O método conhecido como transferência de embriões, ou transplante de embriões, consiste na coleta de óvulos fertilizados (embriões) doados por uma égua de carga genética superior, para a transferência ou implantação no útero da égua definida como receptora, que por sua vez, terá a função de gerar, amamentar e criar esse potro.
As éguas são classificadas como ‘poliéstricas estacionais’. Isto significa que elas possuem ciclos normais apenas durante parte do ano – da primavera ao final do outono – época em que os dias são mais longos. Ciclo estral é definido como o período entre uma ovulação e outra e tem duração aproximada de 21 dias.
Utilizando-se a TE – transferência de embrião – é possível acelerar o melhoramento genético do plantel, bem como aumentar o número de descendentes de éguas com carga genética comprovadamente superior.
O ciclo estral apresenta duas fases distintas: na primeira, que dura aproximadamente de cinco a sete dias, denominada estro ou ‘cio’, a égua aceita a monta e está apta à concepção. A segunda fase do ciclo estral é denominada diestro e é caracterizada pela presença de ‘corpo lúteo’ no ovário e pela não aceitação do garanhão. Esse período se prolonga em média por 16 dias.
Cada égua possui dois ovários e em cada um deles existem centenas de milhares de ovócitos. Durante o estro ou ‘cio’ as éguas desenvolvem um ou dois desses ovócitos apenas, que se tornam dominantes e ao término do estro ocorre a sua liberação, num fenômeno denominado ovulação. Após a liberação, esses óvulos poderão ser fertilizados através da monta natural ou inseminação artificial.
Embora a égua possua esse número de óvulos nos ovários, ela não poderá ter centenas de milhares de descendentes, já que o número de vezes que uma égua pode ovular e, consequentemente, emprenhar é bastante limitada devido ao longo tempo de gestação e da sua curta vida reprodutiva.
Vantagens da Transferência de Embriões
A transferência de embriões oferece muitas vantagens ao criador. Uma delas é a obtenção de potros a partir de éguas idosas que se tornaram incapazes de gerá-los. Além disso, com esta técnica, pode-se aumentar o número de potros por fêmea em uma estação de monta, podendo-se aproveitar animais zootecnicamente superiores, obter produtos de fêmeas com distúrbios reprodutivos ou locomotores, além de acessar mais rapidamente a fertilidade dos garanhões e reduzir o intervalo entre gerações.
Outra grande vantagem, é a possibilidade de se manter uma égua em atividade esportiva e ainda obter mais de um produto por ano desta égua, além de acelerar o programa de seleção, visto que com a TE podemos obter um produto de uma égua de apenas dois anos que ainda não tem maturidade necessária para a gestação, mas já está apta e fértil para produzir embriões.
A TE permite ainda otimizar a influência genética transmitida pela mãe aos seus filhos, podendo-se manter essas fêmeas em treinamento para práticas esportivas ou eventos de exibição, pois elas são mantidas vazias enquanto seus filhos estão sendo gestados por éguas receptoras, ou seja, éguas zootecnicamente menos importantes e de valor reduzido.
Nos equinos o número de vezes que uma fêmea pode emprenhar é limitado pela longa duração da gestação (330 – 360 dias) e, geralmente, apenas um óvulo é liberado por ciclo estral. Com a técnica de TE o número de descendentes que uma fêmea pode produzir durante a sua vida reprodutiva pode ser bastante aumentado, já que ela tem a função apenas de fornecer o embrião, contendo material genético a uma égua que não teria função no plantel, por não possuir qualidade genética. Assim, teremos o grupo de doadoras com genética superior e o grupo de receptoras com habilidade materna para gerar e criar os potros.
O ideal é que as éguas classificadas como éguas doadoras, permaneçam vazias, para que se possa extrair o máximo de descendentes o quanto antes na estação seguinte e preservar seu trato reprodutivo. Podemos citar o seguinte exemplo: uma égua doadora, poderia, em tese, produzir um único produto ao ano, ao passo que quando entra num programa de TE, poderá produzir tantos potros quantos a sua associação permitir registrar a partir de embriões transferidos. Assim, em uma associação que registra três produtos/ égua/ ano em três anos, ao invés de termos três produtos, poderíamos obter nove, acelerando o melhoramento genético.
Escolha das doadoras
Vários fatores devem ser considerados na seleção de éguas como doadoras de TE. A história reprodutiva da égua, as restrições de registro da raça e o valor potencial do potro são algumas considerações importantes.
As candidatas em potencial para serem doadoras são:
1 – Éguas velhas impossibilitadas de gestar;
2 – Éguas em treinamento e/ou competição;
3 – Potras de dois anos;
4 – Éguas com histórico de perda embrionária por problemas hormonais ou endometriais ou ainda com enfermidades físicas adquiridas ou com aleitamento prejudicado e habilidade materna reduzida;
5 – Éguas com elevado valor zootécnico
Escolha das receptoras
São escolhidas para serem receptoras as fêmeas que apresentam uma carga genética inferior, associada a adequado ‘score’ corporal, boa habilidade materna, além de trato reprodutivo com condições permissivas do desempenho de tal função.
O sucesso da TE em éguas é decorrente de uma série de fatores, entre os quais: a seleção do garanhão quanto à qualidade do sêmen; qualidade e idade das receptoras selecionadas, bem como proporcionalidade de três receptoras para cada doadora de embrião, possibilitando a sincronização dos animais e sua classificação; seleção das doadoras, por critérios de idade e fertilidade; taxa de recuperação embrionária (variável de acordo com os animais envolvidos); técnica utilizada para coleta, manipulação e inovulação; idade, qualidade e tempo de estocagem do embrião.
Como visto, a técnica de TE promove sinergia ao haras, no sentido de potencializar as funções de cada animal, do menos ao mais favorecido geneticamente.
Por Dra. Valéria Castelo – especialista em reprodução
Foto: Divulgação/FreeImages
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