Brasileiro é um dos ídolos do esporte Montaria em Touro. Aposentado das arenas em 2008, atualmente ele é CEO da PBR Brazil
Os três títulos mundiais de Adriano Moraes – 1994, 2001 e 2006 – todo mundo conhece. Que ele foi o primeiro campeão da Professional Bull Riders, no ano de estreia, e nessa mesma temporada, sua primeira nos Estados Unidos, ele ainda ganhou o Calgary Stampede e a NFR, também são fatos bastante divulgados. Em frente ao escritório da PBR nos Estados Unidos, tem uma estátua de bronze em tamanho real do brasileiro montando Little Yellow Jacket. Isso também, você sabia.
Tricampeão pela PBR. Foto: PBRNascido em Quintana/SP, em 20 de abril de 1970, Adriano Silva Moraes aposentou-se das montarias em 2008. Com os títulos e todo o sucesso, vieram 28 ossos quebrados, lesões e algumas cirurgias. O ônus da profissão. Montou além do limite físico e parou aos 38 anos de idade. Sobre a carreira vitoriosa, o mundo todo conhece. Mas como foram os perrengues do início, talvez pouca gente saiba.
As histórias de Adriano Moraes são bem parecidas com as do personagem Chico Bento: quando criança pescava, caçava, andava a cavalo e quando ia à escola, seu cavalo ficava preso debaixo de uma árvore. Seus pais, Aparecido e Elizabeth, criaram seus filhos – Adriano, Edmo, André, Fernanda e Allan – com muita dignidade e união.
Estátua de bronze em tamanho real. Foto: PBRAo ‘Conversa de Cowboy’, do canal no Youtube do fotógrafo da PBR André Silva, ele contou muitas histórias engraçadas e inusitadas. “Se você quer saber da infância de Adriano Moraes, você pensa no Chico Bento. Uma casinha simples, ia a cavalo para a escola, nadava no rio, comia goiaba do pé. Meu pai era gerente de fazenda e a gente morava nos locais que ele trabalhava. Aprendi, desde cedo, os ofícios do campo. Eu sabia fazer tudo em uma fazenda, desde tratorista, consertar e fazer cerca, carpir. Enfim, tudo”.
E foi por conta de um dos trabalhos do pai, em Piratininga/SP, região de Bauru, que Adriano conheceu Fabio Padilha, seu companheiro de estrada. “Sempre quis montar em touro, mas era muito bobo. Um dia, fomos a um circo de touradas que existia na época, eu era moleque, 14 anos no máximo, e nesse local tinham uns touros de pulo. Depois disso, eu e meus irmãos sempre íamos montar nos touros com o Fabio Padilha. Os piores touros, mais bravos, sobravam sempre para mim, levei muito tombo feio nesse começo”.
Embora sempre tivesse contato com cavalos e touros, só aos 16 anos Adriano viu o rodeio pela primeira vez e aos 18, já participava de rodeios profissionais de menor porte. “Quem me deu a primeira oportunidade foi Valtinho Pereira, quando ele organizava rodeios, fiquei seis meses com ele. E depois fui, com o Fabio, montar nos rodeios da Cia Madrugada. Madrugada foi um dos primeiros também que me abraçou”.
Adriano nessa época já montando nos rodeios, morava na casa do Fabio. “Em certa oportunidade, tivemos que ir em um rodeio longe, em Itajá/GO, e não tínhamos dinheiro e nem noção do quanto gastaríamos para ir e voltar dessa cidade. O pai do Fábio arrumou um dinheiro e nos deixou na rodoviária. Na primeira parada, ficamos em São José do Rio Preto a madrugada toda esperando o horário do ônibus que ia nos levar para a próxima cidade. Não queríamos gastar o dinheiro com medo e ficamos sem comer”.
Adriano Moraes conta história do começo da carreira como peãoA viagem foi longa até o destino final e o perrengue também. “Quando chegamos em Cassilândia, compramos a passagem para Itajá e o dinheiro acabou. O que sobrou deu para comprar uma coxinha e uma caçulinha, que dividimos milimetricamente ao meio, mas não deu para acabar nem com um por cento da nossa fome. E ainda, quando chegamos em Itajá, descemos no lugar errado e tivemos que ir andando, com fome, até o recinto do rodeio. Quase perdemos a vaga para montar, porque achavam que a gente não ia chegar”.
Para poder voltar, o planejamento dos dois jovens peões era: tinham que ganhar algum dinheiro de prêmio nesse rodeio. “Logo no primeiro dia, o Fabio foi cortado, não montava na sequência, e eu segui. E aquele pensamento de ter que ganhar para poder comer e voltar para casa. Nossa sorte foi que o Celso, irmão do Madrugada, nos acolheu. Ficamos alojados na mesma pousada que ele, pagou nossa alimentação, e ainda voltamos com ele no caminhão dois bois. Quando finalmente chegamos em casa, estávamos destruídos, a mãe do Fabio até chorou quando nos viu”.
Nessa época, a companhias de rodeio tinham a boiada e também os competidores que montavam nos rodeios. Então, para competir, ou o peão era de uma dessas companhias ou conseguia vaga por convite. Como Madrugada tinha prometido que daria espaço em sua equipe quando Adriano tivesse com idade para montar nos rodeios profissionais, o tricampeão chegou em Nova Europa/SP e ligou para o tropeiro. “Os melhores peões da época estavam nesse rodeio. Eu tinha ligado e deixado recado para o Madrugada, pedindo para ele me colocar na lista e ninguém acreditou quando viu meu nome”.
A partir dai, Adriano passou a montar pela Cia Madrugada e morar com ele, que acabou se tornando seu pai no rodeio. E a carreira seguiu. “No começo dos anos 90, ganhei meu primeiro carro ‘zero’ de premiação pela vitória em Prata/MG e me tornei o garoto propaganda desse circuito. Acho que foi a primeira vez que todo mundo ouviu meu nome com destaque. Mas também já ganhei de prêmio um Fiat 147 usado em um rodeio nesse começo de carreira”.
Adriano Moraes e André SilvaForam muitos rodeios em cinco anos de carreira no Brasil e logo, em 1991, foi convidado por Charles Sampson, um campeão mundial, para participar de rodeios nos Estados Unidos. “Ele veio dar um curso aqui no Brasil e eu fui o único profissional a participar, os demais eram amadores. E ele gostou muito de me ver montar, do meu estilo. Também vi nesse curso que eu sabia fazer direito, que estava tudo certo da forma como eu pensava. Arrumei um professor de inglês para tentar me comunicar um pouco”.
No final de 1992, após se tornar campeão brasileiro, Adriano passou um tempo por lá. “Liguei para o Sampson e fui para os Estados Unidos. Fiquei três meses, montei em seis rodeios da PRCA e fui em um ensaio do que já estava sendo formatado para ser a PBR, organizado pelo Tuff Hedman. Também fui assistir a final da PRCA e vi de perto os melhores do mundo. Quase desmaiei”.
Em 1993, correu atrás de patrocinador para poder permanecer nos Estados Unidos e em novembro desse mesmo ano, ele conquistou o bicampeonato brasileiro. Foi nesse momento que sua carreira internacional começou. De 1994 em diante, três títulos mundiais, vários recordes quebrados e uma trajetória vitoriosa. Histórias? São muitas! Essas que relatamos no texto, de começo difícil e que quase ninguém sabia, e outras tantas que você consegue saber se assistir a essa super entrevista:
Por Luciana Omena
Colaboração André Silva