Já está em andamento o processo eleitoral da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) visando nomear o novo presidente da entidade, para o quadriênio 2021-2024. Ao todo, dois candidatos concorrem ao cargo. Um deles é a ex-técnica da seleção brasileira de ginástica rítmica, responsável por mudar a história do esporte no país, Bárbara Laffranchi.
Filha de uma juíza de ginástica rítmica do comitê internacional, Bárbara deu seus primeiros passos no tablado aos oito anos. Contudo, um problema no joelho, aos 18 anos de idade, a fez encerrar sua carreira como ginasta. Assim, Bárbara Laffranchi se reinventou, se tornando uma das técnicas mais importantes da ginástica brasileira.
À frente da seleção durante 14 anos, ela mudou a história da modalidade no Brasil. Afinal, a equipe verde e amarela saiu das últimas colocações no ranking mundial para os primeiros pódios em Mundiais da categoria, bem como Panamericanos e até Olimpíadas.
Se não bastasse tudo isso, Bárbara é também uma das criadoras da coreografia do “Brasileirinho”, que foi apresentada pela ginasta Daiane dos Santos, medalha de ouro no mundial de 2004.
Agora, aos 53 anos, ela quer ir ainda mais longe. Tanto que almeja levar todo o seu know how de gestão de sucesso no esporte para o hipismo, sua nova paixão. Por conta disso, o portal Cavalus bateu um papo com a candidata à presidente da CBH a fim de conhecer a sua história e a entrevista completa você confere a seguir.
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Início na ginástica rítmica
“Eu nasci em Londrina, no Paraná, e morei lá praticamente a minha vida inteira. A minha mãe sempre foi apaixonada por ginástica rítmica e ela tinha uma equipe. Então, quando eu era bem pequenininha, eu já ia com ela nos treinamentos e, assim, comecei a praticar ginástica.
Como resultado, eu fui ginasta da minha mãe dos 8 aos 18 anos. Mas com 18 anos eu tive uma lesão no joelho, rompi o menisco e a minha carreira como ginasta acabou. Mas antes, como equipe, eu cheguei a ser campeã brasileira algumas vezes e até representei o Brasil em um campeonato internacional na Bulgária, quanto tinha 13 anos de idade.”
Envolvimento com o mundo dos cavalos
“Paralelo a isso, o meu pai sempre teve fazenda. Desde que nasci, ia na fazenda com o meu pai. Inclusive, tem uma foto minha de fralda em cima de um cavalo. É que m meu pai sempre foi um apaixonado pela raça Crioula, e, assim, criou a vida toda.
Mas eu comecei mesmo montando pônei, uma ‘éguinha’ chamada Rosinha. E só depois eu fui montar os cavalos Crioulos do meu pai. Na minha adolescência, quando eu já praticava ginástica rítmica, também estava sempre no meio dos cavalos por causa do meu pai.
Eu lembro que quando eu tinha uns 15, 16 anos, meu pai comprou pra mim um meio sangue Quarto de Milha. E aí eu comecei a fazer as provas de tambor e baliza, a participar mesmo dos rodeios que tinham lá na região no Paraná, e em algumas provas de maneabilidade.
Quem fazia essas provas, na época, era ABHIR. Eles faziam muitas provas no Paraná e eu ia competir com esse cavalo que meu pai comprou pra mim, o nome dele era Jogador. Foi muito divertido. Uma época muito boa da minha vida.”
Carreira como técnica
“Com 18 anos, parei de treinar ginástica e me afastei também dos cavalos. Até porque o Jogador já estava velhinho e não dava mais conta de me acompanhar nas provas. Daí eu resolvi aposentá-lo. Além disso, eu tinha passado no vestibular para duas faculdades.
Como resultado, cursei ambas, ao mesmo tempo. Eu fazia Educação Física de manhã, dava treino de ginástica de tarde e a noite ia na faculdade de Administração de Empresa. Quase fiquei maluca de tanto estudar e trabalhar ao mesmo tempo.
Com 19 anos, eu levei o Brasil para o mundial de ginástica rítmica pela primeira vez. Então, eu fui a treinadora mais nova do Brasil na história da ginastica rítmica. Ai começou a minha carreira como treinadora e me afastei totalmente dos cavalos, porque me tomava muito tempo.
Fiz as duas faculdades paralelas, terminei ambas juntos e comecei a campanha do Brasil sempre com o sonho de participar de uma Olimpíada. Eu sempre falava que a Olimpíada era um sonho possível e todo mundo dizia que eu estava maluco, que o Brasil era o ultimo no ranking geral. Que a gente nunca ia conseguir ficar entre os 12 melhores do mundo para ir numa Olimpíada.
Mas a gente trabalhou tanto, se dedicou tanto, que a gente conseguiu. Pegamos duas Olimpíadas, e pegamos final nas duas, ficando em oitavo lugar nas duas participações, do ano 2000 e 2004″.
