Localizado no Sul de Minas Gerais, na cidade de Lavras, o Haras El Far se destaca por possuir um dos maiores planteis de Mangalarga Marchador. Sendo considerado, portanto, um dos principais haras do país.
Quem está à frente do criatório é engenheiro civil e pecuarista Magdi Shaat, que nasceu em Cairo, no Egito, mas veio para o Brasil em 1968. “Eu sou muito mais brasileiro do que muito brasileiro. Sou naturalizado, eu quis ser brasileiro”, brinca o criador que já presidiu a ABCCMM, de 2011 a 2015.
Dentre a tropa do Haras El Far estão alguns animais lendários na raça, tais como Favacho Estanho, Brasa da Encruzilhada, Sinira do Berma todos estes com o selo El Far. Dessa forma, com investimentos em animais de sela, especialmente na genética do Sul de Minas, foram feitos cruzamentos com animais premiados.
Ademais, como resultado de um trabalho criterioso, o Haras El Far vem a cada ano formando vencedores e grandes animais que atendem aos amantes do Mangalarga Marchador. Diante de toda essa qualidade e história, o Top Marchador bateu um papo com Magdi Shaat e a entrevista completa você confere abaixo.
Origem
“Eu sou muito mais brasileiro do que muito brasileiro. Sou naturalizado, eu quis ser brasileiro. Meu avô era criador de cavalo árabe e ele tinha amigos que eram grandes criadores e, entre eles, estava um dos maiores criadores do mundo.
O cavalo árabe tem três linhagens básicas: a egípcia, a polonesa e a americana. Este amigo do meu avô tinha 200 éguas e 20 garanhões. As 200 doadoras eram de várias famílias destas linhagens básicas. O mesmo com os garanhões. E ele fazia os cruzamentos e sempre falava que ficaria mil anos sem consanguinidade.
Dessa forma, eu copiei o modelo dele. Tenho 200 doadoras e 40 garanhões. Acredito que tudo o que eu aprendi com eles foi um ensinamento muito grande para fazer este trabalho de genética no Mangalarga Marchador.
Contudo, o cavalo deles tem outra função, para enduros, alta resistência. Mas eles faziam um trabalho baseado na genética e eu aprendi a fazer a mesma coisa aqui, quando eu comecei a criar o Mangalarga Marchador. Muita gente me chamou de louco. O resultado está chegando agora. Foi a aprendizagem na criação de cavalos que eu trouxe de lá comigo.”
Início no Mangalarga Marchador
“Eu entrei na raça como todo criador entra. Eu era um criador novo, conhecia pouco da raça e fui aprendendo ao longo dos anos até chegar ao ponto em que cheguei. Sem dúvida, o primeiro momento, logo que o criador entra na raça, é de investimento em aquisição de animais.
Tive a preferência por algumas éguas para atuarem como doadoras e outras para pista. Todo criador novo começa como expositor. Mas chega um momento em que a gente visualiza o andamento, o cavalo de sela, o cavalo marchado. Quando isso aconteceu, eu mudei. Investi mais nestes animais de sela, especialmente na genética do Sul de Minas.
Então, se olhar a nossa tropa hoje, mais de 90% dela é sul-mineira. Fomos fazendo cruzamentos, adequando, até acertar e chegar no ponto ao qual chegamos hoje. É um trabalho criterioso, temos que visitar os amigos, ver o que eles estão fazendo, para que possamos comparar, inclusive em pistas, o que está acontecendo e, assim, fazermos uma avaliação. O objetivo final é e sempre foi o cavalo de sela. “
Diferencial da criação no Sul de Minas
“A simplicidade do criatório, a rusticidade do animal, a forma de criar e o cruzamento certeiro. Eles pensam em todos os cruzamentos. É impressionante! As pessoas de lá, sejam de criatórios grandes ou pequenos, têm um acerto alto no cruzamento.
Todo ano tem animal extraordinário em cada haras. Portanto, mais de 90% da minha tropa é sul-mineira. Esse é o trabalho que eu tenho feito, buscando a genética para produzir animais de sela. No entanto, o que eu sinto no Sul de Minas é falta de mão de obra qualificada para atender a todo mundo”.
