Saúde & Bem-estar

Hemiplegia Laringeana em Equínos

Publicado

⠀em

Seus principais sinais clínicos são ruídos inspiratórios, desconforto respiratório e queda do desempenho do animal

 A Hemiplegia Laringeana é caracterizada pela paresia ou paralisia da cartilagem aritenóide, causada por vezes por uma degeneração do nervo laríngeo recorrente, que ocasiona grande atrofia muscular da região.

Uma das afecções mais comumente
encontradas na laringe é a hemiplegia
laringeana

Esta patologia, de modo geral, impede a abertura fisiológica das cartilagens, e portanto, dificulta a entrada e captação de oxigênio necessário ao animal. Seus principais sinais clínicos são ruídos inspiratórios, conhecidos como rouquidão, além de desconforto respiratório e queda do desempenho do animal.

Para fechar o diagnóstico da doença, deve-se realizar exames complementares e principalmente a endoscopia, na qual permite a visualização desta falha no fechamento das cartilagens aritenóides. Há diversos tipos de tratamentos disponíveis, mas as técnicas mais utilizadas consistem na laringoplastia, onde frequentemente é realizada a vetriculectomia ou ventriculordectomia como meio de associação.

Sabe-se que a evolução da espécie equína se deu de maneira gradativa, e em consequência de sua grande aptidão ao trabalho, estes animais passaram a ter maior atenção por parte dos profissionais da área, principalmente no que se refere ao sistema respiratório dos mesmos (BONNIE et al, 2014).

A capacidade respiratória dos equinos influencia diretamente no seu desempenho, e à medida em que são treinados, tais características relacionadas à performance, tendem à melhorar, trazendo então melhores resultados competitivos à estes animais. Todavia, como consequência desta evolução, certas doenças respiratórias foram tomando grande espaço na literatura, pelo fato de ter o poder em diminuir drasticamente o condicionamento atlético de equinos acometidos (BONNIE et al, 2014).

ANATOMIA LARINGEANA

A laringe é caracterizada por um órgão tubular, presente na região cervical dos animais, que liga a faringe à traquéia. Além disso está suspensa pelo aparelho hioide e contida no espaço intermandibular (DYCE et al, 2010).

Em sua mucosa, há duas bolsas externas chamadas de ventrículos. Lateralmente à elas, estão situadas as pregas vocais, que por sua vez, estão recobertas pela lâmina tiróidea (DYCE et al, 2010).

Algumas das funções básicas deste órgão são o impedimento da aspiração de alimentos que fatalmente seguiriam para a traquéia, regulação do volume de ar captado, e não menos importante, participa da vocalização do animal já que as pregas vocais fazem parte de sua anatomia (DYCE et al, 2010).

 DEFINIÇÃO DE HEMIPLEGIA LARINGEANA

Segundo BERLINCK et al 2000, a Hemiplegia Laringeana é uma doença comumente vista em cavalos, já que os mesmos possuem apenas uma maneira de obter oxigênio do meio externo para o meio interno, que é a partir das narinas. Ou seja, o equíno é uma espécie na qual não respira ou dificilmente realiza suas trocas gasosas a partir da cavidade oral, diferente de outras espécies.

Pode ser definida como a degeneração do nervo laríngeo, responsável pela inervação local do órgão. Esta disfunção nervosa leva à atrofia da musculatura intrínseca da laringe, que passa a refletir na região facial dos equinos, e consequentemente uma paralisia do órgão em questão (BERLINCK et al, 2000).

Estudos de DIXON et al, VANS, CAHILL & GOULDEN, STICK, mostram que a enfermidade tem caráter espontâneo e agudo, porém nem sempre os sinais clínicos são bem diagnosticados apesar de levarem à dificuldade da passagem do ar e movimentos limitados de abdução e adução de suas estruturas.

 PATOGENIA

Suas causas não são bem definidas, e constantemente considerada uma doença idiopática. Porém existem inúmeras hipóteses estudadas por Cahill e Goulden: as possíveis causas envolvem, portanto, uma certa lesão a nível nervoso, resultando numa afuncionalidade do nervo laringeano.

Pode-se citar injeção de substâncias irritantes (frequentemente aplicadas na região cervical esquerda, que também é uma possível hipótese para justificativa de maior incidência da doença do lado esquerdo), doenças primárias como abcessos da bolsa gutural (empiema), micoses da bolsa gutural, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, intoxicações por organofosforados ou infecções variadas dos tipos virais e bacterianas do trato respiratório, ou qualquer outra causa que leve à isquemia e consequente neuropatia (DIXON et al, 2000).

Causas diversas podem levar à anormalidades do órgão, e inicialmente são vistas principalmente no músculo cricoaritenóideo dorsal (abdutor da cartilagem aritenóidea) e pregas vocais, e posteriormente podem atingir outros músculos (DYCE et al, 2010).Os animais afetados possuem a famosa ‘’ronqueira’’, que é o ruído causado pela vibração do ar sobre as paredes da prega, que permanecem fláscidas (DYCE et al, 2010). SINAIS CLÍNICOSSegundo Ainsworth, 2000 a maioria dos animais com hemiplegia laríngea unilateral apresenta-se com história de intolerância ao exercício e produção de um ruído insipiratório descrito como ronqueira. Por outro lado equinos com paralisia bilateral podem exibir desconforto respiratório e requerer traqueostomia de emergência. Nos casos de paralisia bilateral secundária a produtos tóxicos, a sintomatologia clinica pode não se manifestar durante varias semanas após a agressão toxica.

Durante o exercício, entretanto, há piora da hipercapnia e da hipoxemia fisiológicas naturalmente encontradas. A resistência aumenta o trabalho da respiração e pode predispor ao desenvolvimento de fadiga muscular respiratória (ALLEN & FRANKLIN, 2010).

