Na primeira parte da entrevista com o André G. Cintra, os leitores puderam conhecer como surgiu a sua paixão pelos cavalos. Agora, ele fala de seus trabalhos como escritor de livros que se tornaram referência nos cursos pelo Brasil afora. “Tenho muito orgulho de ser referenciado ao lado de autores e trabalhos com muita relevância no meio equestre”, comemora.
Leia a primeira parte da entrevista com André G. Cintra neste link.
Confira a segunda parte do bate papo.
Como surge o André G. Cintra escritor?
Bom, vou começar falando sobre “O Cavalo…” que nasceu ainda dentro da indústria, quando sempre me questionavam para indicar um livro para aprenderem mais sobre cavalos. Sem nenhuma arrogância, os livros do mercado não me agradavam, pois foram escritos do ponto de vista de como o homem acha que um cavalo deve ser tratado, com sistemas que buscam maximizar a produtividade do cavalo, com baixíssima preocupação com o indivíduo. Exceção feita ao livro do hoje amigo e parceiro no segundo livro, Prof. Sérgio Lima Beck, profissional renomado e autor do primeiro livro que comprei sobre cavalos, em 1985, que efetivamente se preocupava com suas particularidades.
Minha maior satisfação pessoal foi quando Sérgio me convidou para ser co-autor do meu segundo livro “Manual de Gerenciamento Equestre…”, um livro rico em tabelas e planilhas para auxiliar no dia a dia de fazendas, haras e centros hípicos.
Podemos chamar o “O Cavalo: características, manejo e alimentação” de manual?
Eu pensei: “se não há nada que eu possa indicar (o livro de Sérgio estava esgotado), tenho a obrigação de escrever um com o que acho pertinente”. E assim nasceu o livro, em 2000. E respondendo a questão, sim, como um Manual, cuja ideia era ser publicado gratuitamente aos clientes pela empresa onde trabalhava. Mas a insatisfação constante com o conteúdo sempre me levava a ampliar e reescrever e assim o Manual foi sendo postergado até que saí da empresa e o projeto foi engavetado.
Quando em 2004 iniciei as aulas na universidade (por 18 meses como professor convidado e a partir de 2005 como efetivo) deparei-me novamente com a necessidade de literatura para indicar aos alunos, tendo então desengavetado o projeto, agora com intuito mais técnico e bem mais elaborado, o que, obviamente, exigiu mais dedicação e aprofundamento.
E quando ele, de fato, saiu?
Finalizei-o em 2007 e saí em busca de editoras interessadas, tendo sido aceito para publicação pela Editora Roca. Em razão de possuir mais de 700 fotos coloridas, sua editoração demorou quase 3 anos, tendo sido enfim publicado em 2010. Hoje está em sua 6ª reimpressão, tendo sido adotado por mais 40 instituições públicas e privadas de todo o país como literatura básica na equinocultura. Com grata satisfação, sou constantemente agraciado com a notícia de professores de instituições de ensino renomadas que o usaram para estudar para o concurso público de ingresso e, obviamente, o adotaram como livros de suas disciplinas.
Como surgiu o convite do Prof. Sérgio Beck para a parceria em “Manual de Gerenciamento Equestre”?
Após a publicação deste primeiro livro, o Prof. Sérgio Beck estava a escrever o “Manual de Gerenciamento Equestre…” e, lendo “O Cavalo…” me agraciou com o convite de partilhar com ele a autoria, publicado em 2012. Passei então de leitor e admirador deste profissional a seu co-autor em seu quarto livro.
E a ideia para o livro “Alimentação Equina: nutrição, saúde e bem-estar”?
Meus alunos de cursos e palestras insistiram para eu escrever mais sobre nutrição. Sempre estive insatisfeito também com os livros deste tema, todos altamente técnicos e nem sempre com linguagem acessível, além de serem todos de origem estrangeira, não atendendo a particularidades do mercado brasileiro. O livro “O Cavalo…” é dividido em duas partes, sendo que na segunda abordo de forma simples a questão de manejo e alimentação, porém estava aquém do que o mercado necessitava.
Sendo assim, partindo da parte II do livro “O Cavalo…” surgiu o meu terceiro livro, “Alimentação Equina: nutrição, saúde e bem-estar”, livro mais técnico, com muitas referências do Brasil na produção de forrageiras e concentrados, além de conter muitas pesquisas do país e exterior sobre as necessidades dos cavalos, nas mais diversas categorias, tendo sido publicado pela primeira vez em 2016. Hoje em sua segunda reimpressão.
