Cavalos de Tambor e Baliza e suas lesões

Atualmente, a quantidade de cavalos de Baliza e Tambor tem aumentado progressivamente.

Infelizmente, algumas pessoas que lidam com esses animais não acompanharam a evolução e tratam esses equinos como cavalos comuns, e não como atletas que o são. O ritmo de provas aumentou, o nível de animais tem melhorado, fazendo com que os treinadores exijam o máximo de seus animais.

Para que estes cavalos cheguem ao ápice de sua performance, é necessário o acompanhamento veterinário periódico, uma boa alimentação, ferrageamento de qualidade, suplementação com complexos vitamínicos necessários para cada animal.

Nesta matéria identificaremos as principais lesões encontradas em cavalos de tambor e baliza, bem como a forma de preveni-las e tratá-las.

TENDINITE

Os tendões são estruturas compostas de tecido conjuntivo denso, que ligam os músculos aos ossos, ou seja, é através dele que a contração muscular movimenta o esqueleto. Por tendinite, entende-se uma inflamação do tendão, em conseqüência de um esforço externo. Nos cavalos, os tendões mais afetados são o flexor superficial e flexor profundo dos membros anteriores.

As causas mais comuns são distensões extremas durante o trabalho, que levam à ruptura das fibras dos tendões. Os sinais são calor, dor e tumefação no local. A claudicação (manqueira), pode ser intensa ou não. Devendo, o treinador, proprietário, ou qualquer outra pessoa, acionar o veterinário, imediatamente após o aumento de volume, mesmo que o animal não apresente manqueira.

A tendinite normalmente ocorre quando o trabalho executado ultrapassa o limite de resistência daquele tendão, ou seja, quando um dos posteriores alcança o tendão do anterior durante o movimento.

Enquanto o piso duro predispõe às lesões osteo-articulares dos locomotores, o trabalho constante em piso fundo e mole, como é o caso de cavalos de Tambor e Baliza, prejudicará os tendões especialmente se a velocidade de deslocamento for elevada. Na cicatrização fisiológica, as fibrilas dos tendões não conseguem se reorganizar reproduzindo a estrutura longitudial e paralela anterior à lesão, porém numa fibrose, com menos capacidade de esforço. Por isso, um tendão recuperado às vezes é mais espesso do que antes, e por isso também ele pode não atingir a mesma capacidade de esforço que tinha antes.

A completa cicatrização natural de uma lesão de tendão leva vários meses – mas bem antes disso o cavalo deixa de mancar e o tendão está aparentemente recuperado. Este, ainda não é o momento para que o animal trabalhe normalmente.

Além do tratamento inicial, com o uso de anti-inflamatórios tópicos e sistêmicos, existem várias abordagens terapêuticas, que dependem da gravidade do caso, da utilização do cavalo e também dos recursos financeiros disponíveis para o mesmo. Desde a utilização de ferraduras especiais, a aplicação de fármacos especiais, fisioterapia (raio laser, ultrasson terapêutico, gelo, ducha, exercício etc). Até mesmo a utilização de célula tronco pode acelerar a recuperação completa do equino afetado. Um bom diagnóstico, com o uso de ultrassom é importante para avaliar a gravidade do problema.

A dor pode ser amenizada com o uso de ferraduras talonadas, com o uso de palmilhas. A cicatrização da tendinite se dá através de fibrose, a qual é acompanhada de um estreitamento do tecido. À medida que a cicatrização avança, a altura dos talões precisa ser reduzida, evitando contração e encurtamento crônicos do tendão.

A presença de pontas de fogo, aumento de volume dos tendões flexores em um ou ambos os anteriores, pode indicar um histórico de problemas de tendão. Em termos de prevenção, o esforço dos animais nos treinamentos precisa ser dosado, também em função do piso existente. Convém lembrar que quanto mais fundo ou pesado o solo, maior o risco de haver lesões de tendão.

O uso do frio – seja da ducha de água, seja do gelo, ou de ambos combinados – é sempre de escolha no tratamento de tendinites, seja nos primeiros-socorros de uma afecção aguda, seja na prevenção da recorrência de um problema antigo, especialmente após de uma sessão de treinamento intenso. A aplicação de botas de gelo nos anteriores por quinze minutos após o trabalho forte seja ser rotineira em cavalos que tenham um risco aumentado de sofrerem tendinite ou tenosinovite. O período de quinze minutos não deve ser ultrapassado, pois a partir daí o efeito vasoconstritor começa a ser substituído para o vasodilatador, indesejável nesta condição.

Massagens com produtos antiflogísticos, assim como a utilização de ligas de descanso também são aconselháveis na prevenção de problemas nos tendões.

A SÍNDROME DO NAVICULAR

A síndrome do navicular é uma afecção muito conhecida no meio veterinário eqüino, pois está relacionada com muitos casos de claudicação em cavalos de esporte.

O osso navicular está dentro do casco, na face palmar da segunda e terceira falange, e possui este nome por ter a forma semelhante a um casco de navio.

O tendão flexor profundo inicia na altura do carpo e se insere na terceira falange. Este tendão corre sobre o osso navicular, exercendo uma pressão sobre o mesmo durante todo o dia, e principalmente quando o animal é exercitado em piso de areia.

Entre o tendão flexor profundo e o osso navicular existe uma bursa. Esta fica repleta de um fluido que funciona como amortecedor entre o tendão e o osso navicular.

A primeira indicação de doença do navicular encontrada pelo clínico está relacionada com o bloqueio do nervo ligado a este osso. Nesta técnica o anestésico local é infiltrado ao redor dos nervos que inervam esta área: há a alternativa de se injetar anestésico local diretamente na articulação. Se o animal melhora a claudicação após este processo, você terá uma idéia de onde vem a dor no animal.

Outra importância do conhecimento dos nervos relacionados ao osso navicular está no tratamento cirúrgico, quando o mesmo pode ser seccionado como forma de tratamento (neurectomia). Existem dois grandes nervos relacionados com o osso navicular: nervo digital palmar.

Algumas teorias quanto ao aparecimento da síndrome do navicular em cavalos de Tambor e Baliza. Entre elas, podemos citar: Teoria da isquemia- ocorre quando, por algum motivo, o suprimento sanguíneo na região do osso navicular, não é satisfatório, causando isquemia e fragilidade do osso; Teoria mecânica – devido à pressão do tendão flexor sobre o osso navicular, e principalmente em animais que tem problemas de aprumo, desbalanceamento dos talões entre outros, pode-se observar lesões no osso navicular; Bursite – a pressão constante do tendão flexor, sobre a bursa do navicular pode ocasionar inflamação da mesma, isso causa dor no animal.

Degenerativa – acredita-se que pode ocorrer doença degenerativa do osso navicular, como acontece em qualquer tipo de articulação.

Podemos observar um conjunto de evidências com mais de uma origem da doença, por este motivo chamamos a patologia de síndrome e não de doença. Certamente existem algumas raças de cavalos mais afetadas pela síndrome do navicular. Cavalos Quartos de Milha e Puro Sangues são vistos com maior freqüência do que outras raças. Provas de Tambor e Baliza se destacam entre os esportes que mais se observam a síndrome do navicular e cavalos com conformação anormal do casco, possuem grande predisposição a desenvolver a síndrome.

Algumas vezes pessoas noticiarão que o animal encurta um pouco o passo em seus membros anteriores. Devido ao fato do navicular estar presente na região dos talões, o animal tenta aliviar a pressão existente nesta área. Talvez você só observe a manqueira do cavalo quando ele trota em circulo, pois normalmente, a pata de dentro do círculo é mais forçada do que a de fora.

Um cavalo com a síndrome do navicular pode reagir à pressão realizada com a pinça de casco. Tipicamente o animal responderá à pressão em um dos locais indicados:

  1. no sulco central da ranilha.
  2. sobre um dos lados da ranilha (sulco colateral da ranilha) e na muralha do casco oposto.
  3. sobre os dois talões.

A anestesia local diagnóstica pode ser conseguida por infiltração perineural (bloqueio nervoso), bloqueio de campo (em anel), infiltração direta na região de onde suspeita-se, ou por anestesia intra-sinovial (capsulas articulares, bolsas e bainhas sinoviais). As radiografias são provavelmente, a forma mais utilizada no diagnóstico da síndrome do navicular. Drogas anti-inflamatórias não esteroides devem ser utilizadas, porém, devemos ressaltar que o uso prolongado das mesmas pode desenvolver úlceras gástricas nos animais.

Infiltração da bursa do navicular, assim como da articulação interfalangeana distal, pode surtir bons resultados. O uso de drogas que causam o aumento da circulação periférica, como Isoxsuprine, deve ser instituído assim que diagnosticado a doença.

Terapias como fisioterapia e acupuntura, também devem ser utilizadas. Uma terapia muito importante quando falamos de navicular é o ferrageamento, que deve ser realizado por profissional capacitado, com uma ferradura especial (egg bars shoes), com ou sem o uso de palmilhas. Neurectomia é o procedimento cirúrgico, onde o par de nervos digital palmar é seccionado, dessensibilizando, assim, a área do osso navicular.

DOR NAS COSTAS

Problemas na coluna (Dor nas Costas) podem afetar os cavalos de Baliza e Tambor, de acordo com o seu tipo físico e regime de treinamento. Os cavalos com o dorso mais longo e menos musculoso são os mais sujeitos a este problema. Esforços breves, mas com intensa explosão, tal como no treinamento para este tipo de animal, sujeitam os ossos e músculos do cavalo a um estresse bastante intenso.

Este tipo de problema é normal, já que mudamos completamente a posição natural da coluna do cavalo. Devemos lembrar que, na sua origem, os cavalos mantinham a cabeça voltada ao solo, pastando na maioria do tempo, fazendo com que sua coluna se mantivesse na posição de U de ponta cabeça. Atualmente forçamos a coluna do cavalo para baixo, contrariando suas origens, além dos exercícios de flexionamento que os mesmos são submetidos.

Alguns animais apresentam como sinais clínicos:

– dor local que pode ser percebida com a palpação;

– dor no momento da montaria;

– recusa no momento de realizar determinados exercícios laterais;

– piora progressiva em alguns movimentos.

Para prevenção do aparecimento desta patologia, pode-se indicar a utilização de massagem e ducha após o trabalho. O uso de fisioterapia, como capas magnéticas, raio laser, tens entre outros também pode ser utilizado. A acupuntura pode ter resultado satisfatório. Algumas pomadas anti-inflamatórias devem ser utilizadas quando o treinamento for mais ‘forte’

Em casos mais extremos, a infiltração perivertebral deve ser utilizada. Este tipo de tratamento tem resultado positivo, com recuperação rápida do animal, e deve ser realizado por um veterinário capacitado.

DOR DE PALETA

Alguns animais se recusam a contornar algum tambor, no percurso, ou ainda ‘empaletam’ em algum tambor, poupando esforço sobre uma das paletas.

Em um exame detalhado, realizado por um médico veterinário, pode-se identificar a dor nessa região. No entanto, é importante ressaltar que algumas vezes essas dores são originadas de problemas em outras áreas, onde o animal tenta “poupar” outra área lesionada, sobrecarregando a paleta.

Quando diagnosticada, podem-se tentar alguns tratamentos. O ferrageamento e a observação do aprumo são importantes, já que nenhum tratamento terá resultado se não resolver o problema primário.

O tratamento da paleta é muito parecido com o da dor na coluna, com massagens, fisioterapia, raio laser, tens, duchas, acupuntura ou até mesmo a infiltração, que tem ótimo resultado nestes casos.

HEMORRAGIA PULMONAR INDUZIDA POR ESFORÇO

Os eqüinos submetidos às diversas práticas desportivas com intenso esforço físico como os cavalos de Tambor e Baliza, podem ser acometidos por um sangramento pulmonar. Esta patologia se caracteriza pelo sangramento da vascularização pulmonar em conseqüência de mudanças cardiopulmonares que ocorrem durante o exercício.

Apesar de descoberta há muito tempo, ainda não se estabeleceu a origem da enfermidade e nem o tratamento adequado. A patologia é considerada como sendo multifatorial, ou seja, é causada por uma série de fatores que em conjunto desencadeiam a hemorragia. O sangramento após o exercício é um fenômeno que resulta do esforço extremo, já que o eqüino é preparado geneticamente para um esforço sub máximo.

Estudos registram a prevalência da HPIE de 44 a 75% em cavalos de corrida, de 40% em cavalos de eventos de três dias. Assim sendo, nos animais de Tambor e Baliza, podemos ter uma quantidade muito maior do que imaginamos. Evidências sugerem que o sangramento resulta do rompimento dos capilares pulmonares como conseqüência da elevada pressão vascular transmural. Um reflexo do elevado débito cardíaco relacionado com o intenso exercício físico.

A presença de sangramento nasal é baixa, aproximadamente 5% dos animais afetados terão epistaxe (sangramento nasal) evidente durante ou após o exercício. 95% dos animais que sofrem com esta patologia, não apresentam sangramento evidente, apenas na traquéia e no pulmão, não o exteriorizando, portanto devemos ficar atentos com animais que apresentam sinais de engasgar, ou tossir após o exercício físico, mesmo que não haja hemorragia nas narinas.

O sangramento nasal pode ocorrer até 24 horas após o exercício. Devido à existência de outras causas de epistaxe o exame endoscópico das vias aéreas garante o diagnóstico definitivo (FIG 8). O exame é melhor realizado entre 30 a 90 minutos após o exercício.  Também podem ser sinais clínicos a deglutição, a tosse e o engasgamento. A morte é rara, mas pode ocorrer e ocorre por edema pulmonar e asfixia.

Medidas terapêuticas e de manejo são utilizadas como esforço de reduzir ou prevenir a ocorrência da HPIE, mas a eficiência destas medidas ainda permanece controversa. O uso da furosemida administrada intravenosa antes do exercício parece atenuar a pressão capilar pulmonar, beneficiando alguns eqüinos sangradores. Devemos lembrar que a utilização desta droga é considerada doping. Medidas como a melhor ventilação das baias e o uso de broncodilatadores podem ajudar, além de técnicas de treinamento adequado e melhor condicionamento físico, que melhorem a eficiência circulatória.

Por Dr. Hélio Itapema – Médico Veterinário

Foto : Cedida

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