Os anjos das arenas! Conheça a origem dessa profissão!

Função milenar nas arenas do mundo todo, os Salva-Vidas são peças fundamentais durante uma prova de montaria em touros

Tudo começou nos Estados Unidos, claro! Toda a tradição desse mundo western que nós vivemos hoje, toda a formatação dos esportes, quais raças são usadas, tudo, tudo começou há mais de 100 anos, quando os primeiros rodeios foram sendo realizados em terras norte-americanas. E os conhecidos ‘Anjos das Arenas’ – por terem a função de salvaguardar a integridade física dos bull riders – ou Salva-Vidas, ou ainda Bullfighters, são figuras indispensáveis.

Jimmy Anderson, um dos pioneiros na profissão. Foto: El Paso Times

O trabalho deles começa exatamente quando o do peão termina. Ao sair do touro, seja quando completar os oito segundos de tempo regulamentar ou não, é do Salva-Vidas a função de protegê-lo e evitar que o animal o machuque. Outro termo para descrevê-los, hoje em dia pouco utilizado, é o de Palhaço Salva-Vidas. E a explicação é fácil. Nos primórdios, era o mesmo profissional que divertia o público e protegia os peões. Eles pintavam o rosto e usavam roupas bastante chamativas.

Wick Peth foi primeiro profissional
contratado para atuar exclusivamente
na proteção dos peões. Foto: El Paso Times

Mas o que a história mostra? Os palhaços estão presentes nos rodeios dos Estados Unidos desde o início do século passado. A função deles era, unicamente, distrair e divertir o público nos intervalos entre uma montaria e outra. Naquela época, eles não tinham ligação nenhuma com os touros e como eram poucos os animais que representavam perigo, quando havia necessidade, a proteção era feita por outros competidores.

Nas décadas seguintes, a modalidade cresceu, o número de apresentações em cada rodeio aumentou, foram colocados na arena animais com índoles mais agitadas, como touros da raça Brahman, por exemplo. Alguns relatos contam que, ainda na década de 1920, um palhaço que já havia praticado as famosas touradas espanholas, conseguiu salvar um competidor após uma montaria em que o touro tinha ido para cima, chamando a atenção para que outros profissionais desta área passassem a exercer a função.

Outros relatos dão conta que foram as roupas coloridas e agilidade nos movimentos que fizeram os palhaços se transformarem em salva-vidas de rodeio. Durante mais de 30 anos, nem todos os que eram contratados para animar o público entravam na arena para proteger os peões. Mesmo os que faziam, não era em tempo integral, ou seja, só entravam em ação para encarar alguns touros. A atividade consistia em, basicamente, tirar a atenção do touro. Com o tempo, os profissionais foram desenvolvendo técnicas e hoje a preparação para atuar nessa função é muito mais intensa.

Aos 76 anos de idade e quase 60 de profissão, Lecile Harris (esquerda) era atração em cerca
de 100 eventos por ano nos Estados Unidos. Foto: divulgação

A visão sobre essa profissão começou a mudar na década de 1960, quando Wick Peth convenceu alguns organizadores de que era preciso contratar uma pessoa exclusivamente para a função de proteger os peões. Peth, que não tinha muito sucesso quando o assunto era divertir o público, passou a entrar na arena exclusivamente para salvar os competidores. Ele tem a honra de ser o primeiro salva-vidas profissional da história dos rodeios. Tabalhou nas arenas até os 50 anos de idade, deixando um importante legado para as gerações seguintes.

O inconfundível chapéu verde e a expressão
de Leon Coffee, um ícone nas arenas.
Foto: My San Antonio

O grande marco, no entanto, para que de fato os palhaços, agora salva-vidas, fossem reconhecidos como de grande importância nas arenas, foi a década de 1970. Os ícones surgiram, as pessoas tinham em quem se espelhar. São lendários até hoje Rex Dunn, Lecile Harris e Leon Coffee. Dunn marcou gerações, tinha uma forma calma de lidar com os touros, e depois que se aposentou das arenas passou a ministrar cursos, tendo treinado praticamente todos os bullfighters em ação nos Estados Unidos. Harris iniciou nas arenas em 1955 e ficou 35 anos na função, é muito respeitado e admirado até hoje por sua técnica. Com seu inseparável chapéu verde, Coffee iniciou nas arenas como peão, mas no final da década de 60 encontrou sua verdadeira vocação, a de salva-vidas. Depois de cerca de 140 fraturas ósseas, ele parou de encarar os touros e ficou nas arenas como Barrelman, completando mais de 40 anos de trabalho no rodeio.

Joe Baumgartner (direita) em ação para soltar um competidor preso a corda. Foto: Matt Cohen
Rob Smits se aposentou após quebrar
o pescoço pela terceira vez. Foto: divulgação

Mais recentes, apesar das semelhanças, há aqueles salva-vidas que passam longe de serem chamados de palhaços, a postura e a roupa mudaram. Como tudo, a profissão de anjo da arena foi evoluindo, técnicas foram sendo desenvolvidas, passaram a usar equipamento de segurança, cuidar da preparação física, entre outros quesitos. Rob Smits e Joe Baumgartner são exemplos dessa outra geração, lendas do Bullfighter com cara de mal. Baumgartner se aposentou das arenas em 2011, aos 45 anos de idade. Smits é tido como o maior salva-vidas de todos os tempos, trabalhou 17 anos na National Finals Rodeo e nove na PBR World Finals, tendo uma trajetória de quase 30 anos nas arenas.

Salva-Vidas usando um Barril em prova de Bullfighting com touros miúras durante o Calgary Stampede.
Foto: View Calgary

Então, com o tempo, houve uma profissionalização e as funções ficaram distintas. Há os Palhaços de Arena, os Barrelmans e os Salva-Vidas. Alguns profissionais acham que serem chamados de palhaços de arena descaracteriza a profissão e não mais usam roupas coloridas ou pintam o rosto. Mas, em alguns eventos tradicionais nos Estados Unidos e Canadá, os Salva-Vidas ainda mantém as tradicionais roupas largas e coloridas. Mas um fato é de entendimento comum: eles são indispensáveis!

E você deve estar se perguntando, e no Brasil? Temos grandes ícones e uma bela história. Que vamos contar em outra matéria. Fique ligado!

Por Luciana Omena
Colaboração Abner Henrique

 

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