Da primeira prova, há 18 anos, a paixão por cavalos só aumentou!

“Uma boa lembrança que tenho é do meu avô me ensinando como lidar com os cavalos”
Fotos: Adilson Foto Perigo

João Paulo Ferreira Mello, 36 anos, é mineiro de Guaxupé, e atualmente, mora e trabalha na Fazenda Palmeiras/Haras LGGL, no município de Pilar do Sul/SP. Começou sua vida nos cavalos novo, com o incentivo do pai e do avô. No começo, participou de provas menores na sua região, com cavalos que não eram registrados e nem prontos para o esporte, e foi desenvolvendo suas habilidades até tornar-se um treinador respeitado e colecionador de títulos. As vitórias, com certeza, são importantes, mas o fruto de um trabalho bem executado e poder fazer algo que se ama como profissão, certamente, são os maiores presentes.

Há 11 anos, mais precisamente, ele tomou a decisão de ser um profissional do cavalo. Buscou conhecimento, mudou-se para Sorocaba/SP, para fazer o curso de Gestão em Equinocultura, e conquistou o Brasil como treinador nas provas pela Associação Nacional do Cavalo de Apartação. O seu foco é a Apartação, que exige muito tempo de treino e dedicação, mas ele já participou de provas de Team Penning e Ranch Sorting.

Confira a entrevista, onde ele conta um pouco da sua história!

Como se deu o seu contato com cavalos pela primeira vez?

João: Meu primeiro contato com cavalos foi ainda muito criança, quando meu pai e meu avô tinham propriedade rural na região de Guaxupé, com alguns cavalos de serviço. Desde essa época, e das minhas primeiras lembranças, já gostava e me interessava por esses bichos. O contato maior, quando realmente comecei a montar, foi com sete anos de idade. Nessa época, não praticava nenhum esporte, não tinha nada na minha região. Apenas saía em passeios ou ia tocar as vacas da fazenda para o aparte dos bezerros.

Lembra de alguma história bacana desta época?

João: Uma boa lembrança deste tempo é do meu avô, Paulo Ferreira, me ensinando como lidar com os cavalos. Coisas do tipo: ‘montar pelo lado esquerdo’, ‘como pegar nas rédeas’, ‘como arrear corretamente’, ‘como pôr os pés nos estribos’. E isso era muito divertido. Eu levava tudo aquilo muito a sério, e queria estar fazendo tudo sempre certo. Outra lembrança engraçada foi quando meu pai, um certo dia, perguntou se eu dava conta de desarrear um cavalo sozinho. Confiante, disse que sim e comecei o serviço. Quando ele voltou, o cavalo estava desarreado, porém o arreio estava todo desmontado. Tirei as barrigueiras, os látegos, tudo. Ele quis ficar bravo, mas depois me ensinou corretamente como se fazia.

Como foi a experiência da primeira prova?

João: A primeira competição que participei foi em uma provinha regional em um rancho em Guaxupé, Rancho Palhares. Isso foi mais ou menos em 1999. Era uma prova de Team Penning e aquilo tudo era muito novo na região. Todo mundo lá era iniciante e inexperiente, mas nos divertíamos muito. Reuníamos uma turma de amigos e a farra era grande. Na época, quase não tinha cavalo Quarto de Milha na região, minha égua era uma Mangalarga, chamada Andorinha. Depois de um ano, mais ou menos, meu pai comprou um casal de cavalos Quarto de Milha, para mim e meu irmão, Cisca e Bidú. Não eram nem puros, muito menos registrados, mas foram animais que deixaram saudades. A Cisca está com um amigo que cuida muito bem dela até hoje, bem velhinha, deve ter uns 17 ou 18 anos. Aquelas provinhas eram o máximo para mim, não podia existir nada melhor do que aquilo. Foi uma época muito boa, toda minha turma gostava de cavalos e gosta até hoje. Meu grande companheiro era meu irmão Guilherme, que com o passar do tempo se afastou um pouco dos cavalos e hoje é treinador de cães Border Collies de pastoreio, mas aos poucos está voltando e logo estará apartando também.

E como desenrolou sua carreira?

João: Depois dessa primeira fase, me afastei das provas quando saí de casa para estudar. Foram uns cinco anos longe das competições. Em 2006 decidi largar tudo para entrar de vez no mundo dos cavalos. Descobri pela internet que existia a Universidade do Cavalo e me interessei muito por aquilo. Fui até Sorocaba, onde conheci aquele lugar e o Aluísio Marins. Ele me explicou sobre o curso de Gestão em Equinocultura e percebi que era bem o que eu queria. Com o apoio da minha mãe, me mudei para Sorocaba, onde cursei por dois anos e fui estagiário na Universidade do Cavalo. Nesse período já tinha decidido que queria ser treinador e que a raça que mais gostava era o Quarto de Milha, só não sabia direito ainda qual a modalidade que queria seguir. Faltando uns seis meses para me formar, conheci Jacira e José Carlos Rodrigues, que tinham ido à Universidade do Cavalo para dar um curso de doma e fazer uma demonstração de Apartação. Fiquei completamente encantado com aquilo e na mesma hora me veio na cabeça: é isso que quero!

