Haras Al Ventur e a busca pelo ‘tipo’ ideal do cavalo Árabe

Criatório aposta em Abbas Al Ventur como o garanhão que irá imprimir para a tropa algo único, unindo qualidade e pedigree

Quando iniciou a criação de cavalos da raça Árabe no Haras Al Ventur, localizado em Sorocaba/SP, Eduardo Gama não imaginava que conseguiria rapidamente atingir suas metas. A princípio, eram de criar um campeão nacional e exportar um animal que tivesse condição de ser campeão internacional. 

Por conta disso, Eduardo logo precisou redefinir o foco de sua criação. Assim, atualmente, o proprietário busca criar animais que as pessoas consigam, facilmente, reconhecer no pasto como sendo um exemplar que saiu do Haras Al Ventur, ou seja, o “tipo” ideal do cavalo Árabe.

“Como sonhar não tem limite e eu costumo focar naquilo que eu sonho, o que eu quero, de verdade, é criar um “tipo”. Creio que para isso acontecer é indispensável um garanhão. Um cavalo que consiga transmitir para a tropa algo único, algo que só ele tenha, unindo qualidade e pedigree”.

Nessa busca, o criatório aposta em Abbas Al Ventur (Halyr Meia Lua x Emozione Al Ventur). Afinal, recentemente, o jovem garanhão se tornou campeão Potro, por decisão unânime, da Exposição Internacional do Cavalo Árabe, que foi realizada em Indaiatuba.

“Foi um título importante por diversas razões. Primeiro, porque ele ficou extremamente nervoso nas cocheiras do parque a ponto da gente chegar a pensar que não teria condições físicas e psicológicas de entrar na pista”, lembra Eduardo.

Eduardo Gama com o Abbas Al Ventur

Como consequência, Abbas chegou a perder mais de 50 quilos em três dias por não dormir, não comer e só se hidratar através de soro. Inevitavelmente, isso afetou o corpo e as forças dele na apresentação. Mesmo assim, Dejair Silvestre soube conduzi-lo para a vitória da melhor maneira possível.

Superação de Abbas Al Ventur

Ademais, outro ponto que também marcou bastante a vitória do jovem garanhão foi o fato dele ter ficado em primeiro lugar entre 10 animais, incluindo o atual campeão nacional. “[Abbas] ele é fruto de tudo de melhor que eu já criei e já apostei. Ele é o descendente macho em produção no Brasil de uma das éguas brasileiras mais importantes e ganhadoras nos últimos anos, a Honey’s Delight RB”.

Eduardo Gama e a filha Isabel após Abbas Al Ventur ganhar a Internacional do Cavalo Árabe

Contudo, para que a próxima meta do proprietário também seja alcançada, Abbas vem sendo condicionado pela Estância Monte Verde, de Acácio Franco. Segundo Eduardo, Acácio é, com certeza, uma das pessoas mais experientes e capacitadas para lidar com cavalo Árabe que tem no Brasil.

“Antes de mais nada, vale lembrar que foi ele [Acácio] quem administrou e cuidou do Haras Meia Lua, que é referência mundial na criação de árabe durante 50 anos”, enfatiza o criador do Haras Al Ventur que já está cobrindo suas éguas com Abbas.

Portanto, para 2020, Eduardo planeja levar o jovem garanhão para disputar o Campeonato Cavalo Jovem na próxima Exposição Nacional do Cavalo Árabe.  “Achamos ele um cavalo muito competitivo e sabemos da força do sangue que ele tem quando entra numa pista”.

Outros animais de destaque

Além de Abbas, outros animais se sobressaem no plantel do Haras Al Ventur. Entre eles está Esperanzza Al Ventur, que foi adquirida por um dos maiores haras do mundo que fica na Arábia Saudita. “Apesar de sair daqui muito jovem, foi campeã nacional Mirim unânime”.

Esperanzza Al Ventur foi campeã da All Nations Cup em 2013

Depois, na Europa, Esperanzza foi campeã da All Nations Cup, em Aachen, na Alemanha, que é a segunda exposição mais importante que existe na raça. Além disso, ainda foi reservada campeã do Campeonato Mundial em Paris, na França, que é o suprassumo das exposições da raça árabe no planeta.

