“O cavalo é o ser que mais me aproxima de Deus e das pessoas!”

Jango Salgado é pioneiro na Rédeas, bicampeão Potro do Futuro, entre outros títulos, já competiu nos Estados Unidos e na Itália, agora dedica sua vida a ensinar

Quem conhece um pouco de cavalo, já ouviu falar no João Antônio Salgado Filho. Não? Então, do Jango Salgado, certamente,  sim! Aos 53 anos podemos considerá-lo uma lenda do esporte equestre. Poderia até falar que ele é uma lenda da Rédeas, mas quem já teve pelo menos dois dedos de prosa com ele, pôde absorver um pouco do conhecimento que ele tem sobre tudo que diga respeito a esse meio. É uma daquelas pessoas que temos orgulho de conhecer, de ser amigo, de já ter passado uma tarde inteira falando sobre cavalos, de ter visto competindo.

Casado com Renata e pai de Filipe e Diogo, Jango está prestes de tornar-se membro do recém-lançado ANCR Hall da Fama. Uma maneira que a Associação Nacional do Cavalo de Rédeas encontrou para homenagear quem tanto fez pelo esporte e contribuiu para seu crescimento. Os nomes escolhidos ficam imortalizados nessa importante galeria em que figuram pessoas e cavalos. A premiação, que oficializada a nominação dos primeiros indicados, acontecerá agora em novembro, durante o SuperStakes da ANCR. Jango estará ao lado de Carlos Deleu, Buccaneer HDN e No Question.

Don’t Question It

Sua história no cavalo começou quando ele tinha sete anos de idade. Seu pai, engenheiro agrônomo, estava sempre em contato com o campo, mas Jango começou a fazer aulas obrigado pela mãe,  com o sr. Evangelista, que era um professor de Adestramento aposentado do Rio de Janeiro e morava na Fazenda Santa Albertina, em Paranapanema.  Se fazer as aulas era obrigação, sair para lida no campo com o ‘compadre’ Nestor  era muito mais atrativo. De qualquer maneira, o cavalo estava ali, plantando sua semente.

Não demorou para que Jango começasse a participar de provas de Hipismo Rural, até ver em um filme um cavalo esbarrando e spinando e ficar enlouquecido. Ainda não conhecia a Rédeas, porém o encanto foi imediato. Com o passar do tempo, as suas atividades com cavalos começaram a ficar mais sérias. Foi passar um período com o Eduardo Borba, que já trazia o conceito novo de doma racional sem violência. Depois, Jango foi aprender um pouco mais, abrir a mente, ver novos conceitos, com Kenny Knowton, que na época treinava cavalos de Apartação.

Top Light HDN

Tanto aprendizado o fez querer colocar em prática os ensinamentos. Jango comprava cavalos  xucros e os domava para depois vender. Para ele, uma experiência extremamente válida, pois o fez amadurecer e confiar no trabalho que podia realizar. Até que, em agosto de 1987, o Eduardo Ribeiro (treinador de Rédeas, hoje radicado nos Estados Unidos) trouxe o lendário Doug Milholland para ministrar um Curso em Cruzeiro do Oeste/SP. Jango não teve dúvidas e foi  participar. Aos 23 anos, acabou sendo convidado pelo americano para ir trabalhar com ele nos Estados Unidos.

Como veio fazendo desde que as oportunidades foram surgindo, no mês seguinte Jango embarcou, agarrando com as duas mãos a chance de conhecer um pouco do universo infinito que é a indústria do cavalo na América. Uma dúvida, no entanto, martelava sua mente: ‘será que era possível viver de cavalo no Brasil?’ Ele passou apenas seis meses com Doug, voltando após o visto de permanência expirar. A ideia era regularizar essa situação para retornar de vez e se fixar por lá.

Buccaneer HDN

Enquanto corria atrás da papelada, recebeu uma proposta de trabalho de um primo, o Júlio Vieira. A resposta para a pergunta era o que agora martelava sua cabeça: ‘É, realmente talvez seja possível viver de cavalo no Brasil’. E a decisão foi a de permanecer  no Brasil. Seis meses depois, muito grato pela oportunidade, deixou o emprego e se lançou em mais um desafio: a carreira solo.  Treinar os animais por contra própria, ter seu próprio centro de treinamento. E a industria do cavalo no Brasil agradece! Jango completou 33 anos como profissional do cavalo agora em 2017.

