Top Marchador: histórias da linhagem Favacho e Traituba que inspiram criadores

Confira as lembranças da Fazenda Favacho pela matriarca Nízia Aguiar Andrade e, depois, da Fazenda Traituba pela Alice Aguiar Junqueira

“A princípio, minha história com os cavalos, iniciou-se logo na infância. Afinal, sempre demonstrei interesse pela fazenda e também acompanhava meu pai, José Ananias Ferreira de Aguiar, nas caçadas de veado. Nasci e fui criada na fazenda Campo Alegre, em Santo Antônio do Amparo, Mina Gerais.

Em 1953, casei-me com Rubens Junqueira de Andrade, o filho caçula de Gabriel Fortes Junqueira de Andrade (Cel. Bilota) e Josefa. Minhas irmãs, Júlia e Alice Aguiar, casaram-se antes com Ivan e Oswaldo Junqueira, primos de Rubens. A partir de então fui morar na fazenda Favacho, em Cruzília, Minas Gerais, onde vivemos por mais de 40 anos.

Acima de tudo, sempre tivemos uma convivência muito próxima na Traituba, em função de Alice ser minha irmã, Rubens e Oswaldo primos e por causa da proximidade das terras.

Na Favacho, minha relação com o Marchador foi se tornando cada vez mais constante. A fazenda era muito grande, tínhamos cerca de 10 retiros de leite. Da sede até a Serra do Favacho, lugar onde os cavalos eram criados, sempre a pasto, cavalgava-se em média 15 quilômetros. E como eu não me contentava em cuidar exclusivamente da casa, fazia questão, aliás, de acompanhar a lida de perto.

Primeiramente, tivemos três filhos: Haroldo, Gabriel (o inesquecível Bié) e Rubens (o Rubinho). Todos eles continuaram fazendo um trabalho muito bonito de seleção e criação, o resultado está aí… Afinal, a genética Favacho é considerada referência no cenário de reprodução de equinos, contribuindo com os principais plantéis da raça, dando origem a cavalos extremamente marchados, reconhecidos e premiados nacionalmente.

Inevitavelmente, o Mangalarga Marchador sempre esteve presente em nossa vida, nos proporcionando muitas alegrias. As exposições de Caxambu e Lavras, entre os anos 50 e 60, foram inesquecíveis, eram festivas reuniões de amigos agropecuaristas.

Antes de mais nada não posso deixar de relembrar da década de 80, época em que o Favacho Quociente e a Favacho Sina fizeram muito sucesso. Depois, na década de 90, teve a ocasião em que o Favacho Único e o Favacho Estanho foram campeões em Brasília. Essa dobradinha foi sensacional.

E falando em dobradinha, já nos anos 2000, o Favacho Diamante foi o Grande Campeão e a Favacho Escala sagrou-se Grande Campeã da Exposição Nacional. Recebemos com muita alegria o título de Segundo Maior Criador do País.

Durante um período a nossa tropa foi considerada fora de moda, mas, como este fato não mudou nossa concepção, conquistamos depois vários títulos nacionais de marcha. Um momento muito significativo foi quando colocamos três cavalos entre os dez melhores reprodutores da raça.

Nosso maior prazer é, sem dúvidas, criar. Quando animais de genética Favacho são reconhecidos e consagrados nos campeonatos, é uma alegria enorme para nós, independente de sermos ou não os proprietários dos indivíduos. O Favacho Estanho, por exemplo, possui três filhos que foram Campeões dos Campeões Nacionais de Marcha, inclusive a atual da raça, Sussu El Far.

Outro momento recente e emocionante do meio em que participamos foi a inauguração do Museu Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador em Cruzília. É gratificante, portanto, ver que a história da raça não só está sendo preservada, como divulgada e à disposição de todos, de forma interessante, moderna, coerente e muito bonita. História da qual fazemos parte.

A base das tropas Favacho, Lobos e JF é a mesma, pois os reprodutores que comandaram, respectivamente, os criatórios dos irmãos Rubens, Bento e Geraldo eram do cruzamento entre o Armistício e a Onda, que foram: o Gesso para a JF, Jango para os Lobos e o Candidato, que ficou conosco na Favacho, portanto Candidato é o reprodutor de maior importância para nós, uma vez que todos os nossos animais descendem dele.

Não posso deixar de mencionar, aliás, alguns de seus filhos, como o Radical, que nos deixou o Farol e a Fumaça, que veio a ser mãe da Sina e do Quociente, que geraram Estanho, Malta e Dama, que com o meio irmão Estanho nos deu a Invicta.

