O termo “neonato” deriva do latim natus, que significa nascer. Sobretudo, ele se refere ao recém-nascido durante as primeiras semanas de vida, quando o potro atravessa um período de adaptação à vida extra-uterina.
Dessa forma, ele precisa fazer a transição fisiológica da vida fetal – na qual tem dependência total da égua para sua nutrição, excreção e manutenção da homeostase -, para uma vida extra-uterina independente.
Portanto, considerando o tempo de maturação de todos os órgãos e funções, definiu-se o período neonatal como os primeiros 30 dias de vida do potro.
Adaptação e maturação
Como resultado, as mudanças pelas quais o neonato deve passar são profundas e envolvem, de forma mais ou menos intensa, quase todos os órgãos. Contudo, a adaptação de alguns órgãos é mais lenta do que em outros e também há variação entre indivíduos.
Antes de mais nada vale destacar que a habilidade de se adaptar rapidamente é crítica para a sobrevivência dos potros. Especialmente em casos em que o parto não é assistido, impossibilitando intervenção imediata.
Sistemas e funções
O potro começa a se preparar para a transição fetal no final da gestação. Ou seja, órgãos endócrinos se tornam mais ativos, produzindo hormônios essenciais no período perinatal. O funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal garante um pico de cortisol fetal, fundamental no desenvolvimento funcional e estrutural de uma série de tecidos diferentes, incluindo pulmões, fígado, rins e trato gastrintestinal, além de estimular ventilação pulmonar e gliconeogênese.
Potros não são cavalos pequenos!
Precisamos sempre ter em mente que o organismo de um neonato não funciona da mesma forma que o organismo de um cavalo adulto. O recém-nascido possui uma forte memória fetal. Na prática clínica, isso significa que o estresse e doenças atrasam a transição da fisiologia fetal para a fisiologia pediátrica e reverter a fisiologia já adaptada para um estado mais familiar ao neonato – a fetal.
Muitas vezes o maior desafio é identificar em qual estágio da transição fetal um potro doente se encontra e como aplicar o melhor plano de tratamento para cada indivíduo.
Aplicação prática
A fisiologia única implica em muitas diferenças farmacológicas entre equinos adultos e potros. Desta forma, deve-se considerar que a absorção, distribuição, metabolismo e/ou eliminação dos medicamentos também são diferentes, tornando-se difícil extrapolar diretamente as doses utilizadas nos adultos para os potros.
O balanço hidro-eletrolítico também pode ser um desafio, especialmente em neonatos doentes, e a fluidoterapia deve ser cuidadosamente calculada para cada caso. Potros que sofreram hipóxia intra-uterina, por exemplo, tendem a apresentar permeabilidade vascular aumentada e acumular líquido no interstício, enquanto sofrem de hipovolemia.
A fluidoterapia em excesso pode ser fatal nesses casos. Quando levamos em consideração todas as particularidades fisiológicas do neonato, temos maiores chances de oferecer o tratamento mais adequado a cada animal.
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Por Ana Claudia Gorino e Alfredo Poci Ferri, Médicos Veterinários da Clínica Equus
Crédito da foto: Divulgação/ProEquus