Fotografia de cavalos revela mais do que a imagem em si

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, comenta em sua coluna da semana os desafios de ser um criador de cavalos e todos os seus deveres

Nos últimos anos, o uso da tecnologia para os negócios envolvendo o cavalo se tornou ferramenta indispensável. Fotografia de cavalos em celulares, computadores, máquinas, aliadas com as redes sociais, aplicativos de mensagens e sites acabam favorecendo nos negócios.

Uma fotografia, um vídeo, um print da árvore genealógica dos animais tudo ajuda na hora dos negócios. E quantos negócios são feitos através destes canais? Animais enviados do sul para o norte, de leste a oeste. Tudo por causa de um vídeo ou uma simples foto.

Contudo, o negócio pode ser injusto, afinal, o que está por trás de uma fotografia de cavalos?

Uma história

Precisava de uma fotografia do tipo para ‘catálogo’. Até poderia ser com o meu celular, utilizando os aplicativos de cortar aqui, girar ali, até dar uma editada, colocar uma música de fundo, etc. Vamos aprendendo a lidar com isso.

Mas, decidimos contratar um fotógrafo, já que eu queria ver aquela baita máquina fotográfica fazendo ‘o registro. Não seria qualquer fotografia.

Assustei com o preço, mas contratei o serviço, pois sabia que era um bom profissional. Valeu cada centavo! A foto ficou linda, com brilho, contraste, luz, cor, e todas as coisas que o fotógrafo explicou.

O interessante foi uma das falas dele, quando perguntei sobre o trabalho. Ele me disse: “é tranquilo”.

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Por trás de uma fotografia de cavalos

Não, não é tranquilo. Uma fotografia pode ser só uma fotografia, mas o que está por trás dela ninguém imagina. Somente o criador tem ideia o que significa aquela imagem ou vídeo. Anos de trabalho e planejamento.

Começa antes mesmo do animal nascer. Planejamento do garanhão, qual utilizar, comprar coberturas, ir buscar o sêmen debaixo de temporal, expectativa da fecundação, foi absorvido ou não, veterinário indo e vindo dentro da propriedade. Enfim está em gestação.

A partir daí é marcar 11 meses, sim 11 meses de dedicação, alimentação, suplementação, exames, medicamentos, cuidados para não perder a cria, e com todos os cuidados ainda assim perdemos o embrião ou o feto. Recomeçamos tudo novamente, pois somos criadores. Dedicamos nossa vida à criação de cavalos. Faz parte.

Nasceu, tudo certo. Curar umbigo, ajudar nos primeiros passos, torcer para as onças não comerem o potro, e assim vai 7 meses até o desmame. Todos os dias vendo e cuidando, curando algum ferimento, tosando o animal, ensinado o uso do cabresto, tirando algumas cócegas, técnicas de imprinting, etc.

Desmamando, agora pensamos no futuro do potro. Vamos vender, vamos ficar, vai pro Laço, vai pro Tambor, o que vamos fazer com esse bichinho? Vamos vender, pois somos criadores, começamos a prepará-lo. Venderemos com 1 ano ou 2 anos? Tanto faz o trabalho é o mesmo, a dedicação é a mesma, o que muda é o tempo dedicado a criação do animal.

Exercícios, alimentos, água, baia, raspa, banho, enxuga, limpa cocheira, põe cepilho, tira cepilho, sal mineral; cura alguns ferimentos, suplementos, faz os cascos, minha nossa, e isso é todo dia.

Luciano Rodrigues, cavaleiro e pesquisador, comenta em sua coluna da semana os desafios de ser um criador por trás da fotografia de cavalos

Criador não tira férias

Algumas são duas ou três vezes no dia, não tem feriado, não tem sábado nem domingo. Não tem descanso, é uma vida, precisa comer, beber, dormir.

Em casa temos que organizar quem viaja, nunca a família viaja junto, alguém tem que ficar cuidando.

Por fim, temos o animal que achamos estar no melhor nível, no melhor momento. Organizamos o leilão, para quem será vendido ou até para uma publicação no Instagram ou Facebook.

Chega o fotógrafo. “É tranquilo”, ele fala. Não, não é. O talento dele não se discute, claro. Mas para nós foram 2 anos e meio até 3 anos de muita dedicação dia e noite, com chuva ou sol, todos os dias dos anos. Uma fotografia não poderia validar toda a dedicação para um animal. É injusto.

Mas somos criadores, fazemos por gosto e amor, às vezes somos recompensados pelo que fazemos, mas muitas vezes empatamos o negócio. É nosso ofício e amamos o que fazemos.

 Colaboração: Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Cavaleiro e Pesquisador |
Campeira Dom Herculano
Crédito da foto de chamada: Divulgação/Pexels

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