Umas das feras do Cow Horse, Jake Telford conta sua vida com os cavalos

Vencer as competições é gratificante, mas é apenas um teste para ver o quão bem você fez seu trabalho como treinador de cavalos

Eu treino e apresento cavalos. Tudo ficou tão especializado que o que faço é montar apenas cavalos de Working Cow Horse. Mas o Laço foi o que me fez começar a treinar cavalos. O Laço, e um homem chamado Bob Johnson.

Bob Johnson era um instrutor bem conhecido, que morava no Oeste de Idaho (Estados Unidos), a poucas horas de onde eu cresci. Certa vez, quando eu estava na oitava série, meu tio me levou para uma das clínicas de Laço de Bezerro de Bob. Todos chamavam Bob de ‘Coach’. Se você fizesse algo errado, ele dizia na hora e você teria que fazer de novo.

Jake, Jessie, Sierra e Shawny

Bob era bem ‘hardcore’. Eu me lembro de estar cansado e dolorido e ter proteção em cada dedo. Na época, eu era jovem e não tinha tamanho suficiente para flanquear os bezerros. Mas Bob me ensinou como eu podia fazer para dar certo. A partir daquele primeiro ano, acho que nunca perdi uma de suas clínicas. Eu fui, religiosamente, a cada primavera.

Nesses cursos, passei mais tempo montando os cavalos de Bob do que montando os meus. Eu era aquele pobre garoto que só tinha um cavalo. Então, Bob dizia: “Vá para até o pavilhão, pegue o cavalo na baia quatorze e monte”.

Realmente admirava a vida que ele levava. Achava que era a coisa mais legal que já tinha existido – montar e laçar o dia todo. E ir a ‘jackpots’ e rodeios nos finais de semana. Na minha idade, do meu ponto de vista ingênuo, parecia uma boa vida. Então, me esforcei para ter meu próprio local onde pudesse fazer isso.

Mesmo que minha mãe tenha treinado e apresentado cavalos da raça Paint Horse, naquela época eu não sabia que você poderia ganhar a vida treinando cavalos. Foi uma espécie de ‘insight’: Hey, essa é uma opção!

Implorei a Bob por um trabalho, mas ele e seu filho, Barry, treinavam juntos. Ele não mantinha cavalos suficientes para vários funcionários. Eu teria trabalhado de graça, se ele tivesse deixado.

Alguns anos depois de me formar no ensino médio, Bob ligou. Ele disse que Barry tinha feito uma cirurgia nas costas e não poderia trabalhar. Eu poderia ir ajuda-los naquele inverno. Agarrei a chance!

Estava me dedicando a ajudar meu pai na fazenda e no rancho, indo a ‘jackpots’ e rodeios amadores. Mas disse a ele que ia ficar fora por alguns meses. Então, trabalhei para Bob. E quando encerrei o prazo, comecei a treinar alguns potros de fora e consegui outro trabalho. Uma coisa levou a outra e eu nunca voltei para casa.

O rancho de Bob ficava a Oeste de Caldwell, na Chicken Dinner Road. Não era chique, mas era limpo e bem cuidado. Era um orgulho para ele. E tudo era muito funcional. Dentro da arena indoor haviam currais para o gado, o que tornava fácil treinar. Também possuía baias perto da pista, para que os cavalos ficassem perto. Ajudava muito a otimizar o tempo dos treinos diários.

Eu sempre penso muito em Bob. Ele faleceu em setembro. Foi uma grande influência na minha vida e na minha carreira. Minha família e eu ainda moramos na Chicken Dinner Road. O rancho dele fica no extremo sul, e o nosso fica no extremo norte. Quando eu estava construindo, pensava muito sobre a funcionalidade que tinha visto na casa de Bob, como isso fazia as coisas fluírem e poderia tornar o dia mais fácil.

Não que meus dias sejam fáceis! Entre treinamento e viagens para as provas, os treinos de Jessie, e provas dela também, e ainda os rodeios, ficamos ocupados. E nossas duas filhas fazem qualquer coisa que você possa pensar com cavalos – Team Roping, Breakaway Roping, Três Tambores, Seis Balizas e ainda Tie Goat (laço em cabras).

Elas vêm apresentado no Working Cow Horse há alguns anos também. Então penso: “Estou vivendo o sonho?”. Alguns dias sim. Alguns dias, nem tanto! Mas, falando sério, sou um cara de sorte. Eu tenho uma família incrível e posso fazer o que amo todos os dias. Não sei como um homem poderia pedir mais.

