Conheça a história de Ronildo Morais nos Três Tambores

Um dos mais consagrados treinadores de cavalos de Tambor e Baliza do País abre as portas de seu rancho e nos conta a sua vitoriosa história

Lá para as bandas de Minas Gerais havia um astuto menino que não gostava de frequentar as aulas. Ele tinha mania de fugir da escola para ficar com os cavalos. É desta forma que começa a trajetória de vida do treinador Ronildo Morais, um dos mais respeitados cavaleiros do Brasil.

Ronildo Morais

De garoto bagunceiro da cidade mineira de Ipatinga a homem respeitado por seu ofício até em terras internacionais. Ronildo Morais fez de sua paixão pelos cavalos, o seu sustento e sua profissão.

“Sempre que fazemos aquilo que sabemos e acreditamos, temos bons resultados. O cavalo só me trouxe alegrias”, diz o pai de Vinícius, 33, e Ronildinho, 28. “Devo muito à minha família, em especial, à minha esposa, Janete”.

Nascido na fazenda da Acesita Energética, empresa onde seu pai, Cilar Martins de Morais, trabalhava como administrador, o cavaleiro aprendeu desde cedo a lidar com os animais. Aos 14 anos de idade, ele também se tornou funcionário da indústria. “Eu já sabia desde moleque qual seria o meu destino: ter os cavalos como meus grandes companheiros”.

A fazenda tinha éguas comuns que serviam como reprodutoras para a tropa de lida e os garanhões usados eram da raça Quarto de Milha. “Como só lidava com animais campeiros, ao ver um Quarto de Milha eu fiquei doente. Queria saber mais sobre a raça. Ali nasceu um novo sentimento em mim, algo que não sei explicar. Eu precisava me tornar domador”.

Amadurecido, o jovem Ronildo começou a buscar informações sobre o Quarto de Milha. “Eu prestava atenção em cada palavra que lia nos livros e nas revistas. O que aprendia, eu procurava colocar em prática. Foi assim que fui me tornando um bom cavaleiro”, explica o hoje respeitado treinador, no alto de seus 54 anos de idade, pele queimada do sol, cabelos grisalhos, sorriso largo e chapéu de cowboy na cabeça.

Ronildo e Vinícius

Exercendo serviços caprichosos, a fama de Ronildo foi passando de boca em boca até chegar aos ouvidos do criador Leôncio Guimarães (In Memoriam), do Haras LG. “Foi quando minha vida mudou. Vi as portas se abrirem para eu começar a construir o meu sonho de infância”.

Contratado por Guimarães, o treinador domou e cuidou dos animais do plantel mineiro durante quatro anos. Ele se recorda que conquistou incontáveis títulos dos Campeonatos Mineiros e Capixabas.

O nome de Ronildo começou a se propagar pelo universo do Tambor e da Baliza, saindo dos arredores de Minas Gerais. Então, em 1994, a família Morais se mudou para o município de Niterói, no Rio de Janeiro, onde o treinador foi trabalhar para Jales da Silva Pessoa, titular do Haras 3J. “Foram dias de muito esforço e determinação, que tiveram várias recompensas. Lá, montei animais incríveis, que me projetaram ainda mais”.

Ronildo Filho

A ascensão não parou. Ronildo recebeu outro convite. Agora, ele seguiu rumo a Vitória, no Espírito Santo, onde trabalhou durante dois anos para os irmãos Varejão. “Soube aproveitar todas as experiências que foram oferecidas a mim e consegui tirar lições que levarei para minha vida, seja no campo profissional ou pessoal”, afirma o sábio treinador mineiro.

Dizem que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Pois bem. O apoio e as palavras de incentivo ao treinador vieram da esposa Janete, com quem Ronildo está casado há 33 anos. “Ela organiza e administra a minha carreira desde quando eu era apenas um sonhador de Ipatinga”.

Como não poderia deixar de ser, o lado brincalhão do mineiro fala alto: “comecei a aprender a domar com ela, porque a moça é brava quando precisa”, fala com o habitual sorriso largo.

Ainda em Vitória, ele decidiu dar mais um passo importante em sua carreira. Assim, inaugurou o Centro de Treinamento Ronildo Morais, localizado no Haras Lucã. Em 2001, o treinador estava devidamente estabelecido, tinha sob seus cuidados 40 animais e era reconhecido nacionalmente. “Mas nunca fui acomodado. Sempre quis mais. Por isso que decidi rumar para São Paulo, onde acontecem as maiores provas”.

