O jornalista e cowboy brasileiro Filipe Masetti Leite, 31 anos, que enfrenta uma maratona para a divulgação de seu livro, conversou com a reportagem do Portal Cavalus
Filipe em meio a sua jornada épica de dois anoscruzando as Américas. Foto: outwildtv
Depois de andar 16 mil quilômetros com três cavalos, de uma ponta a outra do continente americano, passando por dez países, ele ficou conhecido como o Cavaleiro das Américas. Realizou com essa jornada um sonho de criança, que agora fica imortalizado com o livro Cavaleiro das Américas, sucesso desde o seu lançamento, tendo ficado entre os melhores por duas semanas na lista da Veja.
De 2012 para cá, passou dois anos na primeira jornada, escreveu o livro, planejou a segunda viagem, foi e voltou até o Ushuaia em pouco mais de um ano, agora já se prepara para o segundo livro e a terceira e última jornada. Uma guinada de vida e um exemplo de força e determinação!
Como esta sua rotina hoje?
Foto: Reprodução/InstragramFilipe Leite: Minha rotina agora está focada na divulgação do livro Cavaleiro das Américas, que foi lançado em agosto pela editora Harper Collins. Primeiro lançamos na Festa do Peão de Barretos, depois fizemos noite de autógrafos em Guaíra, Esprito Santo do Pinhal, a minha cidade, e estou indo para Jaguariúna. Muita correria, mas está sendo bem legal, Graças a Deus, vendendo bastante. Estou muito feliz, pois conseguimos entrar na lista da Revista Veja por duas semanas consecutivas como best-seller, logo nas duas primeiras semanas que o livro foi lançado. Fiquei a frente de muitos livros conceituados e está sendo um sonho isso tudo para mim. Com muito trabalho e dedicação estamos alcançando coisas bacanas. Estarei em mais algumas festas nessa fase de divulgação do livro e em seguida vou ao Canadá. Tenho algumas reuniões através da minha editora para fechar a divulgação do livro lá também. Na rotina, podemos incluir palestras agendadas e alguns artigos que escrevo para o Toronto Star. Quando voltar do Canadá vou começar a escrever o segundo livro, que vai falar da segunda jornada, de Barretos até o Ushuaia. Vou approveitar esse final de ano que vai ser mais calmo para começar a escrever e poder lançá-lo em 2018.
Já tem planos para o ano que vem, então?
Filipe Leite: Sim! Para 2018 a ideia é estar nas festas de rodeio do Brasil todo levando meus produtos. Tenho uma linha de botas com a Goyazes, uma linha de selas com a ProHorse e vou lançar agora uma linha de chapéus com a Pralana, e um projeto de uma linha de roupas, além do livro. Vai ser um ano de caminhonete e treiller, não a cavalo (risos) pelo Brasil, nos rodeios. E também planejar minha última jornada, que será do Alaska até Calgary, no Canadá. Terminar onde comecei tudo. Serão cinco mil quilômetros e um ano de viagem.
Essa pergunta tudo mundo já fez, mas queremos saber: o que foi mais difícil?
Filipe Leite: Foi, certamente, cuidar dos cavalos, meus filhos, meus heróis, que me ajudaram a fazer essa travessia. Eu estava sozinho, sem apoio em grande parte da jornada, então cuidar dos cavalos foi muito difícil. No deserto, no meio da selva, em montanhas, sem sinal de telefone, sem veterinário, só eu e os cavalos. Acabei tendo que ser um pouco veterinário e tinha que ter fé de que nada iria acontecer. Teve dia que os cavalos foram dormir sem água, tinha dia que não tinha comida. Foi muito difícil e eu acabava ficando muito preocupado com os animais, e sem eles eu não viajaria nem um quilômetro. Então a parte mais difícil foram os cuidados com os meus cavalos. Pensei em desistir todos os dias, pois era sempre um problema ou mil. Mentalmente temos que ser muito fortes, mas a única opção era continuar. Sempre falei que ou chegava ao Brasil em cima de um cavalo ou dentro de um caixão, e graças a Deus deu certo.
E a melhor parte dessa viagem?
