Bauru, a nova casa do CT Fio

O quarto cavaleiro mais pontuado na ABQM conquistou seu próprio espaço e hoje conta com 60 animais em treinamento, tendo o foco nos jovens e amadores

A história de Abelino Rodrigues de Araújo Filho, mais conhecido como Fio, com os cavalos é de família. Começou em Porecatu, interior do Paraná, com seu pai Abelino, que foi encarregado de fazenda, gerenciando 20 propriedades rurais do Grupo Atalla, no Paraná. Trabalhou com Jayme Navarro, marido daquela que viria a ser uma das maiores criadoras de cavalos Quarto de Milha no Brasil, Sandra Leonor Navarro.

Integrante do Hall da Fama ABQM, D. Sandra é personagem de destaque na história deste talentoso treinador. O Think A Mite Ranch foi uma grande escola para Fio, que adquiriu muito conhecimento, Foi lá que montou seu primeiro cavalo de Três Tambores, Contra Ataca KRB, que D. Sandra adquiriu da King Ranch.

“Comecei a trabalhar com a D. Sandra e o S. Jayme em 1989, logo que eles formaram o Think a Mite Ranch (TMR). Eu treinava os animais e o meu irmão era gerente e treinador de Apartação, hoje o mais pontuado da modalidade, conta Fio”. Ele lembra que ganhou a primeira competição no lombo do Contra Ataca KRB (Think a Mite x Tanga SKR).

“O mais engraçado é que completei o percurso e depois fui passear pelo parque de exposições de Maringá. Quando voltei para perto da pista, ouvi o locutor anunciar os vencedores, do quinto até o primeiro, e foi só aí que me dei conta de que havia vencido”. Dois anos depois, se formou técnico agrícola e continuou lidando com os cavalos do TMR.

Para aperfeiçoar a habilidade, fazia cursos com os grandes cavaleiros da época, como Francisco ‘Mimi’ Bezerra e Jairo Júnior. “Continuei no TMR até 1993, quando saí para trabalhar na Usina Central do Paraná, lidando com a lavoura de cana de açúcar”. De volta ao criatório de D. Sandra Navarro, Fio deu asas à sua verdadeira vocação, consolidando a carreira de treinador.

“Naquele tempo, tive bastante sucesso na sela de Dandy Lady DP (San Gay Jay x Dama da Barra)”. Os anos de 1994, 1995 e 1996 foram de muito trabalho e aprendizado. Ao participar de um curso com a norte-americana Joyce Loomis, no Rancho Quarto de Milha, em Presidente Prudente/SP, começou apurar sua técnica

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Fio e Joyce Loomis

“O bacana é que a D. Sandra contratou a Joyce para assessorá-la na criação, então a renomada treinadora passou a vir ao Brasil a cada seis meses, ajudando-nos em todos os detalhes do TMR. O curso com a Joyce Loomis foi em 1996, por incentivo da D. Sandra, que já via o grande futuro dos Três Tambores. Isso faz 22 anos”.

O treinador ainda ressalta que aprendeu muito com Joyce, mas o principal foi entender o cavalo, o comportamento dele para tirar o melhor do animal, mas de forma que ele não sinta. “Entender de um cavalo, a parte fisiológica dele, que ele é um ser de carne e osso, que também tem seus dias de descanso, e seus dias de trabalho”.

Fio também pontua que Joyce Loomis o ensinou que “tem hora que o cavalo não está bem, como a gente não está bem. Trabalhar a cabeça do cavalo, isso eu aprendi muito lá fora, porque também ela não ficava só com o cavalo dentro da pista, ela fazia parte exterior. Brincava com o gado a cavalo, soltava no piquete, não ficava só na cocheira. E isso eu nunca deixei de fazer e trouxe de lá. E até a parte de treinamento, ter um cronograma progressivo para que o animal goste do está fazendo”.

E apurando ainda mais seu conhecimento, Fio fez curso de Rédeas com Eduardo Ribeiro, tudo com incentivo de D. Sandra. “E foi muito bom porque a base de um cavalo é a doma, então mesmo que a gente não fosse continuar na Rédeas, começamos a conseguir trabalhar boca de cavalo melhor e trabalhar o corpo de cavalo melhor também, e isso traz uma facilidade para treiná-lo. Porque se você deixa o cavalo bem domadinho, bem treinado, em qualquer modalidade, ele vai se desenvolver mais fácil”.