Cow Horse
Quando era jovem, Jake se encantou com a possibilidade de viver para sempre do cavalo

Working Cow Horse

Demorou muito para eu começar a treinar e apresentar cavalos de Working Cow Horse. Esse nunca foi meu objetivo original. Logo no início, eu queria apenas ser um laçador melhor. Comecei a trabalhar com um cara chamado Bus Hudson. Ele era mais um comerciante de cavalos. ‘Old’ Bus comprava tudo que ele gostava e levava para casa e me dizia: “Pode começar a treiná-lo”.

Pegar esses cavalos e seguir o programa de treinamento que eu achava certo, me ajudou muito a aprimorar a técnica. Mas achava que só laçando não ia conseguir dinheiro suficiente, não queria morrer de fome. Então, me dedicar a treinar cavalos me deu uma renda estável. Uma coisa levou à outra. No começo, a ir a provas era apenas uma maneira de melhorar meus cavalos de Laço.

Dan Roeser morava perto de mim e ele ia aos eventos do Quarto de Milha, apresentado cavalos de Halter e Pleasure, e de Rédeas e Cow Horse. Então, ele me pediu para apresentar os cavalos dele no Laço nesses eventos. O nível que ele deixava seus cavalos, o quanto eram bem domados e como foi fácil fazer a transição das outras provas para o Laço, realmente me intrigou. Então decidi que precisava aprender como fazer isso.

Me dediquei ainda mais aos cavalos de Laço. E, quando percebi, estava recebendo muitos e muitos cavalos de pessoas que tinham comprado animais com problemas e queriam que eu consertasse. Muitos queriam até milagre em 30 dias. Mas tornou-se algo rentável para mim. Cheguei ao ponto onde não queria apenas treiná-los por um curto período. Queria treiná-los e passar mais tempo com ele indo a provas.

Um dos melhores cavalos que eu já treinei foi uma pequena égua que eu comecei a chamar Starlight Kisses. Ela era o produto de um pai e mãe que eu treinei e apresentei também. O pai, Shady Little Starlight, foi campeão mundial Open Hackamore. Ele ganhou perto de oitenta mil dólares. A mãe, Kissed by Shiny Lips, também teve uma carreira respeitável. Mas seus filhos, como Starlight Kisses, superaram em ganhos.

A única vez que ganhei o Snaffle Bit Futurity, a maior competição do ano para cavalos de Working Cow Horse, foi na Starlight Kisses, em 2015.

Cavalos de trabalho

No cavalo de Working Cow Horse, nós competimos em três fases: herd work (rebanho), rein work (rédeas) e fence work (cerca). O trabalho do rebanho é muito parecido com a Apartação. O trabalho de rédeas envolve uma série de spins, paradas e troca de mão. O que nos diferencia das outras disciplinas é o trabalho da cerca.

É preciso manter um boi no final da arena para mostrar aos juízes que você tem controle. Em seguida, você toca e corre com esse boi pela cerca e corta o movimento – uma vez para a esquerda, uma vez para a direita -, depois circula esse boi em cada uma dessas direções. É uma modalidade que mostra a capacidade do cavalo para lidar com um boi em velocidade.

É uma prova que tem inspiração na lida tradicional de um cowboy. Tenho orgulho em treinar cavalos tão versáteis. Muitos cavalos que apresentamos no Cow Horse passam, depois, a ser cavalos de Laço ou Três Tambores. É muito importante estabelecer uma base para que o cavalo possa competir em três modalidades diferentes. Estão, geralmente, prontos para o que você quiser fazer neles.

Cow Horse
Jessie Telford

Amor e destino

Eu sempre tive um ponto fraco no meu coração por animais. Quando criança, eu tinha cachorros, cavalos, um cervo, gambá e um corvo. Minha esposa, Jessie, era do mesmo jeito quando garota. Ela é até hoje, aliás. Chegou em casa um dia com um filhote de coiote e uma tartaruga do Texas.

Jessie é muito boa em treinar potros. Ela gosta tanto quanto eu, de ver a evolução deles. É por isso que ela foi para a estrada este ano. Ela sabia que seu cavalo, Cool Whip, era especial. Jessie cuidou da mãe no ensino médio e na faculdade. Eu acho que o Cool Whip é um pouco parecido com a família também.

