Proprietário da Coudelaria Ilha Verde, o paulistano é referencia quando o assunto é a raça. Acompanha agora também a carreira do filho no adestramento
Localizada em Araçoiaba da Serra, região conhecida como o ‘cinturão do cavalo’ no Estado de São Paulo, e distante cerca de 150 quilômetros da capital paulista, a Coudelaria Ilha Verde nasceu como um sítio. No início da década de 1990 era refúgio para os fins de semana do empresário José Victor Oliva. Inovador, empreendedor nato, visionário, também criador de cavalos, era o nome mais conhecido nas décadas de 1980 e 1990 quando o assunto era casa noturna em São Paulo.
Os cavalos entraram na história quase que por acaso. Victor ganhou uma égua Puro Sangue Lusitano do publicitário Eduardo Fischer, amigo e parceiro na campanha da cervejaria Brahma e criador da raça. A égua morreu, mas incentivado por Fischer Oliva usou o seguro para comprar novos cavalos.
O ano era 1992. O sítio começou a ganhar ares de haras, foi ‘rebatizado’ de Coudelaria Ilha Verde e deu início a uma seleção rigorosa. O cavalo, para Victor, foi sinônimo de mudança de vida. O ‘rei da noite’, por ser empresário ligado a casas noturnas badaladas, aproximou-se mais da família.
Faz questão de estar presente em todos os eventos que o filho participa. Na Ilha Verde, há também espaço para jovens se transformarem em cavaleiros. Tradicional do cavalo Lusitano, vê nas raças alemãs um futuro.
Os investimentos são altos e seu lado empresarial ajuda até hoje no desenvolvimento do Lusitano. Ele foi, inclusive, presidente da ABPSL entre 2003 e 2004, se fazendo valer bastante de sua expertise profissional. Por exemplo, foi o primeiro a realizar um leilão internacional da raça, trazendo para o Brasil não só investidores estrangeiros, mas também celebridades, grandes empresários e pessoas do showbizz.
Dentro do Lusitano raça, e do cavalo de uma maneira geral, ele é considerado uma pessoa extremamente inovadora. Por exemplo, conseguiu que cavalos Lusitanos desfilassem na São Paulo Fashion Week, no desfile do Ricardo Almeida. Também convenceu uma arquiteta a montar dentro da Casa Cor um haras, levando os cavalos Lusitanos para a mostra. Com essa visão de marketeiro brilhante, Victor vem sendo pioneiro em diversos aspectos.
No segmento, além da criação e seleção de cavalos atletas, Victor promove periodicamente o Leilão internacional Luso-Brasileiro e o IRDM – International Riding & Dressage Meeting -, evento que tem sido palco de seletivas de adestramento para Olimpíadas, Pan-americanos e Jogos Equestres Mundiais , leilão, expo de cavalos e entretenimento.
Qual era a meta quando começou?
Victor: Até hoje, buscamos produtos que se destaquem pela elegância, mansidão e versatilidade atlética. Sem abrir mão da milenar genética da raça conhecida mundialmente por características como montabilidade, mansidão, beleza e contribuição na formação de várias raças, inclusive no Brasil. A base do plantel foi formada por reprodutores e matrizes adquiridos nas principais coudelarias portuguesas e haras brasileiros.
Em 2006, a Coudelaria Ilha Verde ganhou um reforço com a aquisição de todo o plantel do ferro ‘Filhos do Vento’, do cineasta Jayme Monjardim. Os animais nascidos a partir destes cruzamentos ganharam o ferro ‘VOF’. Hoje, o plantel da Coudelaria Ilha Verde tem cerca de 100 animais.
Fale um pouco sobre a Infraestrutura
Victor: A Coudelaria Ilha Verde ocupa uma área de 54 alqueires, 35 dos quais destinados ao pastoreio dos animais. São vinte os piquetes formados por Tifton 85. A infraestrutura conta com três pavilhões de cocheiras com 60 baias, três pistas de adestramento (20m x 60m), uma pista coberta (20m x 40m), uma pista para treinos de Equitação de Trabalho e Salto (70m x 80m), e dois redondéis, um deles mecanizado. Também faz parte da área construída a sede e casas de funcionários, dez deles dedicados exclusivamente ao manejo e treinamento dos cavalos.
E foi uma paixão de pai para filho, correto?
Victor: Sim, a paixão pelo cavalo Lusitano contagiou a família, e em especial meus filhos João Victor e Antônio Victor. Desde muito cedo aprenderam a cavalgar, fazer equitação e aulas de adestramento inspirados em Rogério Clementino. Um ex-peão do haras que virou cavaleiro olímpico e foi o primeiro professor dos meninos.
Aos 12 anos João e Antônio estrearam nas pistas. João Victor em 2008, Antônio no ano seguinte. Eles são dedicados. Apoiamos e incentivamos, tanto eu como a mãe, em tudo. Os dois passaram a construir uma carreira brilhante, com títulos no campeonato brasileiro desde a estreia.
