Primeiros Socorros em Cavalos

Como proceder quando os cuidados com seu animal exigem urgência?

Os primeiros socorros têm por definição a realização do atendimento base de emergência ou urgência até que o animal receba os cuidados de um especialista. Essa primeira assistência pode ser realizada por um médico veterinário ou profissional que receba treinamento adequado para executá-lo.

Deve-se diferenciar a urgência e a emergência na rotina dos cavalos. Desta forma é possível saber quando encaminhá-los ao hospital ou chamar o clínico imediatamente. A emergência é tudo aquilo que implica em risco de morte iminente e a urgência é entendida por situação clínica ou cirúrgica sem risco de morte iminente, porém, se não tratada rapidamente, pode evoluir para graves complicações. 

Em cavalos, a primeira intervenção é primordial, para que não haja nenhum comprometimento na carreira atlética, nem tampouco na vida do animal. Sendo assim, a instrução por parte do médico veterinário ao treinador e/ou tratador é essencial para a resolução do caso.

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O conhecimento e a observação do comportamento dos cavalos são primordiais e os profissionais que trabalham no manejo devem estar sempre atentos a qualquer alteração. Vale ressaltar que, na espécie equina a avaliação da dor pode ser dificultada pelo fato do cavalo ser essencialmente uma presa, não apresentando comportamentos que demonstrariam sua vulnerabilidade ante ao predador.

O que observar?

As principais afecções que demandam primeiros socorros nos cavalos são o abdômen agudo: as chamadas cólicas de origem gastrointestinal, traumatismos com necessidade de sutura e afecções musculoesquelético graves nos cavalos atletas. Outras situações emergenciais são também: acidentes com animais peçonhentos e, apesar da baixa incidência, o parto distócico. Lembrando que as cólicas são sempre situação emergencial em cavalos.

Em neonatos – potros até 60 dias de vida – deve sempre considerar emergência qualquer alteração no comportamento, como diminuição do apetite, apatia ou se apresentarem febre, diarreia, secreção nasal e tosse. Quanto mais novos, mais suscetíveis são à desidratação, hipotermia e hipoglicemia. Logo, passado duas horas sem mamar e se estiverem apáticos, julgar o caso como emergencial.

Cólicas

Nos casos de cólicas de origem gastrointestinal, até que o médico veterinário chegue à propriedade, deve suspender o fornecimento dos alimentos (concentrado e volumoso) e evitar que o animal se jogue no chão e role. A indicação é que caminhe com o animal no cabresto, para que haja estímulo peristaltismo (movimentação das alças intestinais). É extremamente importante que o animal seja hidratado tanto por via oral como por via intravenosa.

Como as cólicas são sempre situações emergenciais, é indispensável a presença do médico veterinário. Somente um profissional habilitado poderá realizar o exame clínico adequado por meio da avaliação da frequência cardíaca, palpação retal, sondagem gástrica e peritoniocentese (punção do peritônio na porção mais ventral do abdômen).

Com base nestas avaliações, é possível analisar se é um caso clínico ou cirúrgico e ponderará a necessidade ou não de encaminhamento a um hospital. A administração de analgésicos somente deve ser realizada sob orientação do clínico responsável pelo animal.

O uso indiscriminado de fármacos nas cólicas pode mascarar a gravidade do caso, ou seja, o cavalo que foi medicado sem orientação pode ter uma afecção cirúrgica como torção, intussuscepção, deslocamento de alça intestinal e não estar demonstrando tamanha a dor por estar medicado.

Nesse caso, há piora no prognóstico do animal. Portanto, não se deve medicar até que se saiba a origem da cólica. Mesmo nos casos clínicos, como ocorre na sobrecarga gástrica, se o animal é medicado sem recomendação expressa do veterinário e não é feita a sondagem nasogástrica, pode haver ruptura do estômago e o animal ir a óbito.

Demais situações

Outra situação rotineira na clínica de equinos são os ferimentos com necessidade de sutura. Devido à contaminação, somente deve suturar lesões que ocorreram em menos de seis horas.

O primeiro socorro envolve a limpeza da ferida com água fria em uma mangueira com baixa pressão. Com isso, há vasoconstrição e diminuição do sangramento. Caso haja sangramento intenso, imobilizar a região com atadura a fim de conter a perda sanguínea até a chegada do médico veterinário.

Observar se há presença de corpo estranho e qual o tipo de objetivo presente. Os cavalos são sensíveis ao tétano, logo a profilaxia com o soro antitetânico deve ser realizada, mesmo nos animais previamente vacinados contra a doença.

Os cavalos são propensos à formação de tecido de granulação exacerbado. As pomadas e sprays cicatrizantes devem ser aplicados sob orientação profissional, para que não se exacerbe a cicatrização e a ferida granule em excesso. 

Portanto, um simples ferimento nos cavalos pode evoluir para casos mais graves como o tétano ou a necessidade da retirada, por meio cirúrgico, do tecido de granulação.

Outros cuidados

Quando o médico veterinário e/ou proprietário decide encaminhar o animal ao hospital é extremamente importante mantê-lo estável, para que não haja mais intercorrências no transporte e agrave o quadro.

Nos casos de lesões do aparelho locomotor, manter o animal o mais imobilizado possível durante o transporte. Em casos de cólica, encaminhar o animal com sonda nasogástrica e hidratado. Quando for ferimentos, imobilize a região para conter o sangramento.

Nenhum criatório está isento de ocorrências emergenciais, mas a prevenção certamente é o ideal. A maioria das cólicas provenientes do aparelho digestivo ocorre por falhas no manejo, enquanto, acidentes com ferimentos acontecem por instalações inadequadas como cercas de arame liso, por exemplo.

Portanto, respeitar as particularidades dos cavalos é melhor forma de prevenir. São animais herbívoros, por isso devem receber forragem de qualidade e em abundância: pastam cerca de 16 horas ao dia.

Apresentam pequena capacidade gástrica e não vomitam, logo fracionar o fornecimento de concentrado. São presas, portanto, procure alojá-los em piquetes com cerca de madeira e preferencialmente que tenham choque.

Soltá-los ao menos três vezes por semana para que se movimentem livremente (são nômades na natureza). Somente observando características primárias e um manejo nutricional adequado haverá diminuição das ocorrências emergências nos cavalos.

Por Natalia Telles
Médica Veterinária e assistente técnica de equinos da Guabi Nutrição e Saúde Animal
Fotos: thehorse

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