Casado há 28 anos, Renata foi e é até hoje, seu braço direito. Tomaram a decisão juntos dele construir sua carreira no Brasil e tudo se desenvolveu a partir dai. Como treinador e competidor, Jango trabalhou por 21 anos, tendo conquistado diversos títulos, entre ANCR, ABQM, AQHA, ABCCC, FEI.  Entre eles:  dez vezes campeão Nacional , dez vezes campeão Potro do Futuro, sete vezes campeão Congresso ABQM, sete vezes campeão Prova AQHA, cinco vezes campeão Super Stakes ANCR, quatro vezes campeão Derby ANCR, duas vezes vice-campeão Mundial, entre outros, somando 61 títulos de campeão e 40 títulos de vice-campeão.

Farrapo do Infinito

Mais uma decisão chegou em 2012, a de se aposentar das pistas. Foi durante o Potro do Futuro da ANCR. Um dos momentos mais emocionantes da modalidade, que deverá ser superado com a homenagem do Hall da Fama. Jango dedica-se agora a cursos, assessorias e palestras. E ele não pára, viu? Está a cada semana em um local diferente do Brasil e também fora dele. Quando conseguimos fazer essa entrevista, ele embarcava para a Argentina, para mais um curso.

“Costumo dizer que cada cavalo é um livro diferente, assim como cada aluno é um livro diferente, não existem dois iguais no mundo.  Por isso sigo ‘lendo’ o máximo possível, buscando compartilhar minhas experiências dentro e fora das pistas, ensinando e aprendendo com cada um deles! ”

FEI World Reining Master em Oklahoma City

Mas o momentos dentro da pista, ele conta, que nunca irá esquecer. Como quando conquistou seu primeiro título de campeão Nacional, em Goiânia, no ano de 1990, ou quando levou seu primeiro titulo de campeão Potro do Futuro, pela ABQM, em Uberlândia, em 1992, com a esposa Renata grávida do Filipe. Ou ainda quando foi campeão Derby ANCR, em Maringá (1994), quando seu segundo filho estava prestes a nascer. Ganhou a prova e entregou o cavalo para o assistente, pois tinha que correr para São Paulo. Quando entrou no quarto, a esposa estava amamentando o Diogo. E ainda, o inesquecível primeiro Mundial oficial da FEI, o World Reining Masters, onde saiu com a medalha de prata. Em sua experiência internacional, além da prata em Oklahoma, ele foi medalha de bronze na Itália, no mesmo evento no ano seguinte, e também foi técnico do time brasileiro no WEG da Alemanha e competidor no WEG de Kentucky.

FEI World Reining Master na Itália

Com tantas histórias bacanas e emocionantes, Jango não podia deixar de falar dos cavalos que mais marcaram sua vida. O integrante do ANCR Hall da Fama Buccanner HDN, um cavalo, que segundo ele, foi muito especial, pois o firmou como treinador, e em várias provas, ganhou  no Aberto com ele e no Amador e Feminino com a Renata; Top Light HDN, irmão próprio do Buccanner, talvez o cavalo mais atleta que Jango treinou e o primeiro cavalo no Brasil a ganhar o Potro do Futuro da ANCR e ABQM no Aberto no mesmo ano; Don’t Question It, que ele chama de um cavalo clássico e elegante, imbatível aos quatro anos de idade, ganhando no mesmo ano Congresso ABQM, Derby ANCR, Nacional ANCR, Nacional ABQM e prova da AQHA; e, com brilho nos olhos, ele fala de Farrapo do Infinito, o único cavalo, até hoje na história da Rédeas no Brasil, a marcar 77 pontos em duas oportunidades, o primeiro garanhão no Brasil a produzir um Campeão Potro do Futuro ANCR Aberto na sua primeira geração. e o único ganhador de Seletiva de Mundial a produzir um campeão de Seletiva de Mundial.

Ministrando um curso no Chile

“O cavalo é o ser que mais me aproxima de Deus e das pessoas!”, encerra Jango Salgado, o mestre.

Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal

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