Nossas filhas são loucas por cavalos. O que eu acho que não deveria ser surpreendente, uma vez que elas cresceram em meio a eles. Sierra tem 12 anos e Shawny, 13. Nunca as obrigamos a montar. Honestamente, às vezes, incentivámos o oposto. Mas elas amam e quando chegam da escola se divertem em várias atividades no rancho. Puxaram muito a mãe delas, Jessie é muito talentosa, e versátil também.

Jessie também é rápida. Em pouco tempo ela consegue com que o cavalo faça o que está pedindo. Eu não sou assim, aprendo mais lentamente. Até hoje, não acho que sou naturalmente talentoso, como muitos dos treinadores por aí, então eu tento superá-los.

Cow Horse
Treinar cavalos habilidosos move a vida de Jake

Horse Shows

O maior número de cavalos que eu já levei para um Futurity foi oito. Isso foi quase suicida. Foi uma das coisas mais idiotas que já tentei fazer. O evento é longo, para cavalos de três anos de idade, em sua primeira prova. As provas acontecem o dia todo e só de madrugada você consegue trabalhar com eles na arena.

Quanto mais cavalos você tiver, mais horas serão necessárias para o treino noturno. Quanto mais tempo passar na pista durante o dia para apresentar todos, menos horas de sono você terá. Naquele ano, acabei montando e treinando por praticamente 24 horas. Se transformou em uma maratona de duas semanas, sem dormir.

Bom, não poderia ter feito isso sem ter Jessie lá para organizar tudo. Eu estava cansado e não pensava com clareza. Ela organizou tudo, até a ordem dos cavalos que eu tinha que treinar, selar e etc.

Ela me salvou outro ano também, quando coloquei quatro cavalos nas finais do Snaffle Bit Futurity. Precisava dar conta das três fases da prova com os quatro cavalos o dia todo. Eram dias longos e caóticos, mas Jessie tinha tudo alinhado. Me ajudou a recrutar pessoas para aquecê-los, por exemplo. E valeu a pena. Meus cavalos terminaram em segundo, quinto, décimo segundo e décimo quarto.

Uma das provas mais importantes da NRCHA é o World’s Greatest Horseman, em fevereiro. Ela elege o melhor dos melhores em nosso esporte. Levamos nossos melhores cavalos, animais que resistiram ao teste do tempo e muitas competições. Eu nunca ganhei, fiquei em terceiro no ano passado. É definitivamente o título que está no topo da lista de desejos.

Uma das razões pelas quais estou ansioso por esse evento no começo do próximo ano é que poderei fazer steer stopping, além do trabalho de rebanho, de rédeas e de cerca. Eu ainda amo laçar. É algo que faço sempre nas horas de lazer. Algumas pessoas têm um barco ou tiram férias. Eu vou para provas de Laço.

No steer stopping, é como se você fosse um cabeceiro sem um pezeiro. Dentro do brete, você fica atrás de uma barreira e o boi está no brete dele ao lado. Você é julgado sobre como o seu cavalo corre, avalia, ajuda na hora de laçar e o quão bem ele para.

Preparar um cavalo para fazer quatro eventos e ser competitivo em cada um requer extrema habilidade de equitação. Não são muitos cavalos e cavaleiros que chegam a esse nível. No ano passado, acho que vimos o maior número de inscrições de todos os tempos. E foi apenas cerca de quarenta e cinco.

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Clínica com Jake Telford em 2016 no Brasil, Rancho Karoline

Este ano, eu vou estar montando um novo cavalo que eu peguei em Forth Worth. O mesmo que eu terminei em terceiro no ano passado. Ele estava já no final de sua carreira, então nós o aposentamos. Shawny o monta algumas vezes e Jessie deverá leva-lo à NFR em dezembro. Ela está classificada para sua primeira final mundial da PRCA.

Uma coisa que aprendi ao longo dos anos é que treinar cavalos é um processo longo e lento. Eu gosto de começar os potros, vendo-os montados pela primeira vez. Você trabalha com eles dia após dia. Os assiste progredir até o ponto em que começa a ir às provas. Você e seu cavalo entram na arena e há cinco juízes observando cada movimento seu, cada passo seu, vendo o quão bom você trabalhou. Essa parte é gratificante. Mas é apenas um teste para ver o quão bem você fez seu trabalho como treinador de cavalos.

Por Jake Telford
Fonte e Fotos: The Cowboy Journal
Tradução e adaptação: Luciana Omena

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