Saiba mais sobre o criatório nesta entrevista com o titular do haras, Marcelo Antônio de Barros Wanderley
Alguns criadores são como ícones quando se trata do resultado do trabalho obtido em seus plantéis. Desse modo, quem nunca ouviu falar em Marcelo Antônio de Barros Wanderley, do Haras Nanuque?
Exemplar no trato com os cavalos, o criatório tem reconhecimento nacional e o criador… Ah, esse merece um capítulo à parte! Com quase nove décadas de vida, Sr. Marcelo tem a energia de um rapaz para a lida no campo.
Sem dúvida, parece rejuvenescer sempre que está sobre o lombo de um Mangalarga Marchador. Raça pela qual, aliás, ele nutre uma enorme paixão e aprendeu a selecionar montando.
Afinal, exercício que faz parte da rotina do criador. Apesar das limitações típicas da idade, ele não deixa nunca o ritual de lado. Sendo assim, toda manhã ele calça as botas e as perneiras, pega o carro e vai até as cocheiras.
Lá, ele puxa o animal pelo cabresto e o encosta em uma espécie de degrau onde se apoia para montar. Depois, ao terminar a lida da manhã, deixa as rédeas do cavalo mais livres. E, por comando de voz, orienta o animal a retornar próximo ao local de partida para que ele desça.
Folga então a sela, tira a cabeçada da bride e deixa o animal apenas com o cabresto. Na sequência, um simples “vai” basta para que o Marchador volte à cocheira. Ver Sr. Marcelo montado é admirável!
Seja o cavalo extremamente dócil ou mais arisco, sob o comando dele, há uma cumplicidade fora do comum. Relacionamento entre homem e animal que se traduz em carinho e confiança.
Por meio da entrevista abaixo, apresentamos mais um pouco dessa história. Antes de mais nada vale frisar que Sr. Marcelo é um homem de hábitos simples. Todavia, de muito amor pela vida no campo.
Primeiro contato com cavalos
“Desde muito novo. Eu ainda era rapaz, quando morava no município de Santa Inês, na Bahia. Sobretudo, aprecio o cavalo da boa marcha. Sempre tive cavalos de sela para o meu trabalho na fazenda e também para o meu transporte.
A fazenda ficava a 18 léguas da cidade e eu ia a cavalo namorar, passear… Também comprava e vendia bons cavalos. Eram animais da raça Mangalarga Marchador, porém sem registros.
Quando me casei com minha esposa Perpétua, nos mudamos para Nanuque, em Minas Gerais. Isso na divisa com os estados da Bahia e Espírito Santo. Assim, lá iniciei a criação sem me associar à ABCCMM, em 1970.
A partir de 74, por influência de meu irmão Lúcio Wanderley e do amigo Arlecy Carvalho, iniciei oficialmente o criatório. Ingressando, portanto, na Associação com o registro 662-9.
Desde então, vivemos intensamente o criatório. Passamos a criar também pôneis, por conta de nossas filhas Ana Flávia e Liliana. Hoje, criamos Piquiras, muito marchadores.”
Tradição familiar
“Considero uma tradição familiar [criar cavalos]. Porque, além de mim, meus irmãos Lúcio, do Haras Granito, e Marcos, do Haras Kitanda, também criam.
Do mesmo modo, nossos filhos seguem nossos passos. Este ano nasceu o nosso primeiro bisneto e desde os 4 meses já estava entre os cavalos!.
Ademais, são diversos os motivos que me fizeram escolher a raça. Entre os principais estão andamento, docilidade, rusticidade e porte. Considero a raça Mangalarga Marchador completa. Útil tanto para o trabalho quanto para o lazer.”
Localização Haras Nanuque
“Estamos na cidade de Jardim, no Mato Grosso do Sul. Saímos de Minas Gerais para o Mato Grosso do Sul no ano 2000 e hoje criamos em um estado que não tem muita intimidade com o Mangalarga Marchador.
É, geograficamente, bem distante dos polos de maior concentração de criadores e usuários da raça. Com o apoio de toda a família, mantemos a paixão por criar, apesar de termos optado por não participar de exposições.
Continuamos com o propósito de buscar o melhoramento genético por meio de inseminação artificial e transferência de embriões, com foco na evolução do plantel.”
Comercialização crias do Haras Nanuque
“Utilizamos principalmente os leilões virtuais. Em 2000, ano da nossa mudança para o Mato Grosso do Sul, fizemos um leilão presencial. Este com transmissão pelo Canal do Boi, sendo pioneiros nessa modalidade de vendas.
