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DNA: Por dentro do exame dos equinos

A Doutora em Biologia Molecular Dra. Fernanda Dalio explica como funciona a coleta de material para a análise de DNA nos equinos

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A maioria dos seres vivos tem o seu código de identificação genética, seu DNA, e é isso o que torna um indivíduo único. O código genético é herdado pela mãe e metade pelo pai – o que também faz com que seja possível identificar os genitores do indivíduo a partir do teste de paternidade. Com os equinos não é diferente. É o teste de paternidade que possibilita ao criador, um controle efetivo da genealogia de sua criação, podendo tanto acompanhar os animais nascidos em seu plantel, como garantindo a biossegurança de suas transações comerciais.

Durante a realização do teste de paternidade do seu equino, você recebe o relatório de ensaio, ou seja, o laudo, e com ele procede com o registro do animal. No entanto, por trás desse documento repleto de letras e siglas com um resultado de inclusão ou exclusão do vínculo genético, existe uma das técnicas mais bem fundamentadas da Biologia Molecular sendo aplicada para melhoria do seu plantel.

Vamos entender como isso acontece?

O laboratório recebe a amostra de pelo que foi coletada pelo inspetor veterinário, e procede inicialmente com a triagem deste material. Logo, verifica se esses pelos contêm bulbos suficientes para que o DNA seja extraído deles. 

Uma nota: diferente do que muitas séries de CSI mostram na televisão, para se extrair material genético de fios de cabelo ou de pelos é necessário uma quantidade razoável deste material, e que contenham bulbos que são o que chamamos popularmente de raiz do fio de cabelo ou do pelo.

Finalizada a triagem e a identificação pelo laboratório, o material é encaminhado para extração de DNA. Nesta etapa ocorre o rompimento das células do bulbo para que o DNA, que fica guardado no núcleo dessas células, seja exposto, já que é esse material que precisamos para fazer a análise.

Diferentes métodos para a extração do DNA

É importante frisar que cada laboratório pode utilizar diferentes métodos para realizar essa técnica, pois existem diversas formas de extração de DNA, sendo elas algumas vezes até mesmo automatizadas.

Prontinho! Agora com o DNA do seu equino extraído, é a vez da técnica de PCR-Multiplex entrar em ação. Parece complexo, né? Mas na verdade esta técnica é muito utilizada já fazendo parte da rotina diária de laboratórios de biologia molecular.

Após a PCR-Multiplex, a amostra vai para um sequenciador genético e é nesta etapa que vamos identificar o perfil genético do seu equino. Aqui, vamos encontrar as 17 regiões microssatélites, ou seja, os Short Tandem Repeats (STR).

O que são os STR?

STR são regiões do DNA com alta taxa de mutação e altamente polimórficas, ou seja, são regiões que se tornam bons marcadores para diferenciar os indivíduos, mesmo que de uma mesma espécie. Essas regiões vão ser descritas no relatório de ensaio como locus.

As 17 regiões microssatélites definidas para equinos, foram escolhidas em consenso por membros da Sociedade Internacional de Genética Animal (ISAG) para que uma padronização com capacidade de distinguir cada indivíduo da espécie equina pudesse estar presente em todo o mundo.

Distinguindo os alelos presentes nas 17 regiões, o sequenciador irá gerar um gráfico, um eletroferograma, que será analisado pela equipe técnica do laboratório, quando, desta forma, o perfil genético do equino estará definido. Os 17 locus serão preenchidos por letras que representam os alelos doados – sendo um pela mãe e um pelo pai.

Agora, é possível proceder com a análise de vínculo genético e dizer se os genitores indicados são mesmo os pais do indivíduo. Todas as 17 regiões STR ou locus serão comparadas entre o filho e os genitores – isso é chamado de análise de trio.

Vínculo genético

Acompanhando a imagem podemos observar que existe a comparação se o indivíduo é portador de um alelo que veio da mãe indicada e outro do pai indicado. Caso todos os locus comparados confirmarem essa doação, o resultado será de qualifica, o que quer dizer que o vínculo genético está estabelecido entre os animais.

Se alguma região STR informar um alelo que não se caracteriza como doado por algum dos genitores indicados, o analista procederá com análises de painéis adicionais, ou seja, outras regiões STR serão analisadas – no caso dos equinos, essas regiões são chamadas de TKY.

Caso essas análises também não sejam capazes de incluir o vínculo genético, o analista pode avaliar se a questão envolve mutações que muitas vezes podem estar presentes no código genético. Se as duas hipóteses forem descartadas, o resultado da análise será não qualifica, quando não há vínculo genético estabelecido entre os indivíduos analisados.

No caso de não qualificar um dos genitores, é possível a indicação de outros animais para que novas análises sejam efetuadas pela equipe do laboratório, e, desta forma, se encontre o animal no plantel que é o pai ou a mãe do indivíduo analisado.

É observado que muitos criadores não são detentores dos resultados de seus animais, deixando essa informação apenas no banco de dados com a associação a qual a raça pertence – o que pode causar alguns transtornos quando há necessidade de verificar a genealogia da criação para avaliação de vínculo genético que não envolvam o laboratório.

Banco de dados

É recomendável que os relatórios de ensaios sejam armazenados em um banco de dados sob os cuidados do criador. Isso porque se existirem dúvidas sobre a genealogia de algum animal, é possível que um profissional habilitado com a posse desses relatórios indique qual deles – mais provável – pode ser o pai ou mãe do indivíduo em questão e sem a necessidade de novas análises laboratoriais. Além disso, é possível que não seja preciso esperar prazos muito longos para a disponibilização dos laudos pela associação da raça.

O arquivo desses laudos permite não apenas a garantia da genealogia do plantel, como também, as análises futuras de melhoramento genético ajudando a fortalecer as características genéticas da criação equina. 

Mas vamos deixar para falar sobre melhoramento genético em nossa próxima matéria. Vem com a Cavalus!

Fotos: Arquivo

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