Na década de 90 não ‘tinha para ninguém’. Um dos peões mais famosos do rodeio em cavalo e lembrado até hoje com muita saudade
“Espora no sovaco dinheiro é fraco, espora no pescoço dinheiro é grosso, senhores ginetes. Cavaleiro que vai sair agora é ganhador de 32 motos, 26 carros e três caminhonetes. Virgílio Gonçalves é o nome dele”.
Certamente, se você é fã de rodeio, principalmente da montaria em cavalo no estilo Cutiano, deve ter ouvido falar de Virgílio Gonçalves. Quem acompanhou os rodeios da época pode fechar os olhos e lembrar com exatidão a frase do primeiro parágrafo, falada sempre nas arenas antes de cada montaria do competidor.
Virgilio Gonçalves, ou Gila, como era carinhosamente conhecido, foi um atleta muito famoso na década de 90 nos rodeios brasileiros. Famoso porque era ‘o cara’, sem dúvida. Não caia do cavalo e estava praticamente no primeiro lugar do pódio em todas as disputas que participava.
Nós o perdemos em 2007, porém sua trajetória e seu jeito amigo nunca foram esquecidos.
História
Nascido em Barueri/SP, Virgílio Gonçalves mudou-se para Pirapora do Bom Jesus/SP ainda menino. Aprendeu a andar a cavalo aos sete anos de idade por conta das Romarias frenquentes na região.
Acima de tudo, o atleta iniciou a carreira no rodeio em 1988, através da companhia do João Gargalaque. Virgílio, ou Gila, participou pela primeira vez de um rodeio no Parque da Água Funda, em São Paulo/SP.
Aos 16 anos, já era competidor profissional. Ganhou o primeiro carro em Itapecerica da Serra/SP. Dessa maneira, o até então ‘peão desconhecido’ começou a ter sob os olhos das comissões de festas maior notoriedade.
A oportunidade surgiu e Virgílio não deixou escapar. Como ele mesmo dizia, a sela era seu trono. E foi em cima dela que ele obteve suas maiores conquistas.
Prêmios
Em resumo, Virgílio foi campeão de todos os grandes eventos do Brasil. A saber: Americana, Jaguariúna, Cajamar, Palestina, Jales, Fernandópolis, São José do Rio Preto, Colorado. Só em Barretos, o maior da América Latina, ganhou três vezes.
A fivela mais cobiça, sem dúvida, chegou para Gila em 1992, montando a Potra Índia, da Companhia Madrugada; em 1993, montando o cavalo Terceiro Capítulo, do Zé Paraguaio; e em 1995, montando o cavalo Nacional, da Cia Rubinho.
Em 1994, por conquistar muitos títulos e prêmios, entrou para o Guinness Book, o Livro Recordes. Gila foi considerado também pelo Arena de Ouro – prêmio organizado pela revista Rodeo Country e pela Confederação Nacional do Rodeio – CNAR o melhor peão da categoria por dois anos consecutivos (2005 e 2006).
Até no Calgary Stampede, Canadá, conhecido como um dos maiores rodeios do mundo, ele se apresentou.
Fora da arena
Além de competir, Virgílio estava sempre à frente de projetos para melhorar o rodeio de Cutiano no Brasil. Ele dizia que a modalidade era a verdadeira raiz brasileira, por isso não aceitava que ‘outros’ quisessem modificar o único estilo que é genuinamente nosso.
Assim sendo, Virgílio lutava para que o Cutiano tivesse regras. Porém, as diretrizes, de acordo com ele, precisavam ser elaboradas por aqueles que dominam as características da modalidade
Virgílio era um homem feliz, de bem com a vida. Levava muitas alegrias por onde passava. A fama deu lhe amigos como Chitãozinho e Xororó, Eduardo Costa e outros artistas, mas ele não fazia distinção de ninguém, tratava todo mundo igual.
“Em trinta anos de rodeio eu nunca conheci ninguém como o Virgílio”, disse o amigo, companheiro de viagens e irmão de coração Adelino Silva. “Tinha um coração bom. No Natal, por exemplo, todo ano ele guardava um dinheirinho para doar alimentos e brinquedos para pessoas carentes”.
Se estivesse vivo, já que era ‘esporeado dos bão’, o número de títulos e prêmios estariam bem maiores. Ao mesmo tempo, nem precisamos dizer que ele estaria ainda encabeçando a luta pela valorização de que de fato o Cutiano no Brasil precisa ter.
Em 2007, aos 35 anos, Virgílio Gonçalves ‘Gila’ teve a vida bruscamente interrompida. Naquele ano estava em primeiro lugar no campeonato do Top Team Crystal.
Colaboração: Carla Prado
Crédito das fotos: Arquivo Pessoal/Família Gonçalves | Reprodução/Facebook