Antes de se aventurar para os lados de cá, Ronildo procurou alguns colegas que pudessem ajudá-lo na escolha do local para as instalações do novo Centro de Treinamento. Ele ligou para o amigo Miguel Dias, que estava ocupado, e quem acabou atendendo ao telefone foi o criador Thiago Bayerlein, proprietário do Haras Jaguary.

“Foi obra do destino. Combinei tudo com o Thiago num único telefonema. Instalei-me em Jaguariúna, trazendo dez animais e muita garra para recomeçar”. Formou-se o Centro de Treinamento Ronildo Morais com 4 alqueires, 48 cocheiras e dez piquetes. No Haras Jaguary, além de grandes cavalos, uma pista das mais velozes do País, acolheu eventos memoráveis.

Ronildo Morais
Família Morais

Hoje, o Centro de Treinamento é Ronildo Morais, Ronildo Filho e Vinícius Morais e fica em Santo Antônio de Posse/SP, cidade vizinha a Jaguariúna. Tem 12 alqueires, 80 cocheiras e 25 piquetes, andador elétrico, completa infraestrutura para treinamento de cavalos de Tambor. Na divisão das tarefas, cabe a Ronildo doma e treinamento, Ronildinho e Vinicius, treinamento e competição.

A equipe do CT é composta por mais oito funcionários, que se revezam nos cuidados com os animais. “Aqui, todos os cavalos recebem o mesmo tratamento. A única diferença é que cada um trabalha seguindo os objetivos de seus respectivos proprietários”, explica Ronildo. O CT também produz feno.

O treinador costuma pegar os potros pela manhã. Durante à tarde, ele faz exercícios com os animais já iniciados. “Não costumo deixá-los presos na cocheira por muito tempo. É bonito ver o animal solto, gastando energia e aproveitando a natureza”. Lá, os cavalos comem ração três vezes ao dia, além de aveia e feno. Todos recebem higienização após os treinos.

Com 20 animais a cargo de cada um dos treinadores, Ronildo tem se dedicado ao treino de potros. “Este é o futuro. O mercado pede profissionais especialistas no assunto, até porque estão surgindo cada vez mais provas voltadas para as novas gerações”, diz.

A maneira como Ronildo Morais realiza esse papel pode ser comparada aos métodos dos melhores treinadores dos Estados Unidos. “Eu domo o animal, treino-o e depois que ele está apto a vencer nas pistas, eu o comercializo. Esse trabalho exige seriedade e profissionalismo, pois tenho que escolher o dono que se encaixará com o animal. É minha responsabilidade a boa conclusão da comercialização”

Ronildo Morais fez a fama através de muito trabalho e, claro, com vitórias nas pistas. Passaram por suas mãos Kromita Comka 2F, Zoya By Obvious HT, Guine Líder FV, The Best Doc, Sanja Lachat, Tundra Lachat CY, Miss Savanah Bid, ST Lena Leo, Kalana Failas, Thunder Leo 3J, ST Creekita, Leolly Shady Trouble, Voador Dash SA, Dragster Deck ZO, Joe Fly Leo, Star Red Fame EK, ST Bambino Fly, Alpha Dashin ID, ST Fishers Blue, Belinha Flit Liuti, Bolt Docs Moon STZ, Doc’s Nub.

Ronildo Morais
CT Morais

A parede da sala de estar da aconchegante casa da família Morais é repleta de troféus que Ronildo recebeu ao longo da carreira. Muitas fotos retratam os bons momentos que ele viveu no mundo dos cavalos. “Sou muito grato por todas as conquistas que tive ao longo da vida. Fiz muitos amigos. Criei meus dois filhos, que hoje também se destacam no universo equestre”.

Os dois se formaram em Medicina Veterinária. Antes de voltar a morar e trabalhar com o pai, Vinícius atuou no Rancho Annelisa, em Juiz de Fora/MG, como treinador das modalidades Tambor e Baliza. “Todo meu trabalho é espelhado em meu pai. Se nasceu em mim a vontade de seguir esta profissão é por ter como exemplo este homem que trabalha incansavelmente e com felicidade”, fala Vinícius.

Ronildinho abre um sorrisão e diz que tem o ‘véio’ como exemplo: “a principal lição que recebi dele é amar os animais, sem limites”. A fiel companheira Janete também rasga elogios ao marido. “Sou fã Nº 1 dele. Ronildo é um profissional honesto com os objetivos que deseja alcançar”.

Fonte: Editora Passos
Fotos: Cedidas
Foto de chamada: Com Flying Red HR. Crédito: Beto Negrão

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