Quais os primeiros cuidados que um potro precisa ao nascer?

A Clinica Pro Equus vem realizando um novo conceito em neonatologia no Brasil

O mais importante quando um potro nasce é garantir que ele mame o colostro o mais rápido possível, no máximo até duas horas pós-parto. O neonato equino nasce sem anticorpos (eles não são transferidos através da placenta), e ele depende do colostro para adquirir esses anticorpos e se proteger contra infecções. Quanto mais o potro demora para mamar o colostro, mais tempo ele passa exposto a patógenos do ambiente sem a proteção adequada do seu sistema imune.

Após 24 horas de vida o intestino do recém-nascido não é mais capaz de absorver as grandes moléculas de anticorpos e a única forma de adquiri-las passa a ser através da transfusão de plasma. Além disso, o colostro também é fonte de nutrientes e energia, e seu consumo evita que quadros de hipoglicemia e hipotermia se instalem.

O cordão umbilical não deve ser cortado; o correto é esperar que ele se rompa naturalmente quando o potro se movimenta ou quando a égua se levanta. Também são cruciais os cuidados com a desinfecção do coto umbilical, que deve ser feita com soluções a base de clorexidine ou iodo (no máximo a 2%). Soluções muito concentradas podem causar a inflamação da estrutura e dificultar sua cicatrização, mesmo quando não há infecção.

O ideal é que todo potro recém-nascido seja examinado por um médico veterinário, pois os primeiros sinais clínicos de enfermidades importantes dos neonatos são muito sutis e podem facilmente passar despercebidos. O diagnóstico correto e o tratamento precoce aumentam muito as chances de sucesso.

Algumas complicações podem aparecer em potros com horas de vida. A primeira delas é a hipoglicemia, quando potro nasce com poucas reservas energéticas. A hipoglicemia pode se instalar em qualquer neonato que, por qualquer motivo, não mame até duas horas de vida. Isso pode ocorrer em casos debilidade do potro, de rejeição por parte da égua, ou até mesmo de uma contratura tendínea, pois o potro não consegue se levantar ou se manter em pé para mamar.

Outro problema é a hipotermia, já que o potro nasce molhado e, invariavelmente, perde temperatura quando exposto ao ambiente extra-uterino. A termorregulação ocorre de forma natural em animais saudáveis, mas pode ser um problema para potros hipoglicêmicos, prematuros ou que estejam enfrentando alguma infecção, provavelmente adquirida no útero.

As infecções adquiridas no útero podem afetar vários órgãos do potro, dificultando a transição para a vida extra-uterina e produzindo uma série de disfunções importantes, que podem rapidamente evoluir para quadros graves de septicemia.

Se um potro precisar de cuidados mais específicos, um médico veterinário deve ser chamado para avaliar o animal e diagnosticar o problema. Diferente do adulto, o neonato pode parecer normal e estar gravemente comprometido em algumas horas. Por isso, exige muita atenção e muitas horas de dedicação.

Alguns animais podem ser tratados na propriedade, mas outros precisam de cuidados intensivos, 24 horas por dia, até que o quadro clínico seja estabilizado. É importante que o veterinário determine até que ponto o potro pode ser tratado no haras e quando é melhor que ele seja encaminhado para um centro especializado onde poderá ser monitorado e tratado da forma adequada.

O principal diferencial dos cuidados do especialista com os potros é conhecer as particularidades da fisiologia neonatal. O organismo do recém-nascido não funciona da mesma forma que o organismo de um cavalo adulto. Existem grandes diferenças em relação às enfermidades que acometem os potros e, principalmente, em relação à forma de tratá-las.

Muitos medicamentos que funcionam bem para o adulto, não são bem absorvidos pelos potros. Devemos selecionar corretamente os melhores medicamentos para cada caso e, ainda, ajustar as doses e intervalos de aplicação de acordo com a idade do potro. As chances de sucesso no tratamento são muito maiores quando o potro recebe cuidados especializados.

Na Clinica Pro Equus, onde eu atuo, recebemos potros trazidos diretamente pelos proprietários ou encaminhados por colegas veterinários. Quando o potro chega à clínica, ele é examinado, diagnosticado e é elaborado um plano de tratamento. Nosso trabalho é parte de um novo conceito em neonatologia no Brasil, pois a equipe está focada e dedicada em atender os potros de forma especializada, considerando todas as particularidades da fisiologia neonatal e todas as diferenças que existem em ralação ao tratamento de cavalos adultos.

Possuímos instalações e equipamentos especialmente preparados para oferecer os melhores cuidados e tratamentos disponíveis. Nos casos mais graves, de potros muito comprometidos, é montada uma verdadeira UTI neonatal, na qual o potro fica acompanhado de sua mãe, recebendo monitoramento e cuidados intensivos.

Contamos com os serviços de ultrassonografia, radiologia, endoscopia, fisioterapia e medicina preventiva, que inclui a identificação e monitoramento de potros de alto risco, dosagem de anticorpos, terapia com plasma hiperimune, acompanhamento clínico e ultrassonográfico de potros em propriedades com histórico de mortalidade e casos de Rhodococcus.

Para dos casos mais delicados, a forma de transporte depende do estado clínico do animal. Muitos potros são encaminhados dentro de caminhões junto com as suas mães. Outros, mais debilitados, vêm de carro, no colo de tratadores e proprietários.

O tempo de internação sempre depende da severidade da doença do potro e da resposta que ele apresenta com o tratamento. Alguns casos são mais simples, e o potro precisa apenas de ajuda especializada para se adaptar à vida extra-uterina.  Outros casos são mais complexos, sendo necessários monitoramento e tratamento intensivos e exigindo um período maior de internação até que o animal seja estabilizado.

As instalações da Clínica Pro Equus são especialmente adaptadas às necessidades de cada potro e do quadro clínico que ele apresenta. Quando alguns potros chegam, estão tão debilitados que não conseguem se levantar sozinhos ou se manter em pé. Nessa fase, são mantidos em baias especiais do centro de neonatologia, onde pode receber todos os cuidados necessários, 24 horas por dia, sem que tenha que ser separado da sua mãe.

Isso reduz o estresse tanto para o potro quanto para a égua, mantém o vínculo entre os dois e ainda facilita e otimiza o trabalho dos veterinários. Apesar de estarem na mesma baia, potro e égua ficam separados por uma divisória que permite, por exemplo, que o potro receba oxigênio, fluídos e nutrição via intravenosa de forma ininterrupta e seguindo exatamente as taxas calculadas pelo veterinário, já que esse sistemaevita que os equipos se enrosquem ou sejam torcidos, interrompendo o fluxo.

Isso pode parecer apenas um detalhe, mas faz toda a diferença, pois garante a qualidade do tratamento instituído e ajuda o potro a se recuperar mais rápido. Para ver mais conteúdo como esse clique aqui.

Por Dra Ana Claudia Gorino
Médica Veterinária Especializada | Responsável pelo setor Neonato da Clinica Pro Equus | Graduação em Medicina Veterinária UNESP Botucatu | Residência em Clínica Médica de Grande Animais – UNESP Botucatu | Experiência Internacional Especializada no Rood and Riddle Equine Hospital, Hagyard Equine Hospital, Scone Equine Hospital
Foto: Cedida

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