Existem duas formas de treinar um cavalo, mas apenas uma de agir corretamente

Claudia Ono fala em sua coluna da semana que só há uma forma de agir corretamente e ela começa no respeito

Todos os animais, isso nos inclui, podem ser ensinados e treinados de duas maneiras básicas: com pressão excessiva ou com alívio da pressão. Assim, existem duas formas de treinar um cavalo, mas apenas uma forma de agir corretamente. De tal sorte que vou dar um exemplo do que seria cada um e quais as consequências de ambos.

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1- Pressão excessiva e castigos

Os cavalos podem ser treinados e doutrinados a temer tanto uma situação que optam por se submeter a qualquer coisa para não passar por isso.

Podemos congelar as reações dos cavalos, assim como fazer com que temam a nossa presença e a represália. E nem será preciso bater ou ferir.

Isso desde a doma. Portanto, imagine um potro, um filhote, sendo domado. Ele teme tudo, pois nada daquilo estava nos planos dele.

Podemos amarrar esse potro a um poste, colocar a sela e deixar que ele estire até não aguentar mais. Porque uma hora ele vai desistir e parar.

Pronto, ele já entendeu que não pode demonstrar medo. Ou seja, entendeu que somos uma ameaça mais forte do que seu poder de fuga.

Depois disso vamos montar esse potro. Ele vai pular e nós não vamos cair. Se por acaso cairmos, vamos chicotear e montar novamente. Ao propósito, de cima dele vamos aplicar muitas chicotadas e esporadas.

Seu cavalo vai desistir novamente e assim seguimos aplicando tanta pressão quanto for preciso para fazer esse potro desistir de se expressar

Nos Três Tambores, quando ele errar e passar do ponto, vamos dobrar seu pescoço e puxar muitas vezes as rédeas batendo a embocadura no seu maxilar. Não corta, mas causa dor.

Enquanto isso acertamos algumas muitas esporadas em suas costelas e paletas. Pronto, esse cavalo já sabe que se sair um fio da risca colocaremos muita dor como castigo.

Por outro lado, em outro momento, achamos que ele está de sacanagem trabalhando mal. Dessa forma, o colocamos ao redor de um tambor fazendo girar durante muito tempo. Castigo aplicado no meio do percurso. Ele perde a segurança.

Saímos para passear na estrada com esse cavalo e ele se assusta com um saco plástico na estrada. Então, damos reiadas e esporadas até ele chegar perto do saco. Sem dúvida, ele chega tenso e tremendo. Mais algumas esporadas. Pronto, ele chegou e parou. Viu que o saco não é perigoso? Não, ele viu que a peça de cima é a mais perigosa que há.

Depois de um ou dois anos esse cavalo se torna ansioso, tem medo de entrar na pista, não quer partir. Mais pressão e ele entra e parte. Até um dia em que ele não poderá mais. Não terá mais energia emocional para trabalhar.

Esse cavalo só pensa em correr, ele não trota mais. É um cavalo que passa reto pelo tambor. Nega o giro. Por fim, será descartado porque não tem solução, é um cavalo ruim.

Claudia Ono fala em sua coluna da semana no portal Cavalus que só há uma forma de agir corretament com o cavalo e e ela começa no respeito

2- Alívio da pressão

Aquele mesmo potro do começo desse artigo. Agimos como alguém de seu grupo e ele passa a confiar. De fato, trabalhamos do chão em um redondel ou guia mostrando os primeiros movimentos.

Ele se assusta com novos objetos. Então, colocamos esses objetos espalhados pelo redondel. Sobretudo, ele trabalha na guia e se habitua a essas novidades. Como resultado, ele mesmo chega perto dos objetos para cheirar e observar e logo vê que não oferecem perigo.

Um desses objetos é a sela. Desse modo, mostramos que ele não corre riscos e colocamos a sela. O cavalo não se sente pressionado, sabe que não corre riscos. Por isso não pula.

Montamos em etapas. Em primeiro lugar, o cavalo se acostuma com a sela em movimento. Em seguida, com um pouco do nosso peso em um estribo. Por consequência, trabalhamos aos poucos, sem sustos.

Os cavalos são extremamente inteligentes e logo aprendem o que queremos. Em outras palavras, também aprendem em quem confiar.

Seguimos nosso exercício de aprendizado. Cavalos temem antes de qualquer coisa. São programados a temer e fugir para um local seguro.

A pista pode ser um local de segurança e a sua presença também. Levamos nosso cavalo para o percurso e ele ainda não sabe nada. Ensinamos a ele.

Assim, mostramos o que fazer e ele acerta ou erra. Repetimos mostrando como fazer. Então, ele acerta e damos a ele o descanso.

Pronto, seu cavalo aprendeu que fazendo daquela forma ganha o maior dos prêmios que um cavalo almeja: o descanso, o alívio

Saímos para dar uma volta pela estrada. Eventualmente, o cavalo se assusta com a sacola plástica. Relaxo na sela. Não olho para ele nem para a sacola.

Dessa forma ficamos parados por alguns segundos. A sacola lá. Incentivo ele a dar um passo. Titubeia, mas dá um passo. Relaxo. Incentivo mais um passo, ele dá dois.

Cheira a sacola. Já viu que não é nada demais. Sente-se seguro e sabe que sacolas não são nada demais.

Depois de um ou dois anos este cavalo será a minha dupla. Somos um baita conjunto. Ele cada dia mais seguro. Eu cada dia mais confiante na capacidade dele.

É um cavalo que se expressa o tempo todo. Sabe agir no nosso grupo e sabe que está seguro dentro dele.

Esse cavalo será cada dia melhor. Trabalhar é interessante e uma chance de agir comigo, seu grupo.

Entra na pista, olha o tambor. Sabe que vai correr, orelhas em pé atentas ao próximo passo. Partimos e ele melhora a cada passada. Vamos juntos por mais uma década pelo menos.

A empatia e a inteligência sempre trará o melhor dos cavalos, assim como traz o melhor de nós mesmos.

Só há uma forma de agir corretamente e ela começa no respeito: ao indivíduo, às diferenças e à natureza alheia. Respeitar.

Por Claudia Ono
Três Giros
Crédito das fotos: Reprodução/Facebook

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