Foram tendo resultados, cavalos campeões até com linhagem de Conformação, os melhores cavalos de Laço. E aproveitando a alta da modalidade Laço em Dupla, Abelino Filho dedicou-se a ela, sagrando-se campeão Nacional em 1998, na sela de Sana Freckles TMR. Um ano depois, ele venceu o Potro do Futuro, com Powder Boy TMR, foi tricampeão do Congresso 2000/2001/2002) e tricampeão Nacional 1999/2000/2002, com garanhão Sandstorm Pep (Peppy San Badger x Doctors Sandy Doll).

Fio ainda ganhou o Potro do Futuro em outras duas oportunidades no Laço, com Sandstorm Keys TMR, em 2002, e com Lucy’s Freckles TMR, em 2003. “Sou grato aos parceiros daquele tempo, que dividiram o pódio comigo, os laçadores Washington Luís da Silva (Juquinha), Deusdete Patriota e Marcelo Pinto”.

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Com Sally Shady, campeões Congresso Brasileiro 2004

Naquele tempo, o cavaleiro ainda teve muitas vitórias nos Três Tambores, com Chaparrita Pep CA (Sandstorm Pep x Queen da RC). As vitórias se tornaram frequentes na vida do treinador e, em agosto de 2003, ele recebeu o convite para trabalhar no Haras Michelle, também no Paraná.

“Conversei com a D. Sandra e ela perguntou se era isso mesmo, disse que sim, que iria onde ela falou que seria o futuro. O Tambor estava começando a andar na época, tive o sucesso de treinar grandes animais no Haras Michelle, como Vaia Dash. Em 2004, eu vim para o Congresso, ganhei com a Sally Shady e a Chalimar ganhou o melhor tempo com a Vaia Dash”.

Nessa época era em Ribeirão Preto o evento. E Fio teve muitas conquistas, foi terceiro no Potro do Futuro, com Baby Girl Zina 3L. Ganhou também o Ability, uma importante prova na época, na Fazenda São Jerônimo, em Americana/SP, tanto na Baliza como no Tambor, novamente na sela de Sally Shady.

O ano de 2005 também foi de muitas vitórias. Ele montou diversos craques, como ST Creekita, Fascinação Moon PI e Creekita Times. E nessas idas aos eventos em São Paulo percebeu que era um estado que investia muito e dava muitas oportunidades. Ficou dois anos no Haras Michelle e em 2005, decidiu alçar vôos mais altos, impulsionado por alguns amigos e clientes, como Hussain da Silva Fares.

Assim, optou por se mudar para a região berço do Quarto de Milha no Brasil, Bauru/SP, onde arrendou o Haras Carnaíba e deu início ao CT Fio. “Eu via que a linhagem estava toda aqui em Bauru. Muita prova de Tambor no recinto em Bauru, do Núcleo, da ANBT, Ability promovido pelo Mauro Dias junto com Regis Fratti e Paulo Farha. A história estava acontecendo em Bauru”, relembra Fio.

Com 60 dias que estava instalado já tinha 60 cavalos em treinamento. Em 2006 ganhou o Potro do Futuro de Tambor em Bauru, e ainda foi terceiro e quarto. Montava animais como: Patsy King EK, Tammy Shine Cody, Valsa Tiki Doc e The Ultimate. Abelino registrou definitivamente o seu lugar entre os maiores treinadores de Tambor no Brasil.

Perspicaz e atento às mudanças do mercado, Fio observou a chegada de novos investidores ao esporte, oriundos das grandes cidades. E com o apoio do criador Paulo Farha, ele se mudou para o Rancho do Tropeiro, de propriedade de Regis Fratti, instalando o seu CT em Juquitiba/SP.

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Campeão de Laço em Dupla com Sandstorm Pep do TMR

“Levei 60 cavalos pra lá. E os resultados vieram a galope. Entre 2007 e 2013 eu continuei no topo das principais provas. Montei inúmeros cavalos talentosos, como Bingo Chex Melodys, Night Mistic Tivo, Mark In Sand TMR e Indira Shady FF”. Entre 2006 e 2008, Fio foi o cavaleiro mais pontuado da ABQM, um marco na carreira do competidor.