Além da Rassunda, mãe da Mexicana, que com o Chimango nos deu o Teorema. O Chimango nos deixou também a Surpresa, que por sua vez gerou a Escala e a Zazueira. Rassunda foi mãe também do Farol e da Passarela, mãe da Ilíada. O Candidato também nos deixou a Tesoura e o Albatroz, que com a Dengosa foi o pai da Havana, que nos deixou o Único e a Xuxa, mãe do Diamante, Gesso, Iate e Radiola.

Mencionei alguns, mas seus descendentes continuam nos orgulhando através da reprodução Brasil afora. Além disso, é importante ressaltar que mantínhamos no máximo 15 matrizes e 2 garanhões na fazenda Favacho. Optamos pela qualidade, não quantidade.

Deixo aqui uma referência ao Valusse e ao Quati, que foram os cavalos da minha sela e do Rubens por quase 15 anos. Atualmente, meu contato com os animais gira em torno dos filhos, netos e bisneto. Uma paixão em comum que nos une ainda mais.

Com a proposta de preservar e evoluir esta genética bicentenária, fundamos a Linhagem Favacho Ltda. Os sócios que a integram desenvolvem um trabalho de seleção rigoroso dos animais e de fusão da marca.

Mário Lúcio Borges, nosso amigo e co proprietário da marca Favacho, nos presenteou com o potro batizado de Armistício, uma homenagem ao Armistício da Consulta, pai do lendário Candidato. Favacho Armistício hoje é o nosso reprodutor chefe e encontra-se em Oliveira, aos cuidados do meu filho Haroldo e meu neto João Augusto.

Recentemente dividi as cotas da Linhagem Favacho Ltda. e os animais entre meus filhos: Haroldo; Jayme, José Ananias e Níbia (meus netos e filhos do Bié, meu filho que faleceu) e Rubinho.

Acho importante possibilitar que eles, cada qual a sua maneira, deem continuidade. Acredito que serão fiéis as características da linhagem, priorizando a funcionalidade, a resistência e a comodidade dos animais. Espero que sigam firmes no propósito, independente de modismos, e que continuem trabalhando com seriedade, humildade, competência e honestidade”.

* Nízia Aguiar Andrade veio a falecer no início desta semana. O portal Cavalus se solidariza com toda a família.

Alice Aguiar Junqueira

Natural de Santo Antônio do Amparo, Alice Aguiar Junqueira, hoje com 86a nos, mudou-se para Cruzília, em 1949, para se casar com Oswaldo Cruz de Azevedo Junqueira. Mas sua história e paixão pelo cavalo começou bem antes…

Alice conta, com carinho, que, ainda na casa de seus pais, na Fazenda Campo Alegre, o cavalo sempre teve grande importância para toda a família. Acima de tudo, era usado na lida, no lazer ou como meio de transporte.

Naquela época, era a única forma que muita gente tinha de se deslocar de um lugar a outro. Para estudar, por exemplo, ainda menina, Alice percorria uma légua de distância sobre o lombo de um cavalo quando assistia aulas na fazenda da avó.

De acordo com ela, cavalo bom era aquele que aguentava o “batidão”. Muitos eram identificados durante as caçadas, das quais o pai de Alice tanto gostava. Com uma saudade evidente na voz, ela diz se lembrar de ver o pai praticar o esporte, montado em exemplares imponentes e ágeis. Atividade sempre feita em grupo e que, às vezes, levava uma semana inteira.

Com tanta vivência em meio ao cavalo, não foi difícil entrar no ritmo da Fazenda Traituba, onde ela passou a morar depois de casada, na época com 19 anos. No criatório, sempre se identificou bastante com as paixões do esposo e da família Junqueira.

Consequentemente, vieram os filhos do casal e, inevitavelmente, o gosto por criar Mangalarga Marchador também tomou conta deles! O cavalo, como interesse em comum, fez, sem dúvidas, com que a família se unisse ainda mais.

De antemão, questionada a respeito do cavalo que mais marcou sua vida, Alice não tem dúvida e responde com precisão: “O Rádio, né?!” Garanhão que fez história não só na Fazenda Traituba, mas também em outros grandes criatórios, como Bananal e Cabeça Branca.

Por fim, a simpática senhora espera continuar vendo seus descendentes se dedicarem cada vez mais ao Mangalarga Marchador e deixando assim viva a memória de seu saudoso esposo.

Por Top Marchador
Crédito das fotos: Reprodução/Top Marchador

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