Série Mustad: aprenda a avaliar o cavalo antes do ferrageamento – Passo 1

A Mustad traz uma série de reportagens para explicar o passo a passo para um correto ferrageamento

A fim de apoiar e ajudar ferradores de todos os níveis a aprimorarem seus conhecimentos, a Mustad traz uma série de reportagens para explicar o passo a passo de um ferrageamento correto. Acima de tudo, o profissional precisa ter em mente que a técnica tem como principal objetivo proporcionar bem-estar e saúde ao equino.

Dessa forma, para esta primeira reportagem da Série Mustad, o experiente médico veterinário e ferrador Luiz Gustavo Tenório foi convidado para compartilhar o seu conhecimento. Como resultado, ele já antecipou que o primeiro passo para um bom ferrageamento é: avaliar, conhecer o cavalo antes de iniciar o processo.

“A avaliação antes do ferrageamento é de extrema importância porque a partir do momento que a gente reconhece a proporcionalidade, a conformação e até desvios ósseos que esse animal venha a apresentar, a gente consegue definir uma estratégia de trabalho, de atendimento, da melhor forma possível para o individuo”, explica.

Contudo, Tenório adianta que essa avaliação tem um monte de pegadinhas que acabam atrapalhando muito o trabalho e, assim, comprometendo o resultado final. “A primeira delas é o local de avaliação, que deve ser feito em um piso plano e firme. O casco sofre movimentação, tem bastante plasticidade para poder se adaptar. Então, se você está avaliando esse indivíduo em um piso irregular, parte desse casco pode afundar nesse piso irregular e se apresentar deformado ou irregular. Consequentemente, ocorrerá um falso julgamento”.

Outra coisa que o médico veterinário ressalta é que, na hora da avaliação, não adianta colocar o animal em uma posição de tensão. “Ele precisa estar com a musculatura relaxada, confortável para que a gente possa ter uma correta avaliação de toda a sua conformação, dos seus ângulos Articulares e direcionamento ósseo. E a gente tem que fazer isso rodando esse cavalo inteiro, não adianta eu bater o olho e querer fazer uma leitura rápida”, acrescenta.

Primeira posição de avaliação

Sendo assim, Tenório explica para a Série Mustad que a primeira posição da avaliação do cavalo é de frente. “O que a gente quer com isso, avaliar a entrada do tórax, a abertura do peito do seu animal, que é a base dessa coluna óssea, que tem o coração e o pulmão dentro do tórax. Se eu tenho um cavalo com o peito muito estreito, eu vou ter um cavalo, certamente, com o coração e pulmão comprimidos. Consequentemente, terá uma diminuição da capacidade cardiorrespiratória. Não é um cavalo propenso a provas de longa duração”.

Na sequência, ainda olhando esse animal de frente, o profissional deverá avaliar a coluna óssea até chegar no casco. “É aí que você percebe a direção que os ossos vão adotando, se existe um desvio angular ou rotacional até a chegada do casco. Outro ponto muito importante aí, que se faz necessário o piso plano, é o alinhamento da banda coronária. Precisa estar paralelo ao chão, para entender o posicionamento dos cascos do membro tórax. Isso tudo visto de frente.”

Tenório fala sobre a importância da avaliação dos lados – Foto: Divulgação/Mustad

Avaliação dos lados do animal

Em seguida, Tenório orienta na Série Mustad a observar os lados do cavalo. Primeiro, o comprimento do pescoço e o tamanho da cabeça. “Só o conjunto de pescoço e cabeça corresponde a 30% do peso corpóreo desse cavalo.  Animais que tenham pescoços mais alongados e cabeças mais pesadas, tem uma sobrecarga maior nos cascos. São cavalos pesados, que necessitam de mais ajuda. Isso não tem como mudar, mas tem como ajudar no ferrageamento”.

Outro ponto muito importante é o comprimento da espádua e do braço. O tamanho desses ossos e o ângulo formado por eles define a amplitude e até a própria “maciez” do andamento do animal, conforme explica o médico veterinário. “Então, essa avaliação também impacta diretamente no nosso serviço, no que a gente pode fazer para otimizar e até compensar o que esse animal tenha de necessidade”.

Ademais, também deve-se analisar o comprimento e proporcionalidade do dorso lombo do animal. “Todo cavalo precisa ser proporcional, para que ele tenha equilíbrio.  O centro de gravidade do cavalo está a quatro dedos do cotovelo do cavalo. Então, se eu não tenho proporcionalidade eu tenho mais dificuldade de equilíbrio para o centro de gravidade. E daí esse animal precisa de muita ajuda na equitação e também no ferrageamento e certamente ele vai apresentar dificuldades maiores e até impedimento no desempenho de algumas atividades. É um animal que a gente precisa pensar se vale o investimento de continuidade ou não”, observa Luiz Gustavo Tenório.

