Presença constante nas maiores provas de Três Tambores, a jovem hoje treina seus cavalos, administra o haras e ainda tem tempo para ser presidente do NBQM e da diretoria da ANTT
Poucas pessoas chegaram onde ela chegou aos 26 anos. Toda sua família está ligada ao cavalo Quarto de Milha, pai, mãe e irmãos, uma criação bem desenvolvida de cavalos de esporte e velocidade, ela foi para a faculdade e participava das competições. Poderia ter continuado assim, curtindo esse meio, seus animais, os amigos. Mas ela sonhou mais alto! Buscou aprender técnicas de treinamento, conhecer mais sobre animais de alta performance e também assumiu a responsabilidade de treinar seus cavalos de prova e administrar seu haras. Se não bastasse, nesta temporada é também a presidente do NBQM e está na diretoria da ANTT.
Martha Herweg nasceu em São Paulo, capital, e mora em Bauru, no interior, desde pequena. Sua família é titular do Haras Agae, um dos criatórios de renome do cenário equestre brasileiro. Não só por ter animais pontuados e ganhadores, mas pela qualidade genética e seriedade com que lidam com o negócio. Lazer para toda a família, momentos compartilhados com os amigos, mas também uma empresa, de certa forma, que precisa ser bem gerenciada e dar frutos.
Muito querida por todos, Petit, como é carinhosamente conhecida, transita bem pelos Três Tambores, Seis Balizas, Ranch Sorting e Team Penning, já tendo participado de prova de Cinco Tambores também. O Agae tem vários cavalos em treinamento, mas os companheiros dela mais antigos hoje em dia são Ultra Red Agae e Watch Agae. A conquista que guarda com carinho é a vitória recente no GP ABQM durante o Congresso 2017, onde marcou 16s8 com o Django Red Agae. Uma vida dentro do cavalo e que vamos conhecer um pouco mais com a entrevista a seguir. Confira!
Como tudo começou?
Petit: Não lembro exatamente quando foi meu primeiro contato com cavalos, porque desde pequena meus pais levavam, eu e meus irmãos, para andar a cavalo na fazenda. Mas lembro que eu não gostava (risos), sempre chorava, porque não conseguia controlar meu cavalo.
Sua família cria cavalos desde quando? Como é essa relação de vocês com os cavalos?
Petit: Sim, meu avô iniciou a criação em 1982, adquirindo várias matrizes muito conceituadas na época do King Ranch Brasil e também alguns garanhões importados. Nada voltado diretamente para o esporte, eram cavalos de linhagem de trabalho e até corrida, porém eles participavam mais de provas de Conformação, que era a moda da época. Como meu pai sempre trabalhou na fazendo (ele é Agrônomo), minha mãe teve a ideia de nos colocar na escolinha de Tambor e Baliza do Lu Moreira, em Bauru, já que tínhamos muitos cavalos e não havíamos ainda criado aquela paixão por nenhum esporte comum até então. Entrei com nove anos e meu irmão mais velho com 11 (meu irmão mais novo começou um ano depois). Nos primeiros meses eu não gostava muito, tinha muito medo ainda e não sabia controlar meu cavalo, mas gostava muito do ambiente de treino, dos outros aluninhos, então não quis parar. Escolhinhas são essenciais para iniciar novos competidores.
Conte sobre sua primeira prova.
Petit: Foi em Bauru, em junho de 2001, uma etapa do NBQM (que hoje sou presidente). Competi com uma égua palomina da escolinha, que era muito mansa, fazia o percurso sozinha e ia de galope tranquila, chamava Bailarina. Meu começo todo foi nela, mas depois dessa prova corri mais uma e descobrimos que ela estava prenha, ai tive que trocar de cavalo, o que foi meu primeiro grande desafio, já que não tinha outro cavalo desse estilo para mim. Eu me lembro até hoje que quando eu estava dentro da pista achava que estava muuuuito rápido, tipo, como se fosse impossível ir mais rápido que aquilo. Fiquei super feliz até ver o vídeo da minha passada e constatar que eu estava muito devagar. Fiquei bem decepcionada (risos).
E depois?
Petit: Depois que tive que parar de montar a Bailarina, fui experimentar inúmeros cavalos de aulinha, mas eu era a mais nova da turma e os outros cavalos eram muito ‘pra frente’ para mim. Mas meus pais eram doidos e nem ligavam e eu também não entendia nada, ia montando onde mandavam. Ai uma que se encaixou depois foi a Mareska (coincidentemente, filha da Bailarina), mas ela era bem mais difícil. Fiquei alguns meses correndo nela, até que um dia cai e quebrei o braço. Não peguei nenhum trauma com isso e voltamos a saga de procurar um cavalinho manso. A Mareska não podia mais montar (risos). Passei por muitos cavalos doidos que enqueixavam e iam na cerca, davam SAT e disparavam, uns empinavam, outros davam coice durante a passada (risos) várias aventuras. Até que resolvemos colocar duas potras nossas para iniciar doma.
Assim a coisa começou a ficar mais séria?
Petit: Sim. Nosso treinador falava bem do pai e avô dessas duas potras (eram filhas do Shady Blue – Shady Leo). E foi com elas que começamos a ganhar prova. Operetta Agae era a minha e a Nascent Agae era do meu irmão. Ganhamos muitas provas com elas, inclusive a Operetta foi Campeã Potro do Futuro ABQM nos Três Tambores em 2002! Ai gostamos da brincadeira e o Lu escolheu mais alguns cavalos para domar lá do haras. Logo em seguida vieram o Pom Pom Agae e o Quantun Agae. Com esses dois que eu me formei mais, pois eles corriam muito e eram muito fieis. Ganhamos muitas provas e, muitas vezes, fazia o melhor tempo da prova ganhando até dos treinadores (eu tinha apenas 14 anos nessa época). Infelizmente, naquela época não existia internet e nós não fazíamos ideia de como cuidar de um cavalo atleta. Depois de uns quatro ou cinco anos competindo, os dois tiveram que parar, pois machucaram. Passei de ganhar tudo em todas as provas para chegar a três anos de não ganhar mais nada.