Visando a facilitar a logística das provas, Fio decidiu mudar seu CT para Tietê, nas proximidades do Haras Raphaela. Assim, ele chegou ao Ziran Ranch, de Valter Dias. “Em uma prova da ABTB, em 2013, eu vi no telão uma apresentação do projeto de haras que o Valtão estava montando. Entrei em contato com ele e fui conhecer o local onde ele instalaria a vila hípica. Mudamos e tivemos bons momentos”, detalha o treinador.

De Volta a Bauru

Mas na cabeça do treinador, mesmo estando em um bom lugar, focou que a partir dali iria buscar um lugar próprio para ele. E a cidade escolhida foi Bauru, pois é o lugar da grande potencia nacional do criatório de cavalos de Tambor.

“Pensando desde lá de trás que Bauru é o centro de São Paulo, onde é mais fácil de locomover para todas as provas. Os maiores criadores estão aqui, falando em animais: a reprodutora mais pontuada é daqui, a égua mais pontuada na ABQM é de Bauru, a recordista mundial os Três Tambores é daqui, os melhores garanhões da história são daqui. Os cavaleiros mais pontuados: Vaguinho, Décio, Sidnei Jr”.

Para fio, Bauru é uma potência muito grande no cenário nacional. “Acredito que deve ter no mínimo 40 ou 50% do rebanho de cavalo de Tambor em Bauru. A criação aqui é muito bem estudada, direcionada, existe já uma doutrina ou um segmento direto para poder fazer aquela linhagem para a modalidade. E estando perto, temos a oportunidade de montar animais mais apurados.

Outro fator que Abelino Fio ressalta sobre Bauru, é a qualidade do solo macio, que ajuda no condicionamento dos animais. “O terreno aqui é uma areia natural, é macio, o cavalo não bate seco no chão, e ele consegue tracionar o tempo todo. A terra de Bauru não deixa o cavalo escorregar, impulsiona sempre o corpo para frente, é difícil dar lesão”.

Após um tempo na procura pelo lugar ideal, em 2016 achou seu novo lar, na beira na Rodovia Marechal Rondon, próximo aos grandes criatórios de Bauru. Com uma estrutura arborizada e funcional. E para que tudo fluísse com sucesso ele conta que formou uma boa equipe, que tem Luciano, Gabriel, Alex, Thiago e Bruno.

tres tambores
Em 2016, Fio (esquerda) no Mundial da NBHA em Perry, Georgia (Estados Unidos)

“Buscamos e achamos o lugar certo para nós em Bauru e nosso foco principal no centro de treinamento é fazer um cavalo para o amador, o jovem, que eles consigam montar e ter o mesmo êxito que a gente está tendo com os cavalos na aberta. Tudo por etapas, no seu tempo, porque é assim o amador e o jovem formam conjunto. Para que isso dê certo, voltamos a domar bem um cavalo, sem pular fases de treinamento, fazer um trabalho sólido e duradouro”.

Fio é um dos poucos que também compete Seis Balizas e ele fala da importância dessa modalidade, do treinamento do cavalo e dos competidores. “A Baliza ela faz com que você trabalhe mais o cavalo, a boca, flexione mais ele. Além de dar equilíbrio ao competidor e segurança na reta quando tiver fazendo Tambor. Ela é muito importante, não podemos deixar acabar. O tempo de treinamento é maior, os cruzamentos estão ficando muito fechados em velocidade hoje e Baliza requer muito mais habilidade”.

Para o treinador é um conjunto de fatores que faz você se dar bem em pista, mas o que fala mais alto no Tambor é uma coisa muito democrática, chamada fotocélula. “Não tem como você alterar aquele resultado, não é nota, não é uma pessoa que está te julgando. O que vale é quem realmente passar mais rápido na fotocélula. E para isso precisamos de bons animais e de um treinamento que dê condições ao animal”.

Por Verônica Formigoni
ESPECIAL Bauru – Revista Tambor & Baliza – Ed. 83
Fotos: Cedidas

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