Saúde & Bem-estar

Pitiose Equina

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É causada pelo fungo Pythium insidiosum e acomete equinos, felinos, caninos, bovinos e humanos.

A espécie equina é a mais atingida e a lesão causada pelo fungo se restringe, geralmente, à pele e tecidos subcutâneos. Casos de pitiose com envolvimento de outros tecidos, como ossos, linfonodos, olhos, artérias e órgãos dos sistemas digestivo e respiratório, já foram descritos nas diferentes espécies susceptíveis.

Foto: Revista Veterinária

O fungo é parasita de plantas aquáticas, nas quais, em condições de temperaturas elevadas, realiza reprodução assexuada produzindo zoósporos biflagelados que infectam os animais. Nestes, o fungo só apresenta crescimento vegetativo, sem produção de zoósporos e, portanto, não há transmissão de um animal para outro.

O fungo é encontrado em todos os continentes em áreas pantanosas tropicais, subtropicais e temperadas. A espécie equina, pelo hábito de pastejar em áreas alagadas, é a mais acometida. No Brasil, a pitiose foi descrita pela primeira vez em 1974, no Rio Grande do Sul, mas, desde então, tem sido relatada em Estados das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. A planície do Pantanal, por causa das inundações anuais e clima quente, é a região de incidência mais elevada, e onde o cavalo representa a única ferramenta para o manejo dos bovinos.

A pitiose ou ferida-brava, como é denominada no Pantanal, caracteriza-se pelo desenvolvimento de lesões cutâneas granulomatosas, ulceradas ou fistuladas, localizadas, principalmente, nos membros, cabeça e partes baixas do tórax e abdome. De evolução rápida, o tratamento com quimioterápicos é demorado, e na maioria das vezes ineficaz, por causa da ausência de esteróides na membrana celular, componente alvo de ação da maioria das drogas antifúngicas.

A pitiose ocorre principalmente no verão, período de chuvas intensas e temperaturas altas, evidenciando a relação do agente etiológico com locais alagados e o calor. O diagnóstico da doença é realizado pelos sinais clínicos, histopatologia, isolamento do agente e por técnicas imunológicas, como imuno-histoquímica, imunodifusão em gel e ELISA. Precisa ser diferenciada de outras lesões semelhantes, como a habronemose cutânea, causada pela localização errática de larvas de Habronema spp., nematóides parasitas do sistema digestivo de eqüinos.

Tratamento

O tratamento da pitiose é difícil. Três métodos terapêuticos – quimioterapia, cirurgia e imunoterapia – têm sido utilizados. Embora a literatura registre casos de cura com antifúngicos (anfotericina B, iodeto de potássio, e combinação de itraconazole com terbinafine), o tratamento é demorado, caro, exige dedicação diária e tem efeitos colaterais. O tratamento cirúrgico, associado ou não à cauterização, é eficaz quando se faz a retirada de todo o tecido contaminado. No entanto, a cirurgia não pode ser usada em todos os casos, porque a localização, as estruturas anatômicas envolvidas e o tamanho das lesões inviabilizam essa abordagem terapêutica em boa parte dos casos.

O tratamento da pitiose pela imunoterapia data da década de 80 do século passado, na Austrália. O imunobiológico produzido a partir de cultura do próprio agente, obtido de macerado de massa fúngica, filtrada, sonicada e mantida em geladeira, mostrou-se eficaz em 53% dos animais tratados. Posteriormente, com imunoterápicos obtidos de massa fúngica ou contendo antígenos de sobrenadante da cultura obteve-se recuperação entre 60% e 70% dos animais tratados. Esses índices foram obtidos apenas em animais com lesões recentes. O imunoterápico tinha de ser mantido em geladeira e utilizado em até quatro semanas após seu preparo.

As condições inerentes ao Pantanal, como ausência de energia elétrica, acesso difícil e sistema extensivo de criação, tornam praticamente impossível o uso dos tratamentos mencionados. Por esse motivo e pela importância do equino para a bovinocultura dessa região, a Universidade Federal de Santa Maria e a Embrapa Pantanal iniciaram um amplo estudo envolvendo diagnóstico, epidemiologia e tratamento da doença.

Pelo exame de cortes histológicos e pela tentativa de isolamento do agente, em mais de uma centena de animais com lesões sugestivas da pitiose, verificou-se que, atualmente, a doença conhecida como ferida-brava no Pantanal é causada pelo fungo P. insidiosum. De todos os animais examinados, em nenhum foram identificadas larvas de Habronema spp. Com exceção de alguns deles negativos para ambos os agentes, os demais foram positivos para o fungo. Não foi comprovada nenhuma predisposição de raça, sexo ou idade.

Foto: Corumbá Agora

A doença ocorre em todo o Pantanal, mas existem áreas dentro da planície onde a incidência é mais elevada, talvez, por características da água e da vegetação aquática. A doença ocorre, principalmente, entre os meses de dezembro e abril, período mais quente e chuvoso do ano. Quanto maior a duração e mais intensa a inundação maior o número de animais acometidos pela doença. Estimou-se, por meio de questionários, que entre 2% e 5%, de um rebanho estimado de 140.000 animais, adoecem por ano no Pantanal.

Para viabilizar o uso da imunoterapia no tratamento da pitiose equina, nas condições dessa região, produziu-se e testou-se a eficiência de um imunoterápico liofilizado (Pythium-Vac®) que permitisse armazenamento por período longo e em temperatura ambiente. Para o preparo do imunoterápico usaram-se isolados de P. insidiosum, obtidos de lesões de eqüinos com pitiose no Pantanal e no Rio Grande do Sul.

Entre março e junho de 1996, 19 animais de várias fazendas da sub-região da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, com lesões recentes e antigas de pitiose foram reunidos na fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal. Os equinos foram tratados com injeções subcutâneas na região do pescoço a cada 14 dias. Sessenta e três por cento dos animais estavam recuperados após 5,3 aplicações do imunoterápico. Diferentemente do esperado, 83% dos animais com lesões antigas e 60% com lesões recentes foram curados. Esses resultados são opostos aos encontrados em outros estudos sobre a eficiência do tratamento imunoterápico.

Em 1997, dois testes foram realizados para verificar o efeito do imunoterápico como preventivo e como curativo, respectivamente. O primeiro estudo foi realizado em uma propriedade, na sub-região da Nhecolândia, com histórico de incidência alta de pitiose. No início de janeiro e 30 dias após, em um rebanho de 270 equinos, 104 (38,5%) foram tratados com o imunoterápico por via subcutânea, na região do pescoço, e 166 (61,5%) não foram tratados. O rebanho foi acompanhado durante os seis meses seguintes.

Em ambos os grupos, sete animais (6,7% do grupo tratado e 4,2% do grupo não tratado) desenvolveram a doença, evidenciando a ineficácia do imunoterápico como preventivo, nas condições testadas. Os 14 animais que ficaram doentes e dois outros que já estavam no início do estudo foram utilizados para testar o efeito do imunoterápico como curativo. Para tanto, a cada 14 dias os animais receberam uma dose do imunoterápico. Destes, 87,5% (14) foram curados e dois vieram a óbito após a quarta e quinta doses do tratamento sem que a causa mortis fosse estabelecida.

De modo geral, quanto mais recente e menor a lesão, menor será o número de aplicações do imunoterápico necessárias para a cura. Alguns animais, no entanto, não respondem ao tratamento.

Fonte: Embrapa

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