Única herdeira da Unopar
“Em 2004 foi a minha ultima participação na ginastica rítmica. Aíi eu deixei e fui trabalhar na universidade com o meu pai e a minha mãe, na Unopar [universidade de Londrina], que foi comprada pelo grupo Kroton [por R$ 1,3 bilhão] em 2011.
Aliás, eu sempre fiz os dois trabalhos paralelos. Eu estava trabalhando como treinadora, mas sempre presente na administração da universidade junto com os meus pais. No entanto, em 2011, nos vendemos a universidade.
Depois, por um período, cinco anos para ser exata, eu fui do conselho da Kroton. Mas daí eu resolvi sair e dar um tempo para mim.”
Início no Adestramento x candidatura à presidência da CBH
“Foi aí que eu tive um tempo para voltar para o mundo dos cavalos. Dessa forma, decidi aprender Adestramento. Isso foi em 2016, quando eu decidi aprender a modalidade e passei a comprar alguns cavalos, na época, só Lusitano.
Hoje eu tenho quatro animais Lusitano comigo, e eu adoro. Sou apaixonada pela raça e pela modalidade. Esse esporte tomou conta do meu coração. E foi através do adestramento que eu passei a ver que muita coisa poderia ser melhor planejada e trabalhada dentro do esporte, dentro do mundo do cavalo.
Por eu ter estado envolvida na gestão esportiva de alto rendimento – foram 14 anos à frente da seleção brasileira fora a época que eu pratiquei o esporte – e na educação por causa da universidade, resolvi me dedicar à CBH.
Eu tenho uma equipe de trabalho muito legal comigo e eu acho que a gente pode ajudar bastante. Ajudar a fazer o esporte se desenvolver, usar toda a tecnologia da educação da universidade dentro da CBH para poder promover a disseminação de conhecimento e melhorar o nível dos instrutores que temos hoje no Brasil. E melhorar, consequentemente, a atuação dessas crianças como atletas, como desenvolvimento no esporte.”
Filha no Salto
“A minha filha está no Salto, há 22 anos. Ela vai fazer 29, começou a montar com seis anos. Isso começou porque a gente ia para a fazenda, e ela tinha medo de cavalo. E eu queria que ela perdesse o medo, daí eu a coloquei na escola de Salto, em Londrina, e ela se apaixonou por hipismo, nunca mais largou”
Hoje em dia, ela está com animais incríveis. Tanto que foi campeã brasileira sênior no ano passado Ela se dedica demais, ela ama isso. Hoje nós temos [Bárbara, a filha e o genro, que também monta] 10 cavalos conosco.
Eu tenho quatro no Adestramento, a minha filha quatro no Salto e meu genro tem dois no Salto. E a gente vive no meio dos cavalos, vamos montar todos os dias juntos, o mais legal do hipismo é por ser um esporte muito democrático. Não tem idade, sexo, prazo de validade e junta a família toda.
Assim, nos três estejamos sempre juntos, competindo, cuidando do cavalo, treinando, isso é maravilhoso.”
Bárbara Laffranchi no futuro…
“O cavalo sempre esteve na minha vida. Por isso, acredito que ele vai continuar nela até o dia que eu morrer. Eu quero ser aquela pessoa com 75 anos em cima do cavalo, competindo adestramento.
Eu estou aprendendo agora, só tem quatro anos que eu pratico a modalidade, mas eu sou uma pessoa extremamente dedicada, eu me jogo de cabeça quando faço alguma coisa. E eu não vou sossegar enquanto não montar direito.
Pretendo melhorar a cada dia mais a minha técnica. Pretendo sair para fazer curso, montar lá fora, investir na minha carreira enquanto atleta, eu quero poder curtir isso. O cavalo para mim é uma terapia. Às vezes cansada, chateada, ou estressada por quanto do trabalho, quando eu monto no cavalo eu relaxo e me sinto renovada.
O cavalo tem esse poder, de aliviar a alma, de deixar a gente mais leve. Então, é uma coisa que eu quero fazer enquanto tiver saúde e meu corpo permitir eu vou querer estar em cima de um cavalo. Eu quero poder trabalhar na CBH nesses quatro anos, quero poder ajudar o esporte a se desenvolver.
Mas a minha vida enquanto atleta eu quero que seja eterna enquanto meu corpo dure. Enquanto eu tiver de pé eu quero continuar montando cavalo, cada vez aprender e me aperfeiçoar mais. Buscar melhores cavalo.
Hoje eu não crio cavalo, sou proprietária de um Lusitano, eu amo a raça, acho espetacular. Mas o meu sonho é ter um Warmbloods, que é um cavalo excepcional. Um dia eu chego lá, vou ter técnica o suficiente para montar na raça e comprar um pra mim, trazer pro Brasil”,
Por Natália de Oliveira
Crédito das fotos: Arquivo pessoal/Bárbara Laffranchi