Haras Kitanda: há mais de 50 anos criando o Mangalarga Marchador

Saiba mais sobre a história do criatório nesta entrevista com a criadora Liliana Wanderley, filha de um dos criadores ícones da raça Mangalarga Marchador

Inegavelmente, quando pequenos os filhos têm nos pais os maiores exemplos a seguir. Consequentemente, repetem palavras e gestos, sempre buscando serem iguais àquelas que os inspiram. Assim, muitas vezes, quando crescem os filhos acabam seguindo o mesmo caminho percorrido pelos pais… como é o caso da criadora do Haras Kitanda, Liliana Wanderley.

Filha de um dos criadores ícones da raça Mangalarga Marchador, Marcelo Antônio de Barros Wanderley, do Haras Nanuque, Liliana cresceu em meio ao cavalo. Além disso, depois de adulta se casou com Marcus Vinicius Wanderley, também filho de criador da raça, Marcus Wanderley, que é quem, de fato, iniciou a criação do Haras Kitanda.

Dessa forma, com a influência do pai e do marido, Liliana passou a se interessar cada dia mais pela criação. Tanto que, hoje em dia, participa ativamente das decisões do Haras Kitanda, que está localizado no Centro-Sul da Bahia, no município de Itapetinga.

Sendo assim, nesta entrevista especial com a criadora você fica por dentro da história do criatório, que está há mais de 50 anos criando o Mangalarga Marchador. Não perca tempo e confira abaixo!

Liliana e o marido Marcus Vinicius ao lado dos filhos do casal – Foto: Divulgação/Top Marchador

Início no Mangalarga Marchador

“Houve dois momentos distintos: o primeiro remonta a minha infância, já que sou filha de criador de Mangalarga Marchador. Meu pai é Marcelo Wanderley (Haras Nanuque).

Então, desde os 3 anos de idade monto a cavalo. Cresci passando férias na fazenda, passeando a cavalo e indo no pasto junto com meu pai para buscar o gado para o manejo no curral.

Meu pai foi aquele conhecedor de cavalo na prática, fazendo questão que os animais fossem cômodos de sela e tivessem boa índole. Ele sempre falou muito da marcha de centro, do “viageiro de picado”, como sendo uma marcha mais cômoda.

Junto a isso, ele sempre valorizou o cavalo bom de lama, que não escorrega fácil, que é de confiança para descer um morro alto e que não seja medroso. Então, nesse primeiro momento, o cavalo era muito mais a prática do que a teoria. Afinal, durante as mostras de cavalo lá em casa eu sempre dava um jeito de escapulir.

Depois de adulta, veio o meu segundo momento, que foi quando me casei com o Marcus Vinicius Wanderley, também filho de criador (Marcus Wanderley, titular do Haras Kitanda e, por acaso, meu primo, mas isso é assunto para outro dia).

E o Vinicius, apaixonado por cavalos, gostava muito de assistir o julgamento dos animais nas exposições. Eu, que nunca tive paciência de ficar parada observando marcha e morfologia, passei a me interessar por isso também.

Sendo assim, comecei a sentar ao lado do Vinicius nas exposições, a observar os animais e perguntar, quando tinha dúvidas. Aos poucos, comecei a opinar sobre quais animais tinham mais possibilidade de ganhar e fui aprendendo a gostar de assistir julgamento também.”

Marcus Vinicius Wanderley em 1980 montando em Arubé Bela Cruz, garanhão que serviu por muitos anos ao Haras Kitanda – Foto: Divulgação/Top Marchador

Trajetória na raça

“Criar cavalo é sempre emocionante. E vai muito além das pistas. A emoção está presente em um nascimento muito aguardado, na recuperação de uma lesão mais complicada, na evolução de um potrinho ao longo de diversas etapas do seu crescimento, na confirmação da genética que você tem quando vê aquela potrinha linda que você acompanhou, depois de grande gerar um animal melhor do que ela.

O retorno emocional que esses animais trazem está presente no simples convívio com eles, nos encontros e amizades proporcionados por eles. O Haras Kitanda existe há mais de 50 anos. Começou com o meu sogro, bem antes que eu e o meu marido, que é o herdeiro do sufixo Kitanda, tivéssemos nascido.

Durante todo esse período, houve inúmeras conquistas de títulos importantes e com certeza de fortes emoções. Mas se é para citar alguma premiação que tenha me marcado, posso citar a da Nacional de 2018, que foi bastante significativa: um mês antes da Nacional, vendemos um potro, o Morfeu da Kitanda, e lá ele sagrou-se Reservado Campeão Mirim.

Sem dúvidas, nós criamos o Marchador com amor. Mas dar continuidade a um trabalho que acaba por unir a genética dos criatórios dos nossos pais requer um bocado de responsabilidade.

Para nós, os nossos animais não são um número. Vê-los brilhando depois que saem daqui de casa é muito gratificante. Ver a satisfação de quem acreditou no nosso trabalho é muito recompensador.”

Fabuloso Tronco do Haras Kitanda – Foto: Divulgação/Top Marchador

Dedicação a animais de marcha picada

“Não diria dedicação exclusiva… Gosto de cavalo marchador. A boa marcha é boa em qualquer modalidade. Mas acho que, assim como o meu pai, gosto mais do cavalo que tende para a marcha de centro.

Além disso, Haras Kitanda está localizado em uma região em que a marcha picada é muito valorizada. Bem como os animais de pelagem sólida, principalmente a pelagem negra e pampa. Então, eu diria que priorizamos, sim, animais com essas características.”

Evolução da marcha picada

“A evolução tem sido muito grande, tanto em quantidade de criadores em busca desse andamento, quanto em qualidade de animais. Tem-se conseguido produzir animais cada vez mais equilibrados.

Em pista e em provas funcionais, vemos esses animais se saindo cada vez melhor. E, morfologicamente, os animais de batida e de picada estão muito mais próximos.”

Banho de éguas no Haras Kitanda – Foto: Divulgação/Top Marchador

Perspectivas para a raça

“As perspectivas são de que a raça cresça em número de associados e que os animais atinjam um grau de qualidade cada vez melhor. Acredito também que é tendência que o bem-estar dos mesmos seja cada vez mais levado em consideração. Pelo menos é o que eu espero. Todos temos a ganhar com isso a longo prazo.”

Dicas para os criadores iniciantes

“A primeira dica é que procure aprender, se capacite, para não fazer investimentos de que possa se arrepender futuramente. Também é fundamental que, antes de começar a comprar os primeiros animais, o criador defina bem o tipo de cavalo que quer criar.

Então, sugiro que visite alguns criatórios, monte nos animais sempre que for oferecido (o famoso “test drive”) e observe os tipos de cruzamentos que geraram os animais que o agradam… Tudo isso para não cair na armadilha do “modismo”.

A partir daí, é que o interessado em criar deve partir para investir de fato na compra de matrizes e na compra ou arrendamento de um garanhão para fazer uma base nessa éguada.

Assim, fica mais fácil trabalhar com a tropa posteriormente. Vale a pena respirar fundo para não agir por impulso no início. No mais, é criar com amor… aí não tem erro e o resultado é garantido.”

Por Top Marchador
Crédito das fotos: Divulgação/Top Marchador

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