Tailândia registra surto de vírus que causa a morte de cavalos

Doença do cavalo africano (AHS) causa problemas cardíacos e pulmonares graves que matam, pelo menos, 70% dos cavalos infectados

A Tailândia, que já luta contra a disseminação do novo coronavírus (COVID-19), agora enfrenta outro surto viral mortal. No entanto, neste caso o vírus não afeta o homem, mas, principalmente, cavalos. Tanto que o país já registra centenas de mortes da espécie. 

De acordo com a imprensa tailandesa, trata-se da doença do cavalo africano (AHS, sigla em inglês). O vírus infecta cavalos, burros e zebras e é, normalmente, transmitido por mosquitos Culicoides que vivem em climas quentes e tropicais. 

Acima de tudo, o vírus causa problemas cardíacos e pulmonares graves que matam, pelo menos, 70% dos cavalos infectados. Contudo, poupa zebras e a maioria dos burros, que, na verdade, atuam apenas como hospedeiros do vírus, explica o epidemiologista do AusVet Animal Health Services, da Austrália, Evan Sergeant.

As opções de tratamento são limitadas, principalmente, aos cuidados paliativos. Assim, a eutanásia acaba sendo recomendada devido à brutalidade da doença – que causa febre alta, olhos inchados, dificuldade em respirar, narinas espumosas, sangramento interno e até morte súbita.

Por conta disso, os proprietários de cavalos da Tailândia estão mantendo seus animais em ambientes fechados com redes, longe dos mosquitos que espalham o vírus. Alguns cientistas suspeitam que as zebras, importadas da África, levaram ao surto na Tailândia, mas precisamente nos distritos de Pak Chong e de Hua Hin, que são as áreas mais afetadas até o momento.

Início do surto

O surto na Tailândia pode ter começado no final de fevereiro, com a inexplicável morte de um cavalo de corrida no distrito de Pak Chong, perto de Bangcoc.

No final de março, depois das chuvas que podem ter ajudado as populações de mosquitos Culicoides a florescer, mais de 40 cavalos, repentinamente, morreram, segundo a veterinária do Departamento de Desenvolvimento de Animais da Tailândia (DLD), Nuttavadee Pamaroon.

Assim, as autoridades veterinárias tailandesas ordenaram o teste de AHS e congelaram imediatamente todos os movimentos dos cavalos. “Não somos apenas nós que fomos trancados por causa do COVID”, diz Pamaroon. “Os cavalos estão agora trancados também.”

Inegavelmente, o surgimento repentino da doença, longe de sua casa endêmica na África subsaariana, surpreendeu as autoridades veterinárias tailandesas. Segundo a última atualização oficial do DLD, feita no dia 10 de abril, há o  registro de 192 mortes de cavalos em 37 fazendas de corrida, esporte e lazer.

Mas, de acordo com uma fonte que trabalha em estreita colaboração com o DLD que falou sob condição de anonimato, um total de 302 mortes foram declaradas a autoridades em 14 de abril e os números ainda estão aumentando.

Testes e vacinação

A única vacina comercialmente disponível contra a AHS é baseada em uma versão viva e enfraquecida do vírus que, às vezes, produz sintomas leves e pode até se espalhar para outros cavalos.

Ainda assim, erradicou com sucesso surtos anteriores, de acordo com o entomologista do Laboratório Pirbright, no Reino Unido, Simon Carpenter. “Não é uma vacina ideal”, diz ele. “Mas não é tão ruim quanto a própria doença.”

Portanto, as autoridades veterinárias estão solicitando testes e vacinação de cavalos livres de doenças em uma zona a 50 quilômetros do local do surto inicial. Como a vacina pode criar surtos próprios, cada cavalo vacinado deve ser mantido sob “redes individuais estritas”, diz Siraya Chunekamari, veterinária equina de Bangcoc que trabalha com o DLD para gerenciar o surto.

Efeitos econômicos do surto de AHS

Nesse sentido, o governo tailandês está oferecendo subsídios para testes e vacinas contra AHS, aliviando os encargos financeiros para os proprietários já afetados pelos efeitos econômicos da pandemia de coronavírus.

Nopadol Saropala, médico que também administra uma empresa que oferece passeios a cavalo em Pak Chong, perdeu 17 cavalos para a AHS até agora. Por conta disso, ele ingressou na força-tarefa do DLD.

“Muitos de nós já possuímos redes mosquiteiras, mas as mosquiteiras têm apenas um milímetro de comprimento, então tivemos que colocar uma rede tão firmemente tecida que até a luz mal passava”, diz ele.

Causa do surto

Os proprietários querem que o governo fale sobre como o surto começou, diz Saropala. De acordo com ele, os importadores da zebras podem ter se beneficiado de brechas na biossegurança que lhes permitiram trazer os animais para a Tailândia de maneira relativamente liberal. 

Sendo assim, um forte contraste com as quarentenas e inspeções exigidas para a importação de cavalos. “Sabemos que zebras foram importadas da África recentemente”, diz ele. “Estou pedindo ao DLD dados oficiais, mas eles continuam se arrastando.”

A legislação aprovada coloca as zebras sob jurisdição do DLD para o controle de surtos de doenças. Mesmo assim, o governo permanece de boca fechada com relação aos registros de importação de zebra e resultados de testes. “Estamos testando populações de zebra e, no momento, a investigação está em andamento”, explica a veteriária do DLD Nuttavadee Pamaroon.

Países vizinhos em alerta

Diante da notícia, especialistas agora estão preocupados com a possibilidade da doença se espalhar para os países vizinhos do sudeste da Ásia. Afinal, o vírus pode até viajar a partir de mosquitos transportados pelo vento através de mares, afirma o entomologista do Laboratório Pirbright, no Reino Unido, Simon Carpenter.

“Um surto sustentado e persistente de AHS que se espalha para outros países seria devastador. Não apenas para a indústria de corridas e animais de companhia, mas também para alguns dos trabalhadores mais pobres da região que dependem de cavalos, burros e mulas”.

Eventualmente, a Austrália, que possui mais de 1 milhão de cavalos de esporte e lazer, poderia ser o país mais afetado. Contudo, o país já está a par da situação e tem buscado uma resposta regional a esse surto.

Histórico da doença

Além de breves surtos em áreas na costa africana, o AHS está contido na África desde 1990. Na época, autoridades veterinárias resolveram um surto de três anos na Espanha e em Portugal causado pela importação de zebras africanas selvagens.

Todavia, o vírus não é relatado na Ásia desde uma grande epidemia que terminou em 1961. Essa epidemia se espalhou do Oriente Médio para partes da Índia e levou a centenas de milhares de mortes em equídeos.

Ainda de acordo com a imprensa tailandesa, este é o primeiro grande surto da doença fora da África em 30 anos. Agora a Tailândia perdeu seu status de livre de doença por AHS junto à Organização Mundial de Saúde Animal.

O que significa que deve interromper suas importações e exportações de espécies equinas, selvagens e domésticas. Portanto, levará pelo menos dois anos para solicitar novamente o status de livre de doença.

Fonte: Science Mag
Crédito da foto: Reprodução/Sciene Mag/Wipawan Pawitayalarp

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