Entre tantos fatores de cuidados com os cavalos, o Bem-Estar Animal durante o transporte é essencial
Hoje em dia, mais do que nunca, o Bem-Estar Animal deve ser levado em conta em cada passo do cuidado com os equinos. Cuidados esses, principalmente, no deslocamento para eventos hípicos. Com as provas estão praticamente todas paralisadas por conta da pandemia da Covid-19, pode ser o momento para você se atualizar sobre esse assunto e entender melhor como se transportar um cavalo com segurança.
Em primeiro lugar, o deslocamento requer, muitas vezes, que os cavalos percorram grandes distancias dentro de trailer e caminhões. O Bem-Estar Animal nesse contexto é, acima de tudo, sobre ter conhecimento dos diversos pontos que podem comprometer a saúde dos cavalos. Transportar com segurança é de extrema importância, visto que se pode minimizar diversas condições negativas.
Dessa forma, para uma boa avaliação há uma consulta que pode ser feita dos cinco critérios propostos em 1993 pelo Farm Animal Welfare Council. De fato, esse documento classifica o nível de Bem-Estar Animal e é conhecido mundialmente como as ‘Cinco Liberdades’: Livre de fome e sede; desconforto; dor, injuria e doença; livre para expressar o comportamento normal; e de medo e estresse.
Portanto, além das obrigações sanitárias exigidas para o transporte – AIE, Mormo, Influenza – e a GTA – Guia de Transporte Animal, não existem normas estabelecidas para o transporte de equinos que se preocupem com a necessária prevenção para o Bem-Estar Animal. Antes de tudo, durante o período em que estão sendo transportados, frequentemente os animais são submetidos a sensações de medo, fome, sede, excitação, dor e desconforto térmico levando a altos níveis de estresse.
Embarque e desembarque
O uso de caminhões, chamados boiadeiros, nem sempre estão preparados para o transporte de equinos. Ao serem contratados (frete), transportam bovinos e equinos necessitando de embarcadores/desembarcadores. Nem sempre obedecem um padrão único, além da habilidade do motorista em manobrar para um melhor posicionamento na estrutura em alguns casos improvisadas.
São inúmeros os acidentes que ocorrem durante o transporte de cavalos, sendo os mais comuns nos locomotores e cabeça. Assim sendo, geralmente acontecem durante embarque e desembarque. Além disso, freadas bruscas durante a viagem, falta de habilidade do motorista em curvas acentuadas, etc.
Desse modo, recomenda-se o uso de protetores de locomotores e caudas, assim como um melhor posicionamento do animal no veiculo. Sem esquecer, entretanto, da atenção e prudência do motorista e intervalos (paradas) a cada três horas para descanso, revisão e ações preventivas.
Privação de água e alimentos
Em contrapartida, se houve privação de água e alimentos por um longo período, podem ocorrer Pleuropneumonia ou Febre do Transporte. Doença que está relacionada a queda da imunidade devido ao estresse. Outro fator a ser observado é o animal viajar com cabrestos amarrados impedindo-o de abaixar a cabeça, uma vez que reduz a defesa natural das vias respiratórias. A falta de ventilação também provoca problemas respiratórios.
A Pleuropneumonia é uma enfermidade caracterizada pela inflamação do parênquima pulmonar que se estende à pleura. A resposta a essa inflamação é a formação de transudatos ou exsudatos, que se acumulam dentro do espaço pleural. Esse acúmulo pode ser tão grande que gera um impedimento da expansão pulmonar gerando uma dificuldade respiratória importante.
Na anamnese, usualmente, é relatado que os animais afetados foram transportados para participação em provas ou exposições, onde entraram em contato com outros animais e permaneceram em ambientes pouco ventilados, com presença de poeira. Comumente, são equinos em treinamento, que passaram por um aumento na exigência dos exercícios e/ou que competiram recentemente apresentando alto grau de estresse.
Em viagens onde ocorre a privação de água, ocorre também o aumento na frequência respiratória, nos batimentos cardíacos e alterações sanguíneas e desidratação. Esta, por sua vez, é um problema muito mais frequente. A desidratação pode desencadear varias doenças tais como a laminite, impactações de cólon (cólicas), doenças musculares e redução da função renal.
Condições de Transporte
Os principais problemas acontecem durante embarque ou desembaque, pois neste momento ocorrem acidentes, provocando lesões, algumas graves inutilizando o cavalo parcialmente ou definitivamente para atividades esportivas. Animais que apresentam maior resistência ao embarque, tem maior predisposição ao estresse.
O treinamento favorece ao animal um melhor condicionamento, eliminando o estresse e habituando o animal ao embarque e desembarque em caminhões, trailers, reboques, carretas. Os cavalos que não foram treinados previamente rejeitam rampas e embarcadores.
O tempo de viagem interfere na fisiologia do cavalo, ocorrendo após muitas horas de viagem, mudanças em seu metabolismo muscular, perda de peso, desidratação, baixa imunidade e estresse elevado. A melhor posição de viagem é em diagonal, já que apresenta maior estabilidade do que posições laterais e paralelas.
É fundamental conhecer afundo sobre o Bem-Estar Animal, sendo uma obrigação de todos os envolvidos com equinos saber como o animal se comporta. Sobretudo, estar ciente das responsabilidades e dos cuidados no transporte, visando proporcionar melhores condições como conforto, segurança e o seu bem estar.
Colaboração: Roger Clark
Médico Veterinário, Juiz e Inspetor Zootécnico ABQM e ABCPaint, consultor em Comportamento e Bem-Estar Animal
Crédito das fotos: Divulgação/Pexels
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