalos de todos os tempos. Ou seja, mantém a marca impressionante de 54 vitórias em 54 corridas.

Puro Sangue Inglês, a égua nasceu no dia 17 de março de 1874 na Hungria. Seu pai é Cambuscan, corredor nas pistas inglesas. Se tornou garanhão e foi comprado pelo Hungarian Jockey Club. Já na Hungria, com o cruzamento com Water Nymph, outra Puro Sangue Inglês, gerou a filha que iria vencer em cinco países diferentes na Europa.

Pelagem castanha, sem nenhuma marca branca, com cerca de 1,65 metros. Alguns críticos, como BK Beckwith, dizia que ela tinha pescoço invertido, orelhas de mula e era preguiçosa. Enquanto outros a admiravam. Publicado em 1876 pela Sportblatt: “ela é sempre cheia de qualidade, longa e profunda, está seca, forte, perfeita pernas e mostra-se com grande vantagem num galope rápido”.

Contudo, Kincsem teve uma vida curta. Morreu no dia 16 de março de 1887 por aneurisma. Um dia antes de completar 13 anos. Ademais, deixou apenas cinco descendentes.

LEIA TAMBÉM

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, conta a história de Kincsem, o cavalo húngaro com maior índice de vitórias em corrida
Kincsem e o seu treinador Robert Hesp – Foto: Divulgação/Wikimedia Commons

Carreira de Kincsem nas pistas

Kincsem começou a correr aos 2 anos de idade. Sua estreia foi em Berlim no dia 21 de junho de 1876. Venceu fácil e, aliás, nunca perdeu. Emplacou em uma série de viagens pela Europa, vencendo todas as corridas que participava.

Por exemplo, em 1876 foram dez vitória em dez corridas; nos Hipódromos da Alemanha, Áustria e Hungria. Com 3 anos, em 1877, venceu 17 corridas; também na Alemanha, Áustria e Hungria. Em seguida, na temporada de 1878, com 4 anos de idade, foram 15 vitórias; na Alemanha, Áustria, Hungria, Inglaterra e França.

De tal forma que angariou destaques ao longo da carreira. Em 1988, se destacou por vencer os clássicos Goodwood Cup, Grand Prix de Deauville e o Grosser Preis von Baden. Nessa última, mantêm o recorde de três vitórias (1877, 1878, 1879). Em 1879, em seu último ano como corredora, venceu 12 corridas. Todas elas na Alemanha, Áustria e Hungria.

Então, em 1880, com 6 anos, ela estava pronta para iniciar a temporada: dia 6 de maio em Bratislava. Mas foi retirada da corrida pela alegação de que tinha sofrido uma lesão logo após um coice de outro animal no estábulo. Em resumo, esmo se recuperando da lesão depois, Blaskovich decidiu aposentá-la.

Ilustração de Kincsem no Goodwood Cup, Inglaterra – Foto: Divulgação/The Vault Horse Racing

Legado

Kincsem significa ‘meu tesouro’ em húngaro. Porém, enquanto potra foi considerada o ‘patinho feio’ que acabou se tornando o ‘cisne’ das pistas. Até mesmo o Príncipe de Gales tentou comprá-la, de acordo com Phillipp Alles. Entretanto, Ernst von Blaskovich recusou. Disse ao futuro rei: “se eu vendesse Kincsem, não me atreveria a retornar ao meu solo nativo”.

Kincsem tem um filme em sua homenagem, chamado ‘Kincsem: Beton Revenge (2017). Além de uma estátua na entrada do Jockey Clube de Budapeste. Aliás, o local leva seu nome: Kincsem Park.

Conforme narração, Horace Wade discorre sobre o roubo de Kincsem pelos ciganos. Indagados, então, sobre o motivo de roubar um animal tão ‘simples’, disseram: “o ouro cigano não tilinta e brilha. Ele brilha ao sol e relincha no escuro. Esta potranca pode não ser tão bonita quanto as outras, mas será a maior de todas”.

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, conta a história de Kincsem, o cavalo húngaro com maior índice de vitórias em corrida
Estátua na entrada do Kincsem Park, em Budapeste – Foto: Divulgação/Kincsem Park

Personalidade 

Kincsem costumava caminhar até o início da raia parecendo ‘uma velha garota com artrite reumatóide’. Orelhas e pescoço balançando. Certo dia, ela não estava realmente pensando em correr, como lembra seu jovem jóquei, Elijah Madden. Natural de Manchester, na Inglaterra, que a montou em 42 de suas corridas, ele confessaria mais tarde: “na verdade, ela estava pensando em pastar”.

No início, Kincsem encontrou um terreno suculento e começou a mastigar. Depois de repetidas tentativas de colocá-la na linha, o titular desistiu e deixou-a ir ao campo. Kincsem apenas ficou lá, mastigando pensativamente e observando os outros cavalos se afastarem.

Então, de repente, pareceu decidir que era hora de se mexer e foi atrás do jóquei. Ela venceu com facilidade – alguns disseram com a boca cheia de grama ainda pendurada no lábio – e a multidão foi à loucura. (The Vault Horse Racing)

REFERÊNCIAS

https://thevaulthorseracing.wordpress.com/

http://www.tbheritage.com/Portraits/Kincsem.html

http://www.bloodlines.net/EETH/Bios/Kincsem.htm

https://www.allbreedpedigree.com/kincsem

https://en.wikipedia.org/wiki/Kincsem#Legacy

Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador |
Campeira Dom Herculano
Crédito da foto de chamada: Divulgação/Wikimedia Commons

Veja outras notícias no portal Cavalus