Por coincidência, ou um presente de Deus, a Jacira me falou que tinha um projeto em mente, que era de formação de novos treinadores de Apartação. Nessa hora vi que aquela era minha chance. Ao me formar corri para o Centro de Treinamento deles, o JCR Ranch, onde entrei de assistente e aprendiz. Foi uma época abençoada, onde aprendi muito e tive toda base para me tornar um treinador da modalidade. Saí de lá como treinador em setembro de 2009 e fui para Sinop/MT, no Rancho São José, onde fiquei por quase cinco anos. Foram bons tempos, mas por causa da distância, eu ficava longe das provas. Quando abriu a oportunidade de voltar para São Paulo, vim para o Haras LGGL, onde estou até hoje.

Quais cavalos que considera importantes na sua formação como treinador?

João: Os animais mais importantes na minha formação como treinador foram a Freckles Kitty Kat e a Spots On. A Kitty Kat foi a primeira que comecei a fazer uma campanha completa. Minha primeira vitória foi com ela, o Potro do Futuro ABTCA na categoria Aberta Limitada, que por coincidência foi minha primeira prova pelo Haras LGGL. Ganhei outros títulos e campeonatos com ela e serei sempre grato a Kitty por isso. A Spots On foi importante, pois foi o melhor animal que montei até hoje. Ela me ensinou onde tenho que chegar com os outros cavalos. Ela me serve de inspiração sempre. Ela apartando era simplesmente espetacular. Tem uma intensidade muito forte quando está de frente à um boi, parece que consegue dominar o boi com o olhar. Só quem já montou sabe qual a sensação que ela passa para gente.

Se inspira em algum treinador mais experiente?

João: Vários treinadores me inspiram. Cada um da sua forma, com suas qualidades e virtudes. Poderia citar vários, mas pelo apoio, pelas dicas e pela parceria os principais nomes para mim são: José Carlos Rodrigues, Aroldo Marcelino e Serginho Araújo. Esses são meus mestres. Apartação é uma modalidade em que você depende de uma equipe, que são os rebatedores. Grandes parceiros são Rafael Terçoni e Juninho Araújo.

Você exerce outras atividades dentro do cavalo?

João: Fora a parte do treinamento e ajudo na gestão do Haras LGGL em parceria com a Malu, que é a nossa gerente. Também dou aula para amadores e ministro alguns cursos dentro e fora do haras. Cursos de doma, iniciação do cavalo de boi, de treinamento de Apartação, de equitação, entre outros.

Melhor prova da vida?

João: Minha melhor prova foi uma prova que nem ganhei. Eu tinha sido campeão Paulista na categoria Aberta Livre com a Spots, assim ganhando uma vaga para o Campeonato Nacional ANCA, onde disputam o título os melhores cavalos de cada estado. Nessa final, um dos bois foi muito para cima dela e acabou passando, mas mesmo assim a Spots deu um show. Mesmo com a penalidade máxima de perca de boi, tirei mais que 70 de nota e ainda fiquei em quarto lugar. Geralmente, quando um cavalo perde um boi, ele tira 60, que é a nota mínima. Foram muitos gritos e aplausos da torcida pela beleza da apresentação. Postei a filmagem no Facebook e até treinadores consagrados dos Estados Unidos elogiaram a apresentação. Foi triste por não ter ganhado a prova, mas muito bom por ter mostrado o potencial da égua.

Principais títulos.

João: Campeão Potro do Futuro ABTCA 2014 Aberta Ltda; Campeão do Campeonato Paulista 2016/17 Aberta Ltda; Campeão do Campeonato Paulista 2015/16 Aberta Livre; Campeão Super Stakes Classic NSMCA 2017 Aberta Ltda; Campeão Derby Classic NSMCA 2017 Aberta Ltda; Campeão Derby Classic ANCA 2017 Aberta Ltda; Campeão Derby ANCA 2015 Aberta Ltda; Campeão Super Stakes ANCA 2014 Aberta Ltda.

Que título ainda não tem e deseja conquistar?

João: O título que desejo conquistar é o Potro do Futuro ANCA, que é a prova mais esperada e mais disputada da temporada. Mas existem vários outros títulos importantes que almejo na minha carreira.

Por que a Apartação?

João: Apartação, porque é uma modalidade diferenciada. A inteligência e a habilidade do cavalo têm de ser extremas. A sensação de estar montado e o cavalo controlar o boi sozinho é uma coisa indescritível. A emoção é muito grande, dá para sentir a vibração e a intensidade do cavalo. Só quem já experimentou sabe o que estou falando.

Tem planos para o futuro?

João: Meus planos para o futuro são conquistar e construir uma carreira vitoriosa em parceria com o Haras LGGL. Temos muitos bons animais nascendo a cada ano aqui e pretendo continuar evoluindo no treinamento e nas apresentações sempre. O aprendizado nunca acaba. Tento também trazer cada vez mais adeptos à nossa modalidade, para que ela possa crescer, deixando o show cada dia mais bonito e mais competitivo.

Por Luciana Omena

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