Em contrapartida, Ducharme & Hackett 1991, existe um consenso entre a maioria dos clínicos que os graus I e II de hemiplegia, não interferem com a função atlética. Entretanto tal consenso não existe relação com o grau III, pois os resultados observados em equinos submetidos a esteiras de exercícios, mostraram que em alguns casos os animais eram capazes de realizar a abdução total da cartilagem, enquanto que outros não. Nestes casos, o mais indicado é observar o animal por mais tempo, e persistindo a queixa do proprietário e\ou treinador, reavaliar-se o caso e com base nos achados dessa nova avaliação, optar-se ou não pelo tratamento.

 MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

Durante o diagnóstico da doença, é comum na anamnese, reclamações sobre queda de performance de cavalos atletas. Isso se deve à sua má perfusão no que se refere à oxigênio, já que sua captação tem sido dificultada (RAKESTRAW et al, 2000).

De acordo com KING et al, além dos sinais clínicos algumas vezes perceptíveis, pode-se realizar uma avaliação de hemogasometria, onde muito provavelmente encontraremos uma hipóxia, acidose e hipercapnia decorrentes da falha na troca de gases e baixa oxigenação.

Espera-se, durante o exame físico do animal, que as frequências cardíaca e respiratória se encontrem alteradas (aumentadas) por uma tentativa de compensação em manter a homeostasia do equíno (BERLINCK et al, 2000).

O método mais eficiente e mais comumente utilizado para fechar diagnóstico, é a endoscopia laringeana, por ser um exame fácil e bastante confiável (RAKESTRAW et al, 2000).

Deve-se analisar a movimentação das cartilagens aritenóides, que provalmente estarão abaixo da normalidade em animais acometidos, além do diâmetro da laringe, possivelmente diminuído/colapso, o que justificará a dificuldade respiratória do animal (RAKESTRAW, 2000).

Durante o exercício físico, o uso do endoscópio de fibra ótica e com luzes, também pode ser um grande aliado para diagnóstico definitivo, pois segundo RAKESTRAW et al 2000, permitirá a visualização real de movimentações dos músculos intrínsecos durante as fases respiratórias, facilitará na classificação gradual da doença e seu comprometimento, além de fornecer informações que levem ao diagnóstico diferencial para outras patologias do trato respiratório.

Segundo AINSWORTH 2000, há uma graduação conhecida, que tem como objetivo facilitar o diagnóstico e a identificação de cavalos com acometimento mais sério e propensos à cirurgias, Sendo que animais de grau I e II são equinos que normalmente não são comprometidos durante o exercício, portanto nem sempre serão canditados à cirurgia, diferente dos portadores de grau III em diante:

Grau I: Abdução e adução total e sincrônica das cartilagens aritenóides esquerda e direita; Grau II: Movimento assincrônico com hesitação, vibração paresia do adutor da aritenóide esquerda durante inspiração ou expiração, ou ambas, mas abdução completa induzida por deglutição ou oclusão nasal; Grau III: Movimento assincrônico da aritenóide esquerda durante inspiração ou expiração, ou ambas, mas abdução completa não induzida e mantida por deglutição ou oclusão nasal; Grau IV: Assimetria acentuada da laringe em repouso e ausência de movimento substancial da aritenóide esquerda.’’

 TRATAMENTO

Os tratamentos cirúrgicos disponíveis para HL incluem laringoplastia, ventriculectomia, ventriculocordectomia, reinervação do musculo cricoaritenóide dorsal e ocasionalmente aritenóidectomia. (Enciclopédia Biosfere, 1952).

A técnica mais comum é a laringoplastia protéstica. Frequentemente vetriculectomia ou ventriculordectomia é realizada em conjunto com a laringoplastia ou reinervação da laringe, pois reduzem o ruído inspiratório. Sendo muito para cavalos de apresentação não corredores. (FULTON, 2012).

Segundo Kraus et al. (2003) documentaram índices de recuperação pós-laringoscopia associada a ventriculectomia ou ventriculocordectomia de 82% em cavalos de tração e 69% em cavalos de corrida, justificando essa diferença sobre a menor demanda extenuante aos quais os equinos de tração são submetidos quando comparado aos animais de corrida.

Porém, a experiência clinica sugere que somente ventriculocordectomia bilateral permanente, apresentar resultados favoráveis na diminuição do ruído. Outra vantagem sobre a laringoplastia é que complicações pós-operatórias após a laringoplastia são mais prevalentes e graves, podendo incluir disfagia, descarga bilateral de alimentos, água, saliva, pneumonia por aspiração, tosse crônica, infecção da ferida, insuficiência da prótese e condrite. Devido a muitos cavalos ainda produzirem algum grau de ruído, durante o exercício. (FULTON, 2012; DORBNBUSCH, 2008).

Ocasionalmente aritenoidectomia parcial é o tratamento escolhido para tratar a hemiplegia laríngea quando há malformação congênita das cartilagens. Essa técnica tem demonstrado resultados em nível semelhante à laringoscopia. (TURNER & McILWRAITH, 2002; FULTON, 2012).

O enxerto neuromuscular em pedículo é adequado para cavalos de todas as idades, mais é comumente usado em cavalos jovens, onde o retorno às atividades atléticas não é esperado antes de quatro meses após a cirurgia. Apesar do sucesso da reinervação seja observado em cavalos afetados com grau IV recorrente, cavalos hemiplégicos com grau III, são mais beneficiados, pois o grau de atrofia muscular está menos presente na ultima (FULTAN & ANDERSON, 2009; FULTON, 2012).

 Por Nathalia Cardoso, Thais Petersen, Hélio Itapema / Clínica de Equinos Itapema

WordPress Ads
WordPress Ads