Qual é o sentimento de ver seus livros sendo recomendados pelos cursos? Eles se tornaram referências.
Somos muito gratos pela confiança de diversos profissionais de campo e da docência que o utilizam e recomendam a seus alunos de graduação e pós-graduação como fonte confiável sobre o tema nutrição equina. Talvez a maior gratificação nesse quesito seja, ao nos aprofundarmos em trabalhos e pesquisas que constantemente fazemos, vermos nossos trabalhos sendo referenciados ao lado de autores e trabalhos com muita relevância no meio equestre.
Além dos livros, você também é autor do DVD “Pelagem, Exterior e Resenha dos Equinos”. Como foi esse trabalho?
Esses três temas são capítulos do livro “O Cavalo…”. Fui então procurado pela empresa VideoPar, de Curitiba (PR), que tem muitos títulos na área equestre disponível em vídeo, e eles tinham o desejo de ampliar o foco. Fizemos esse DVD para auxiliar os colegas profissionais a, de maneira sintética, buscar normatizar o conceito de pelagem, ainda amplamente discutido e debatido mundo afora, pois é um tema complexo especialmente quando se fala da genética. Esse tópico, aliás, não abordo no DVD nem no livro, pois até hoje novos trabalhos demonstram novos genes sendo descobertos como responsáveis pelas características de pelagem dos cavalos.
A partir do próximo mês, esses três temas estarão disponíveis para aquisição e acesso em plataforma on-line, da VetHorse Academy, de Curitiba, nossa parceira em cursos presenciais e agora, virtuais também.
Dentre a sua vasta obra, quais trabalhos você destacaria como mais importantes?
Nossa, tanta coisa se passou em minha vida profissional que fica difícil dizer “o” mais importante. De absoluta relevância, considero os três livros, os quase 20 anos de docência, tendo ministrado aulas na pós-graduação de diversas instituições públicas no Brasil e mesmo na Argentina (com convite para, ao final deste ano, ministrar no Chile), além de ter confeccionado dieta para cavaleiros de renome internacional das modalidades de Salto, Rédeas e Enduro, tendo trabalhado com recomendações em praticamente todas as modalidades equestres e raças de cavalos do Brasil.
Mas o que mais de deixaria orgulhoso dentro dessa sua vasta trajetória? Conseguiria escolher um?
Tenho um gosto especial de, em 1999, ter feito a dieta do cavalo Aspen, do Doda Miranda, quando esteve em temporada no Brasil para competir no Paulista e Brasileiro de Salto, tendo se sagrado campeão em ambas as competições, além é claro, de acompanhar de muito perto a equipe olímpica de CCE para a Olimpíada de 2000, em Sydney.
Aliás, de que forma surgiu o convite para fazer dieta dos cavalos que participaram da equipe olímpica em 2000?
O convite foi mais de forma empresarial. À época, eu era gerente de uma multinacional com sede na França e tínhamos, entre nossos clientes, o Gustavo Pagotto, cavaleiro de CCE que constantemente disputava vaga na equipe olímpica, frequentemente com sucesso. Soubemos, por meio dele, que a equipe olímpica estava sendo montada de forma altamente profissional, com treinador de renome, uma série de seletivas em MG, RJ e SP, altamente exigentes e que, como ele, outros competidores estavam desejosos de um acompanhamento mais de perto de seus cavalos.
E como foi essa preparação?
Era mais exigente, pois incluía uma temporada de quatro meses na Europa, onde as competições são mais fortes. E assim, conversando com a equipe técnica e os cavaleiros durante as seletivas, surgiu a ideia de fazermos uma dieta específica, pensando no cavalo, com uma ração que atendesse às exigências dos animais e que poderia ser ofertada aqui no Brasil, na Inglaterra e, se os cavaleiros conseguissem incluir na bagagem, até mesmo na Austrália. Acompanhamos então de perto os cavaleiros aqui no Brasil e a distância na Inglaterra e Sydney, tendo saboreado, com grata satisfação, a melhor colocação do Brasil no CCE em todas as Olimpíadas.
Por Wesley Vieira/Portal Cavalus
Foto: Divulgação/André G. Cintra
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