Ainda durante a avaliação das laterais do animal, é necessário observar o alinhamento da coluna. Afinal, é possível que o animal apresente desvios, como lordose, cifose, escoliose, enfim, alterações de coluna que afetam, diretamente, no movimento. O que vai, sem dúvidas, impactar no serviço de ferrageamento.

A avaliação da garupa também é muito importante – Foto: Divulgação/Mustad

Avaliação da garupa e ao passo

Agora chegamos na parte de avaliação da garupa, que também é muito importante, conforme Tenório. “Tamanho e inclinação dos ossos da bacia e o ângulo formado com o fêmur, o que é isso determina? Facilidade, capacidade de articulação e impulsão desse animal. Já que o membro posterior é o responsável por esse motor, por essa propulsão e impulsão do cavalo”.

O médico veterinário explica que animais com uma garupa muito pequena tem menos cobertura muscular, menos propulsão e impulsão. Já animais que tem uma garupa mais reta, muito semelhante a garupa de vaca, vão ter problema na angulação do jarrete. Afinal, são animais de fragilidade de movimento e tendem a girar o jarrete.

“Então, essa avaliação geral da garupa também determina que tipo de necessidade o animal tem e o que a gente vai fazer. Olhando o animal por trás, a mesma informação dos membros anteriores: alinhamento da coluna óssea e, principalmente, acompanhar o formato dessa coluna vertebral para ver se tem alguma alteração”.

Outra coisa muito importante é verificar o cumprimento dessa garupa. Se existe diferença de um lado para o outro e da cobertura de musculatura. “Aí a gente faz o mesmo processo de avaliação do outro lado, isso com um animal em estação”, explica Tenório.

Por fim, deve-se avaliar o movimento de passo para ver o voo do animal. “É extremamente importante acompanhar não só o voo, mas o ponto de saída desse casco e a maneira que esse animal aterrissa. E aí, de novo, vem a importância do piso plano, para você ter certeza de que seu animal não tem desvio.”

Por último, a avaliação do caso do animal – Foto: Divulgação/Mustad

Avaliação do casco

Depois de ter feito toda a avaliação do animal – em estação e movimento – vem a avaliação do casco. A correta maneira de levantar esse membro do chão e de olhar esse caso é usando o peso corporal para fazer o animal se movimentar e levantar o casco, sem causar dor alguma.

“Nós temos duas formas. A primeira é encostar o ombro no membro do animal empurrando ele para o outro lado e solicitando que ele levante. A partir do momento que ele desloca o peso, ele vai levantar com facilidade”, explica Tenório à Série Mustad.

Contudo, obviamente, há aqueles animais que jogam o peso contrário. Não querendo, portanto, levantar o membro de jeito nenhum. “A gente sabe que o joelho do cavalo vai dobrar única e exclusivamente para frente. Então, a forma da gente fazer com que o animal levante é dobrando esse joelho. A gente pode, simplesmente, encostar no joelho do animal e flexionar, empurrar ele para frente que naturalmente vai levantar.”

Uma vez que o casco esteja no alto, o profissional precisa tomar muito cuidado nessa forma de avaliação. “Um erro muito comum é querer olhar o casco tirando ele para fora da coluna óssea. Contudo, toda vez que a gente faz isso você promove uma rotação tanto nos ligamentos quanto nos tendões, o que altera o plano do casco.”

Então, toda vez que for analisar um cavalo o ideal é deixá-lo relaxado acompanhando a coluna óssea dele. E qual é o meu ponto de referência? Sempre a linha central desse casco, que é o suco central da ranilha e o ápice da anilha, que vai literalmente dividir o casco em duas metades.

Para sair da posição de avaliação de casco, principalmente os posteriores, Tenório cita outro erro comum. “Muitos ao perceberam que o cavalo pode dar um coice ou que se assustaram com alguma coisa, largam o casco. Não façam isso. A forma correta de sair do animal é sempre para frente dele. Dessa maneira se ele for te dar um coice, por exemplo, você está protegido”.

A avaliação prévia de todo o cavalo é fundamental para resultado do ferrageamento – Foto: Divulgação/Mustad

Considerações finais

Por fim, Tenório lembra que esse trabalho de avaliação é de extrema importância e que não demora muito tempo para ser feito. A avaliação prévia de todo o cavalo que vai ser ferrado ela é fundamental para o resultado e para o planejamento que vai ser feito para cada indivíduo.

“E lembrem-se, cada vez mais, o ferrageamento e o casqueamento precisam ser feitos por um profissional habilitado”, finaliza.

Na próxima reportagem especial da Série Mustad, você vai aprender o passo a passo de como tirar a ferradura corretamente. Não perca!

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Por Natália de Oliveira
Crédito da foto: Divulgação/Mustad

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