Trabalho de seleção genética
“O sinal para mim, para eu começar o trabalho de seleção visando a marcha, foi quando o ex-presidente da ABCCMM, Alexandre Miranda, criou o regulamento implantando a seletiva pela marcha.
Foi neste momento, portanto, que eu fiz uma mudança radical na tropa. Ali eu comecei a ver que o cavalo tem que ser um animal de sela e comecei a fazer meu trabalho de seleção norteado pela busca por animais de marcha. “
Sangues mais presentes Haras El Far
“Basicamente JB, Favacho e Lobos. Eu tenho animais extraordinários JB, animais extraordinários Favacho. Inclusive, eu sou sócio na empresa Favacho, da qual faz parte o Pedro Venâncio, o Mário Lúcio e a família Favacho.
Entretanto, se tiver um animal extraordinário de uma outra linhagem, de sela e que produz, eu não tenho restrição nenhuma. Acima de tudo, é essa salada de frutas que eu adoro. “
Como alcançar o sucesso na criação
“Para se chegar neste ponto são vários os passos principais. Além da seleção e da aquisição de animais de alta qualidade genética, é necessário um manejo extraordinário dentro de casa e tem que ter mão de obra qualificada.
Além do mais, tem que ter a gestão de tudo isso. O trabalho é árduo, eu fico ligado o tempo todo. Formei grupos no WhatsApp com as pessoas responsáveis por cada setor do haras, nos falamos o tempo todo. As partes de veterinária, TE, clínica, treinamento. Conversamos de 7 horas da manhã até 10 horas da noite.
Devido a minha atividade profissional, é impossível estar presente o tempo todo, mas eu me esforço para estar presente o maior tempo possível. Criar os grupos foi uma forma que eu encontrei nestes últimos dois anos para acompanhar melhor tudo o que acontece no haras.
Formas de comercialização de animais
“Existem várias formas. Há 10 anos, eu comecei o Shopping Elfar, que é um dia de campo que nós fazemos. Eu fui um dos primeiros a fazer isso. Portanto, esta é uma forma extraordinária para vender animais para pequenos e médios criadores.
Existe o leilão on–line, além dos leilões virtuais, via televisão. Eu acho que estes leilões virtuais precisam de um pouco mais de critério, de uma seleção mais rigorosa, precisam ter um dono. Quando o leilão tem dono, leva o nome do criatório, as pessoas que têm vontade de ter um animal daquele criatório buscam este leilão.
O leilão que não tem dono, que reúne várias pessoas sem seleção adequada, dificilmente terá um bom retorno. Por isso eu acho que leilão virtual tem que ter o nome de um criatório de referência para ter sucesso. Além dos leilões presenciais, que são leilões de elite.”
Gestão na ABCCMM
“Durante minha gestão, nós focamos nos mercados interno e externo. Para crescer de dois mil para doze mil associados, o crescimento no mercado interno brasileiro tem que ter sido enorme. Buscamos criar associações em várias regiões do mundo.
Nos EUA já tinha uma associação, então demos mais suporte técnico. Fundamos a Associação Europeia, na Alemanha, e a Associação Italiana, na Itália. Também na Argentina, mas por problemas com a economia local, o projeto ficou paralisado.
As barreiras sanitárias complicadas existem, o mormo na Europa e a babésia nos EUA. A opção encontrada foi exportar sêmen e embrião congelados para fortalecer o Mangalarga Marchador no exterior. Fizemos um convênio com a Apex durante dois anos. Eles investiram dois milhões de reais e foi um projeto extraordinário de divulgação da raça na Europa e nos EUA.
Os núcleos no exterior precisam de apoio técnico, não precisam de apoio financeiro. Por exemplo, em um concurso de prova funcional, enviar um árbitro daqui para julgar, dar aulas, ensinamentos, isso é fundamental para a associação manter o interesse lá fora. Além disso, incentiva a venda de óvulos e sêmen congelados.
É fundamental divulgar o cavalo no mercado externo. A concorrência do cavalo de marcha lá é muito grande. Passo Fino, Passo Peruano, American Saddle Horse, Tenessee Walker, entre outros, mas que nem chegam perto do nosso cavalo, tanto picada como batida.”
Por Top Marchador
Crédito das fotos: Divulgação/Top Marchador
Veja mais notícias sobre o Mangalarga Marchador no portal Cavalus