Domar cavalos é um trabalho nobre. Sem dúvida, quase uma arte. E que merece todo reconhecimento dada sua importância na vida de um cavalo que vai iniciar seu treinamento. No quesito doma, qualquer pessoa aprende o ofício. Mas, poucos têm o dom.
Sobretudo, cada domador tem um método. Quer seja pelo dom, quer seja pelo esforço do aprendizado, cada método tem seus méritos, finalidades e objetivos. Cada treinador, por sua vez, gosta que seus cavalos sejam iniciados de certa maneira. Tem uma filosofia de trabalho e um programa de treinamento.
Eu, por exemplo, já tentei muitas vezes domar potros, só que nunca completo o processo. Acho que eu até aprendi a doma pelo tanto de vezes que tentei. Seja como for, ainda tenho medo. E não tenho o dom, definitivamente.
Três fases da doma
Da forma como eu enxergo, e isso é só teoria da minha cabeça com base no que eu aprendi, a doma tem três fases:
1 – o trabalho de chão, com e sem sela;
2 – com sela, quebrar o potro e amansar;
3 – levar para fora ou para a pista, e ter controle dele.
Entendo, então, que tudo além disso já diz respeito a treinamento. Aliás, abro um parênteses aqui para dizer que nesse caso estamos falando de cavalos de performance, de genética apurada, características aperfeiçoadas, que já tiveram dois anos de manejo. Não de cavalos semi-selvagens, de índole duvidosa e comportamento repulsivo.
Trabalho de chão, na minha humilde opinião, com os animais que trabalhamos hoje em dia, é introdutório. Uma apresentação de sela e cavaleiro ao cavalo, futuros parceiros, melhores amigos inseparáveis.
Não uma punição, castigo ou sofrimento, para o que eles ainda sequer fizeram de errado. Estão aprendendo. E são incrivelmente receptivos a tudo que são solicitados a fazer.
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Praticidade da doma
Feita essa ressalva, afirmo que eu acredito na praticidade da doma. Tá, você que está lendo pode até pensar quem sou eu pra falar de doma? Compreensível. Mas nunca disse que eu era boa nisso. O que não me impede de ter opinião sobre o assunto.
Uma opinião formada com base no que eu vi meu pai fazendo ao longo dos anos (só eu tenho 33, sim, 33! Ele tem mais uns tantos anos de cavalo). No que ele ensinou outras pessoas a fazer, no que ele pede para quem doma para ele fazer. Ou no que ele me ensinou e eu tentei fazer. E, por fim, no que vi outras pessoas fazendo.
Portanto, o trabalho de chão é importante para introduzir o processo, sem dúvida. Mas ele tem que ter um propósito dentro do treinamento, que convenhamos, é feito montado, obviamente.
‘Quebrar’ o potro para mim significa fazê-lo entender os comandos de controle básicos, respeitar o que lhe é pedido por quem está em cima dele. E, depois disso, fazer o mesmo na pista. Para, então, iniciar o processo de treinamento propriamente dito. Sem violência e sem exaustão, que também é uma forma de violência, embora quem a pratique não admita.
Marco
E falando de doma, eu queria mesmo era falar do Marco. Ele é um daqueles que têm o dom. Dá gosto de vê-lo mexer num potro. Sente cada movimento, sem medo. Conversa com o potro.
E não importa o quanto o animal resista ou se assuste, ele consegue fazer o potro entender o que ele quer. Mexendo um potro do chão, mais parece uma dança. Uma dança linda de admirar, de ver progredir, de ver finalizar numa relação de confiança e entrega absoluta.
O Marco é conhecido na região [de Avaré] pelo apelido ‘Amarelo’. Ele treina cavalos para o pessoal aqui e corre provas de Laço Comprido. Reconhecido como um grande cavaleiro. Há anos ele doma pra gente e confiamos absolutamente nesse trabalho que ele faz com maestria.
Mexeu em seis potros nossos de 2 anos, cinco vezes no total, não consecutivas. Um dia numa semana só trabalhou do chão, dessensibilizou. Em seguida, na semana posterior (porque choveu) colocou sela no redondel. E mais dois dias montou na pista de boi, de dois em dois.
Eu, que sou a medrosa, monto em qualquer cavalo que ele mexeu, porque confio no que ele faz. No meio do ano passado, montei nos potros que ele iniciou. Selei nas baias com ajuda do Marcelo, rodei, quebrei do chão, montei, trotei, guiei e galopei. Só fiz isso porque ele não pode vir mexer nos potros, e vou falar disso em outro post.
Nesse artigo, quero só mandar um salve para quem tem o dom, como o Marco. E também para quem aprendeu a fazer isso bem, um trabalho tão essencial e nobre, que é a base de todo esse universo dos cavalos de performance que tanto amamos.
Colaboração: Karoline Rodrigues/Plusoneandahalf
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
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