João está mais em evidência que Antônio nos tempos atuais.
Victor: Sim. Antônio deu uma pausa nas competições para se dedicar a carreira de DJ e aos nossos negócios, na Holding Clube – o maior grupo de live marketing do país e com capital 100% nacional, que tem, entre outras, as empresas Banco de Eventos, Samba Pro, Lynx, Cross Networking, Rio 360º e a Storymakers. João Victor passou a se dedicar totalmente ao mundo do cavalo, tornou-se a maior referência brasileira da modalidade na atualidade.
Paralelamente a carreira de atleta, também tornou-se criador. Hoje ele é o responsável pela seleção do plantel tanto do Puro Sangue Lusitano e de raças alemãs (Oldenburger). Ambas iniciadas em 2015 com o objetivo de obtenção de cavalos atletas para o adestramento.
O João é um estudioso das linhagens da raça, ele elabora o programa de reprodução e acasalamentos dos Lusitanos ferro ‘VOF’. Agora, além de representar o Brasil internacionalmente e se consolidar como criador, meu filho tem outros projetos em andamento, como treinar e preparar cavalos próprios e de terceiros e apresentá-los no circuito europeu.
Como foi essa transição das cocheiras às pistas?
Victor: Em 2003, a Coudelaria Ilha Verde começou a marcar presença nas pistas de competição, inicialmente na equitação de trabalho, e depois no adestramento clássico. A partir de 2006, passamos a marcar presença nas pistas nacionais e internacionais. Primeiro com Rogério Clementino, ginete do haras, e desde 2008, com Antônio e João Victor.
Para progredir, investimos na formação de uma equipe multidisciplinar. A Coudelaria Ilha Verde possui, hoje, a mais estruturada equipe de adestramento no Brasil, oferecendo aos atletas acompanhamento profissional em várias áreas desde sua concepção. Por seis anos, e até 2018, tínhamos como treinador do time o alemão Norbert van Laak. Ele treinou vários medalhistas olímpicos, campeões europeus e vencedores de finais de Copa do Mundo. Esse ano, quem assumiu a função de treinador foi o português Paulo Caetano.
Muitos títulos vieram!
Victor: Desde a estréia nas pistas de adestramento, em 2006, a Coudelaria Ilha Verde soma o maior número de títulos da modalidade no país. São mais de vinte títulos no Campeonato Brasileiro, participação em duas Olimpíadas (Rio 2016 e Pequim 2008), em quatro Pan-Americanos, considerando-se a participação de João Victor em Lima 2019 (Toronto 2015, Guadalajara 2011 e Rio 2007), em três Jogos Equestres Mundiais (Kentucky/EUA 2010, Normandia/França 2014 e Tryon/EUA 2018), em um Sul Americano (Chile 2014) e em uma final da Taça do Mundo de Dressage (Omaha, Estados Unidos, 2017).
E o João Victor, realmente, tem levado a bandeira da Coudelaria Ilha verde pelo mundo.
Victor: Ele é o principal nome do Ilha Verde Team e do Brasil no adestramento. Tem 23 anos e mora na Alemanha desde 2014. Em 2015 virou atleta militar e vem construindo uma brilhante carreira nas pistas, sem dúvida. Sua estreia já foi com vitória no campeonato brasileiro em 2008, aos 12 anos. Foi o primeiro de cinco títulos na principal competição da modalidade no país: Amador em 2008, Mirim em 2009, Junior em 2010 e 2011, Young Riders em 2012.
E desde 2014, integra o Time Brasil em desafios internacionais, sendo destaque em todos eles. Ganhou como melhor atleta da equipe nas Olimpíadas do Rio 2016; medalha de bronze por equipe no Pan-americano de Toronto 2015; medalha de ouro individual e por equipe no Campeonato Sul-Americano (Odersur) do Chile 2014; melhor atleta da equipe nos Jogos Equestres Mundiais da Normandia, na França, em 2014 e de Tryon, EUA, em 2018; melhor atleta do Brasil em uma Final da Taça do Mundo de Dressage, em Omaha, Estados Unidos, 2017.
Todas as suas conquistas em pista também renderam o reconhecimento do Comitê Olímpico Brasileiro. João ficou com o Prêmio Brasil Olímpico, considerado o ‘Oscar’ dos esportes no país, nos últimos cinco anos (2014 a 2018), além de ter sido indicado em 2013 e 2012. O Exército Brasileiro também o condecorou em março de 2017, com a Medalha do Mérito Desportivo Militar, a maior honraria concedida pelas Forças Armadas a atletas e personalidades ligadas aos esportes.
Colaboração: Rute Araújo
Fotos: Coudelaria Ilha Verde/Divulgação