Seguindo as explicações da Série Mustad, nesta terceira reportagem você vai aprender a técnica do casqueamento. Antes de mais nada vale lembrar que primeiro passo foi a avaliação completa do animal. Ou seja, em estação, ao movimento de passo, conformação e o voo do casco.
Depois, na segunda reportagem da série foi explicado como tirar a ferradura corretamente. Agora é a hora de aprender como manipular esse casco, preparar para uma nova ferradura, uma nova fixação. Para, assim, poder colocar o animal em plenas condições da sua atividade esportiva.
Para tanto, o experiente médico veterinário e ferrador Luiz Gustavo Tenório é quem volta a comandar as explicações na Série Mustad. Ele lembra que o tempo médio de ferrageamento, em se tratando do Brasil, do clima predominante na maior parte do país, é entre quatro e cinco semanas.
“Isso garante ao casco um bom desenvolvimento sem prejuízo. Então, a gente consegue com esse intervalo ter material para trabalhar sem correr o risco de provocar algum acidente, encostar em um cravo, mancar um animal. Dando sempre conforto ao animal, permitindo que esse casco realmente tenha um bom desenvolvimento”, explica.
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Atenção com marcas no casco!
Antes de iniciar a técnica do ferrageamento, Luiz Tenório orienta a observar pequenos detalhes no estojo córneo na parte externa. De acordo com ele, é comum encontrar, tanto na parte frontal quanto na superior, na superfície dorsal da muralha, algumas marcas.
“São sinais bastante importantes. Além da formação de hematomas que podem aparecer nessa muralha, levando a rachaduras e a claudicações, manqueiras, são sinais de que o animal está sofrendo traumas seguidos. Podendo ser durante o trabalho, daí é preciso identificar o tipo de piso que ele está usando. Ou dentro da cocheira”.
Ainda de acordo com Tenório, essas marcas se encontradas nos cascos anteriores, a causa é o trabalho ou cocheira. Já no caso dos membros posteriores, a causa desse tipo de marca é, na maioria das vezes, trauma do casco na ferradura no membro anterior.
“Isso provoca não só uma questão estética, porque essas marcas servem como verdadeiros buracos para a sujeira. Daí a sujeira, aliás, vai se acumulando, podendo levar ao enfraquecimento de casco”, acrescenta.
Portanto, essas essas marcações podem ser causadas tanto pela cocheira, pela atividade desse animal, quanto pelo próprio ferrador. “O profissional tem que ter muito cuidado na hora de passar a grosa, de usar as ferramentas na muralha do casco. Além de ficar esteticamente mais bonito, é funcional. Porque assim é possível manter um casco limpo e com menos risco de infecção”.
Início do casqueamento
Depois dessa análise feita com o casco parado, Tenório orienta a levantar e fazer nova observação com o casco no alto. O ideal sempre é remoção de toda a sujeira existente. “Lembrando, mais uma vez, que eu não preciso enfiar o limpa casco dentro da ranilha para tentar limpar lá no fundo. Não há necessidade. Basta o tipo de manobra que é saudável para o casco e correto”.
Para fazer essa limpeza, basta usar dois modelos de rinetes, um tripé, uma torquês de cortar casco e uma grosa. “Para economizar o meu corpo e dar conforto para o cavalo, o ideal é que você sempre divida o peso que o animal faz sobre o seu corpo com a palma da sua mão contrária, que está livre. Por exemplo, o polegar da mão esquerda empurra o rinete, que tem um formato meio côncavo, e daí é ir limpando o excesso de casco”.
Na sequência, com o uso de um rinete loop é possível fazer a limpeza das ranilhas de forma bem prática. Contudo, Tenório frisa que quanto menos for manipulado o casco, quanto menos cortar, melhor é. “Não há necessidade de fazer uma limpeza exagerada. Tirar tudo. Ainda mais se os sulcos estão íntegros. Assim só é necessário liberar esses sulcos para que o casco continue o seu funcionamento adequado”, reforça.
Feito o preparo dessa sola, é necessário fazer uma segunda checagem para observar o plano do casco e ver o que que tem para cortar. “Eu costumo usar a torquês de casco sempre do meio do casco para um talão e depois ao outro. Isso não é regra. Eu posso começar de um talão. Isso é o meu hábito de trabalho e não significa que seja a regra”.
Neste caso, a posição da torquês deve estar em contato com o casco e paralela a esse casco, lembra Tenório. Após cortar o casco, fazer uma nova checagem para verificar se está regular, o próximo passo é usar a grosa para terminar de aplainar o casco. “A grosa também trabalha plana no casco, sempre. Quando chegar no meio, troque de mão. A mão esquerda vai passar a empurrar essa grosa e a mão direita vai fazer a direção dela”.
Lembre-se de manter todo o contorno do casco com a mesma espessura de parede, para que tenha uma correta distribuição do impacto e da força gerada em cima desse casco. “Para isso, use a grosa perpendicular à parede arredondando esse casco, acompanhando exatamente o formato da linha branca”.
Depois, faça uma nova avaliação no casco e observe que a sola não pode ser plana, mas côncava. “Então, na área que passou a grosa, você vai devolver a concavidade com o rinete. Mas tenha cuidado na hora passar a grosa na muralha do casco para não atingir a coroa do casco e não precisa fazer força para marcar esse casco. Quanto menos material eu remover, melhor é.”
Outro detalhe apontado por Tenório é que nem todos os cascos vão precisar do mesmo trabalho. Existem cavalos que o crescimento é tão normal e uniforme, que não há a necessidade de passar a grosa. “Se não há necessidade, não passa. Porque o excesso de manipulação do casco obviamente vai enfraquecer essa estrutura. Então, isso não é nada interessante e a gente tem que ter essa sensibilidade do animal que precisa e do que não tem necessidade”.
Considerações finais
Pronto! Ao seguir os passos explicados acima por Luiz Tenório, o casqueamento do seu cavalo está completo. Quer dizer, quase. “Quase porque tudo que foi cortado e removido é preciso ter certeza de que o casco vai ficar no plano. Então, a dica que eu dou a vocês é a seguinte: toda vez que vocês terminarem de fazer um casqueamento, nunca o deem por finalizado. Ou seja, deixa o animal jogar o peso dele em cima um minutinho ali. Vai lá, escolhe a ferradura liga a forja, enfim, dá uma passeada”.
E, por fim, ainda acrescenta: “Por quê? Esse tempo que você vai deixar o cavalo botar a carga em cima desse casco é exatamente o tempo suficiente para que ele ceda. Ou seja, para que ele vá para a posição original. E aí você depois levanta e verifica se tem algo mais a ser feito. Para você poder dizer que realmente está finalizado e eu tenho condição de colocar uma ferradura”, finaliza.
Na quarta e última reportagem especial da Série Mustad, você vai aprender o passo a passo de como tirar a ferradura corretamente. Não perca!
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Por Natália de Oliveira
Crédito da foto: Divulgação/Mustad