Filipe Leite: Minha passagem pelo México foi muito emocionante. Teve dia que fui acompanhado por mil cavaleiros. As pessoas me trataram muito bem. A cultura de cavalgada, de cavalo é muito forte. Todo mundo celebrou muito a viagem. Demorei quase sete meses para cruzar o México de norte a sul, comecei com o deserto e terminei com selva, muito dinâmico o país, tudo, a cultura, música, comida. Me emocionei demais, me apaixonei pelo país. Fui recebido como se fosse da família. Foi a parte mais especial da jornada, eu acho.
Como era para escrever o diário de bordo e fazer a edição dos vídeos?
Filipe Leite: Eu só filmava os vídeos e mandava para a Outwildtv, a produtora que me patrocina. Eles editaram tudo de Nashville, Estados Unidos, onde eles ficam. Foram 90 vídeos. E agora eles estão guardando material, não divulgamos nada da segunda jornada, pois querem fazer uma série. A primeira temporada do Canadá para o Brasil, e depois a segunda do Brasil até Ushuaia. Eu escrevia também três textos por semana para o blog, lá do estradão mesmo, e uma historia por mês para o jornal Toronto Star, o maior jornal do Canadá. Quando cheguei em casa, imprimi tudo isso e fiquei sete meses no meu sitio escrevendo o livro. Reli tudo, muita coisa estava pronta, mas tinham umas anotações que não puderam entrar no blog e eu coloquei no livro.
Como programou a viagem, desde a concepção, traçar a rota e programar dia a dia?
Filipe Leite: A viagem era um sonho de vida, né? De um livro que meu pai lia pra mim quando eu era criança. Sempre pensei nisso. Quando terminei a faculdade em Toronto, criei o projeto, tracei a rota e fiquei dois anos buscando patrocínio e planejando. Fiquei também me aperfeiçoando na arte de viajar a cavalos, falei com cavaleiros de longa distância do mundo inteiro, Europa, EUA, Argentina, Brasil, pessoas que já tinham feito esse tipo de viagem. E aprendei muito com eles, quantos quilômetros podia viajar por dia, quantos dias podia viajar sem descansar, quantas vezes os cavalos tinham que comer por dia para aguentar. Foi muita luta até poder sair de viagem.
Você tem a noção de que entrou para a história do Brasil e do cavalo com esse feito?
Filipe Leite: Não tenho essa noção. Para mim é algo natural, muito fácil, não é algo grandioso na minha cabeça. Eu estava lá no dia a dia, viajando 30 quilômetros por dia, com 16 mil para completar, acaba sendo algo natural. Eu, todos os dias, com os cavalos, todos os quilômetros, sai e cheguei. Para mim não tem nada de herói e histórico, fico com vergonha da forma como as pessoas me tratam, pois para mim não fiz nada diferente. Mas sou muito grato pelo carinho das pessoas, como me reconhecem e me tratam, a felicidade quando me encontram, querem tirar foto, contam histórias de vida delas, falam o que minha viagem significa para elas, para a família. É muito gratificante e fico muito feliz!
Em Barretos, um dos momentos de muita emoçãono final da jornada. Foto: cedida
E o livro, qual a importância pra você de imortalizar essa incrível jornada?
Filipe Leite: Eu sou jornalista, então desde o começo, quando comecei a montar o projeto, já sabia que ia escrever um livro. Eu queria compartilhar essa experiência com outras pessoas, com a juventude. Mostrar para os jovens que tudo é possível, que temos que lutar, com foco, força e fé, mas que é possível. Também queria contar a história das américas, desde o narcotráfico até a imigração de pessoas da América Central para a América do Norte. Pessoas que andam meses, cruzam o deserto. Também queria falar da história da seca que atinge todos os países na américas. A mudança do clima, como afeta as fazendas e os ranchos. A poluição dos rios e como a gente trata o nosso planeta. Teve lugar de não poder dar água para os cavalos de tão poluído que estava. Enfim, as histórias que, como jornalista, eu achava muito importante contar. E o livro é também a história de um cowboy, que anda a cavalo, e eu queria mostrar isso para as pessoas dos grandes centros do Brasil e do mundo. O livro não é só pra quem gosta de cavalo. Quem não conhece, terá oportunidade de aprender. Vão poder aprender um pouco de como amamos esse animal e vivemos para ele. O livro é importante para mim e para o mundo sertanejo. A Harper Collins é uma das maiores do mundo, logo teremos o livro em inglês e espanhol, levando a nossa cultura brasileira, sertaneja, dos rodeios para o mundo afora.
Por Luciana Omena