Questões históricas para se montar pelo lado esquerdo do cavalo

Do cavalgar no pelo até a utilização de arreios foi uma grande caminhada na qual iremos abordar em futuros textos

Até lá podemos pensar no fato quase que unânime do se montar os animais pelo lado esquerdo, sendo que há a predominância das pessoas em usar a mão e/ou os pés da direita.

Sem dúvida temos o maior número de pessoas que escrevem com a mão direita do que aqueles que escrevem com a canhota, assim como com os pés.

Contudo, ao se montar nos cavalos utilizamos a perna esquerda, contrariando os costumes. Porque isso?

De fato é um costume histórico! Remonta aos ‘gregos e troianos’. Todavia, intensificaram na Idade Média, principalmente nos reinos cristãos. Mas vamos por partes.

Direita e esquerda significa lados, segundo Júlio Lamas (2019). Tal tabu se inicia ainda com os povos Neandertais que tinham a Estrela Polar como referência. Por ela perceberam que o sol ‘nascia’ pelo lado direito, enquanto que se punha pelo lado esquerdo.

Assim sendo, a partir dai as direções começaram a significar o nascimento e a morte. Isto é, o esquerdo significa lago negativo, ou seja, a infelicidade por ter ‘acordado com o pé esquerdo’. Por isso entramos em campo pisando com o pé direito.

Assim como em outras línguas, Left, Gauche, Sinistro, Levyi, Bal (entre outras), a palavra esquerda adquire conotações negativas como mau, maldoso, estranho, marginal, fraco, incorreto.

De acordo com Silvana Mandelli (2019), na Grécia o pronunciar mão esquerda era constrangedor. Assim como na Idade Média, com o assassinato de canhotos nas fogueiras da inquisição, apontados como bruxos.

Inclusive na bíblia encontramos Jesus sentado a direta de Deus. ‘Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos (Mt 25, 41)’.

Porque montamos pelo lado esquerdo?

Mas então, porque ao montar utilizamos o pé esquerdo primeiro, contrariando culturas? Ora montamos com o pé esquerdo pensando na mão direita.

Com a utilização dos cavalos nas guerras, primeiro com as bigas (Figura 1). Desse modo, se tinha o condutor e um arqueiro. Com o surgimento dos primeiros arreios no século 3 a.C, os animais foram montados utilizando a mão esquerda na condução do cavalo. No entanto, com a direita empunha a lança ou a espada.

Questões históricas para se montar pelo lado esquerdo do cavalo

Eduardo Carmona (2008) diz que foi com os romanos (século I a.C.) que empregaram um modelo de sela, ainda sem os estribos, para melhorar a estabilidade e a segurança para o manejo das armas (Figura 2).

As escolas de cavalaria, se baseando nos fundamentos cristãos, empregavam o uso da mão direita. Assim sendo, do contrário, o canhoto estava fadado ao estigma diabólico.

Desta forma, o uso das espadas pela cavalaria em combate ficava na mão direita. Fora de combate, pela facilidade e agilidade, ficavam dentro das bainhas na perna esquerda.

Agora pense: como deveria ser montar um cavalo pelo lado direito, tendo uma espada de mais de um metro, embainhada na perda esquerda. Não seria nada ágil pensando na sobrevivência dentro das batalhas.

Por isso, temos o costume de montar pelo lado esquerdo pensando na mão direita que se ocupa do manuseio da espada localizada na perna esquerda.

Se pensarmos bem, existe toda uma biomecânica pensando em velocidade e agilidade na arte da guerra.

Hoje, já não temos tantas batalhas utilizando os cavalos, mas os costumes, a cultura ficaram como herança histórica de um modelo de funcionamento social.