Atualmente, temos 150 animais no plantel, entre matrizes, garanhões, potras e potros. Sempre busquei animais de muito andamento, de marcha batida de centro e também de marcha picada bem equilibrada.
Em suma, animais de boa estrutura e profundidade torácica. Selecionamos também, preferencialmente, animais de pelagem sólida, como castanha e preta, além de pampas.”
Nomes dos seus animais é curiosa!
“Essa parte é bem interessante. Diria que até divertida, pois a família participa intensamente do processo. Seguimos uma letra a cada estação de monta. E, normalmente, buscamos fazer uma referência ao nome da matriz.
Isso para que possamos lembrar mais prontamente dos nomes dos descendentes. Por exemplo, Quadra de Nanuque: filhos Zaga, Vôlei, Baralho, Desfile, Esportista, Juíza, Medalha, Nocaute…”
Primeiros animais do haras
“Iniciei minha seleção com o animal Arteiro da Gironda, filho neto do Trevo da Gironda. Um garanhão de extrema docilidade e muito andamento. Fiz cruzamentos com matrizes de origem sul-mineira, de Caxambu.
Inclusive tive também o garanhão Caxambu Orion. Fizemos uma base com Arteiro da Gironda. Depois,comprei o Herdade Alter, filho do Herdade Cadillac, em Herdade Alterosa.
Sem dúvida, ele fez um trabalho bem bacana nas filhas do Arteiro. Preservou, portanto, na tropa a marcha. Além disso, evoluiu em estrutura corpórea, profundidade torácica e belas orelhas.
Após Herdade Alter, usamos Sândalo do Granito. Uma cria do meu irmão Lúcio, filho do Arubé Bela Cruz em Macumba do Granito, uma filha do Abaíba Remo.
O Sândalo nos deu matrizes lindas, ganachudas e de olhos muito expressivos. Além de manter a docilidade da tropa. Depois tivemos Santana Xavante e Minueto do Pau D’Alho, dois garanhões de origem Abaíba. Teve, ainda, o Inglês JB, que trabalharam de forma positiva evoluindo em morfologia e beleza.
Há 12 anos, adquirimos do amigo Djalma Rocha o garanhão Sincero do Porto Azul. Um filho de Haity Caxambuense, que é o nosso principal garanhão até hoje. Ele tem uma produção que nos agrada demais em andamento e morfologia.
Seus filhos são muito estruturados, extremamente marchadores e muito dóceis. Recentemente, adquirimos também 50% do Sansão do Porto Palmeira, neto de Haity Caxambuense. Parceria com o Amigo Eider Dantas, do Haras Iguatu. Dessa forma, seguimos a nossa seleção em cima dos descendentes do Haity.”
Dedicação a marcha picada
“Produzimos, na essência, a marcha batida de centro. Entretanto, por ser considerada uma marcha intermediária entre a picada e a batida, e equidistante dos extremos da andadura e do trote, a marcha batida de centro, em cruzamento com a marcha picada, resulta em produtos de marcha picada com muita qualidade.
Atualmente, usando o sangue do Haity Caxambuense na linha baixa. Já na linha alta (filhas do Sincero do Porto Azul em cruzamento com o Sansão do Porto Palmeira e vice-versa).
Como resultado, estamos produzindo muitos animais de marcha picada de excelente qualidade. Além de equilibrados e, ainda, com uma dinâmica de movimentação muito evoluída.”
Quais são suas perspectivas para a raça?
“De fato, o Mangalarga Marchador tem evoluído muito. Sem dúvida, a ABCCMM se tornou a maior da América Latina em número de criadores de uma única raça.
Sendo assim, hoje, conta com um número muito grande de criadores e usuários. Bem como possui muitos apreciadores pelo dinamismo, pela qualidade de marcha, docilidade e versatilidade que os animais da raça oferecem.”
Dicas para os novos criadores
“Antes de mais nada devo dizer que crio o Mangalarga Marchador por ser um cavalo de muitas aptidões. Entre elas, por exemplo, estão: sela, lazer, trabalho, animal forte e de fácil adaptação, rústico e muito dócil.
Visto que crio por paixão, pelo prazer de montar todos os dias e, em suma, para apreciar o que o nosso cavalo tem de melhor. Por fim, a dica que dou, portanto, é que se tenha prazer em criar. E, ainda, busque por animais de bom andamento.”
Por Top Marchador
Crédito das fotos: Divulgação/Top Marchador/Haras Escuro
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