Como reverteu isso e decidiu se aperfeiçoar e levar o esporte a sério?
Petit: Confesso que estava ficando bem desanimada, foi bem na época de vestibular também, eu já nem ia treinar. Passei na faculdade e quando eu estava no segundo ano, surgiu uma oportunidade de intercâmbio na China, para montar cavalo, competir e fazer apresentações. Como estava na fase de não ganhar nada aqui, desanimada e minha faculdade era pública, dava para trancar sem nenhum custo, convenci meus pais de me apoiarem nessa (risos). E foi o ‘pulo do gato’, comecei a aprender de verdade a mexer com cavalos! Lá tive o Matheus Costa de treinador nos primeiros meses e depois a Bruna Tedesco, que teve muita paciência comigo e me ensinou muito! Sem contar algumas dicas que as americanas nos davam também.
Na china!Voltando para o Brasil, eu ainda tinha quatro meses livre sem faculdade, resolvi pegar uns três cavalos meus e começar a aplicar as técnicas que eu tinha aprendido na China. Meu pai me fez assistir vários DVDs e ler livros sobre dressage e rédeas antes também, para eu aprender direito a teoria (risos).
O resultado veio logo na primeira prova, ganhei e fiz o primeiro tempo de 17 segundos de uma égua que estava a dois anos nos 18. Aquilo me deixou doida e eu queria sempre mais (risos). Passei a conversar muito com treinadores, buscar dicas com os treinadores que eu gostava. Um ano e meio depois que voltei da China contratamos o Sidnei Junior para ser o treinador do Haras Agae. Ele ficou dois anos e meio conosco e e eu aprendi muito nesse tempo. Depois veio o S. Dito Monzinho, com quem aprendi mais ainda. Tive muita sorte de ter tido profissionais tão bons me ensinando sempre.
Esse ano (2017) resolvi, pela primeira vez, tocar o Haras sozinha. Eu mesma treinando meus cavalos, do meu jeito, do jeito que eu achava certo. Tive bons resultados já, mas falta muito ainda, mas eu sempre corro atrás das coisas que quero.
Operetta AgaeQual cavalo mais importante até hoje?
Petit: Difícil essa, mas acho que foi a minha potra e primeira égua, a Operetta Agae. Com ela eu fiz meu primeiro 19, primeiro 18 e primeiro 17! Consegui entrar pela primeira vez no pódio de um Congresso. Sem contar o tanto que aprendi a lidar com cavalos mais bravinhos, porque ela era bem esquentadinha. Então tive que aprender a controlá-la e acho que ela foi essencial para tudo que sei hoje. Foi nela que comecei a aprender a ter sensibilidade com cavalos.
Como é sua rotina no dia a dia de treinos e provas?
Petit: Todo dia acordo cedo, chego no Haras umas 7h mais ou menos e treino os cavalos que vão para a prova do final de semana. Os que são da próxima prova deixo para álguem que trabalha lá no Haras comigo ir mantendo eles. Quando sobra mais tempo, treino alguns extras de tarde também, mas normalmente a tarde tenho que fazer alguma outra coisa no Haras, na parte administrativa. Nas provas tento me manter focada e manter o que faço em casa.
Você se dedica exclusivamente ao cavalo ou tem outras atividades?
Petit: Terminei minha faculdade em Agosto desse ano, Design de Produto. Finalmente fico o tempo todo no Haras, mas treinar é o mais fácil e que exige menos tempo, cuidar dos cavalos e do Haras é o mais complicado. Quase todo dia algum cavalo se machuca, parecem crianças, tem que encomendar os remédios, acompanhar visita dos veterinários, que é praticamente toda semana, fazer as cruzas, gerencias os pastos com os potros, potras, éguas de cria, sempre verificar data de exames para prova, atestados, não perder data de vacinação, vermifugação, casqueamento da tropa toda e tem o ferrador dos cavalos de prova, encomendar ração, não deixar faltar suplementos. Parece bobeira, mas todo dia tem alguma coisa para se preocupar, dá pra ficar doidinha (risos) e ocupar bem o tempo.
Como é estar nesse meio junto com seus pais e irmãos, qual a importância disso na sua formação e no seu entusiasmo para continuar no esporte?
Petit: Não me vejo, hoje em dia, em nenhum ambiente diferente desse. Sou muito grata de toda minha família ser tão apaixonada por cavalos como eu, porque é um esporte que exige muito apoio, a pressão é muito grande. Não ter um apoio familiar torna tudo mais difícil, principalmente nos dias ruins, né. Eu valorizo muito a família, sempre fui criada assim e acredito ter esse respeito pelos meus pais e irmãos foi essencial para eu fazer o mesmo tratamento com meus cavalos, que considero todos como meus filhos e depois que cria esse vínculo não tem mais como parar!
O que você deseja conquistar ainda?
Petit: Meu sonho agora é conquistar um Potro do Futuro de Tambor na ABQM ou algum Slot Race! Potros são um grande desafio para mim e ano que vem vou me dedicar muito nisso! E também gostaria muito de conquistar um titulo da ANTT. Eu nunca participei de rodeio e este ano resolvi seguir a ANTT, pois são etapas muito organizadas e oficial pela ABQM. Outro sonho mais distante seria um dia competir nos Estados Unidos e me classificar para National Finals Rodeo, em Las Vegas, mas esse esta bem mais distante (risos)!
Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal