Afinal, a atividade lúdica com cavalos e tintas prejudica ou não?

O mais novo embate entre ONGs de proteção animal e o esporte equestre ganhou dimensão nacional e fomos procurar entender melhor o assunto

Thor

A ‘polêmica’ se deu após a divulgação de uma atividade pedagógica em uma colônia de férias na Sociedade Hípica de Brasília, com a participação de 50 alunos, de 3 a 14 anos acompanhadas por 15 monitores e instrutores de equitação. A notícia se referia a uma atividade lúdica em que as crianças receberam tinta e foram estimuladas a pintar um cavalo.

A foto com o cavalo coberto de tinta rapidamente circulou pelas redes sociais, acompanhada de um texto que condenava a atividade. Após denúncia, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) esteve no local e notificou os responsáveis. A denúncia foi feita por Ana Paula Vasconcelos, membro da Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF).

Para o responsável pela colônia de férias, José Cabral, o objetivo da atividade era que as crianças com medo de animais de grande porte conseguissem se aproximar e fazer carinho no bicho. Ele reitera que todas as atividades são pensadas em conjunto com uma coordenadora pedagógica. No caso dessa, a tinta é atóxica, e segundo ele reforça, não faz mal para a pessoa e nem para o animal. Cabral lembra que o resultado da interação foi excelente, mas que uma foto ‘fora de contexto’ deu dimensões erradas à atividade.

O cavalo da foto é Thor, 14 anos, aposentado das competições. A função dele é atender crianças pequenas que estão aprendendo a montar, diz o diretor da escola, José Cabral. Segundo o dirigente da escola de equitação, no mundo todo existem provas onde cavalos são pintados e a atividade não foi algo que eles inventaram agora.

Um fiscal do Ibama que esteve no local, segundo publicações, constatou que não houve sinal de maus tratos. A atividade foi realizada na sexta-feira (20) e durou cerca de 20 minutos. Logo depois o cavalo foi limpo. José Cabral informa também aos mesmos veículos de comunicação que laudo veterinário e um parecer pedagógico acerca das atividades desenvolvidas será entregue.

Em pouco tempo, a primeira foto divulgada já alcançava dez mil comentários e 24 mil compartilhamentos no Facebook. De pronto, muitas pessoas envolvidas com o cavalo, seja da forma que for, saíram em defesa da Hípica e dessa atividade. Entre elas, Claudia Leschonski, Médica Veterinária, com anos de experiência, palestrante, professora, grande estudiosa de equinos e um dos nomes importantes no que diz respeito ao assunto cavalo.

“Não houve maus tratos de espécie alguma. As tintas são atóxicas e o cavalo é da equoterapia. Trata-se de uma atividade para diminuir o limiar de medo de contato entre crianças e cavalos, muito comum inclusive em colônias de férias de países da Europa e Estados Unidos. Infelizmente, o ramo ativista-sensacionalista crucificou a imagem como uma instância de maus tratos”, falou Claudia em seu Facebook, em publicação compartilhada diversas vezes.

Claudia Leschonski

Ela também comenta sobre uma nova geração de pessoas do cavalo que está sendo formada. “Acredito que haja três grupos principais de pintura corporal em equinos: a) finalidade lúdica ou terapêutica para crianças; b) fins educativos, como a pintura anatômica/biomecânica praticada por Gillian Higgins em ‘Horses Inside Out’; c) concursos de fantasia e gincanas equestres”.

Entre os argumentos dos ativistas contra a atividade, está o de submissão do animal a cutucadas, como se ele tivesse sendo sacrificado pelas crianças. O diretor da escola relembra que o cavalo ficou calmo o tempo todo, que nada interferiu em seu bem-estar e que as crianças usaram seus dedos e não canetinhas. Há atividade é realizada há quatro anos nessa colônia de férias e é a que as crianças mais gostam. Outro membro do corpo da Hípica relatou que pintar os cavalos é algo normal em concursos de alto nível mundo afora e as crianças nesse caso fizeram tudo com o maior carinho do mundo.

Há uma outra corrente que ameniza o fato do cavalo estar incomodado e se preocupam com o objetivo da atividade, alegando que não é algo que faça com que as crianças respeitem os animais. Na visão de alguns, esse fato faz com que o cavalo seja objetificado. “Não concordamos com isso, porque é só uma atividade de enfeitar o cavalo como qualquer outra. Algo que podemos levantar nessa questão é que os próprios ativistas divulgam fotos deles com cachorros de roupinha, enfeitados, humanizados”, lembra Claudia. Então com o cachorro deles pode, mas com os nossos cavalos não?

Os defensores da atividade têm em sua fundamentação o imenso amor aos animais e que são os primeiros a amarem e zelarem pelo seu bem-estar. “Eu trabalho com os animais desde os nove anos e tenho muito respeito por eles. Esses bichos, para mim, são as coisas mais importantes e estou sendo crucificado equivocadamente. Isso realmente é extremismo da internet”, defende-se José Cabral.

Claudia finaliza: “Amo meus cavalos, cuido deles, sou responsável por eles. Desde os seis anos de idade estudo TUDO sobre cavalos, há QUARENTA ANOS tenho cavalos e cuido deles. Quem tiver dúvidas ou quiser conversar a respeito, com educação e bom senso, estou à disposição.”

Por Equipe Cavalus
Fonte: Correio Braziliense e Metrópole
Fotos: Cedidas

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