Irmã inteira de Esperanzza, Emozione Al Ventur também se destaca. Como a irmã, ela foi exportada para um importante criatório e já disputou os maiores shows, estando sempre as melhores colocadas. “Ainda é jovem e já produziu campeã no oriente e campeão no Brasil”, acrescenta Eduardo.

Além delas, o proprietário também destaca Paladino Al Ventur,  que foi campeão nacional Mirim, e Alma Al Ventur, égua campeã nacional chilena.

Por fim, Eduardo não poderia esquecer de mencionar Renee El Jamaal, a égua de 17 anos com quem viveu momentos importantes de sua vida e hoje fica solta no jardim da sua casa. “Ela já foi campeã nacional e é de criação da maior criadora de cavalos que o Brasil já teve, minha grande amiga que eu jamais esquecerei Lenita Perroy.”

Eduardo Gama com a Renee El Jamaal de 17 anos

Início da criação do Haras Al Ventur

O primeiro contato de Eduardo com o cavalo Árabe aconteceu muito cedo. Afinal, o pai e o tio já criavam a raça, no Haras Kurumim. Portanto, ele, a irmã e os primos costumavam passar os fins de semana e as férias na fazenda. “Nós éramos em cinco crianças, sendo eu o mais novo. Porém, eu já era entre nós o que mais gostava de ficar perto dos cavalos e mais me identificava com eles”, lembra.

Contudo, quando Eduardo tinha 10 anos de idade, a família parou a criação. Assim, os anos se passaram, mas a paixão dele pelos cavalos não. Tanto que, em 2006, o seu pai lhe fez uma proposta irrecusável que, inesperadamente, acabaria resultando no início da sua criação.

Aos 4 anos, Eduardo com uma égua Árabe de criação do Haras Kurumim

“Quando eu comprei uma moto Harley Davidson, meus pais ficaram preocupados. Daí eles me ofereceram uma pequena propriedade rural em troca da moto. A condição era de que eu nunca mais tivesse uma moto novamente. Isso, imediatamente, me remeteu a cavalo. Eu entreguei a moto no mesmo instante e assumi a propriedade”.

Mas para dar o pontapé inicial na criação, Eduardo convidou o seu pai para criar junto com ele e, assim, começaram a montar o plantel baseado no que ele conhecia. “Nessa montagem, meu pai se encantou pela égua Honey’s Delight RB, de criação do Haras das Cascatas. E por um garanhão que pertencia a um condomínio chamado Fa El Shawan. Ficamos com essa égua e compramos 10 coberturas desse cavalo. Isso acabou sendo um divisor de águas na nossa criação”.

Tanto a égua quanto o cavalo acabaram sendo campeões no Brasil e nos Estados Unidos das competições mais importantes, ainda segundo Eduardo. 

Equipe do haras

O Haras Al Ventur funciona em uma propriedade de dois alqueires, em Sorocaba/SP.  Atualmente, apenas três pessoas trabalham no criatório, Eduardo, a sua esposa Camila que é médica veterinária pós-graduada em reprodução equina e mais um ajudante geral.

Como apresentador para pista, Eduardo tem títulos conquistados com o Rodolfo Guzzo, Dejair Silvestre e Rinaldo Longuini. “Três apresentadores do mais alto nível. Aliás, o Brasil está muito bem servido de apresentadores, temos vários que apresentam e são ganhadores das mais importantes exposições no mundo”, garante.

Eduardo Gama e a esposa Camila grávida em 2015 junto com a Emozione Al Ventur exportada para os Emirados

Além deles, quase toda a família também está envolvida com a criação. Alguns diretamente e outros indiretamente. “Meu pai é um apaixonado como eu, curte demais os nascimentos e resultados nas pistas e é, sem duvida, quem mais me ajudou a trazer a criação até aqui”.

Representatividade do cavalo Árabe

Para seguir em busca do seu sonho criando a raça, Eduardo deixou para trás a sua vida agitada, urbana e profissional como empresário em São Paulo para morar no haras, há oito anos. Nessa jornada, a esposa de Eduardo foi a sua maior companheira.

Leia mais notícias sobre o cavalo Árabe

“Eu mudei minha vida pelo cavalo árabe. Inclusive, eu costumo dizer uma frase de uma obra de Willian Shakespeare, ‘Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo…’ Eu me identifico com essa frase por ter trocado “meu reino” pela convivência com os cavalos”, finaliza.

Por Natália de Oliveira/Equipe Cavalus
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal/Eduardo Gama