Os movimentos rítmicos e repetitivos da marcha dos cavalos têm uma similaridade com os da marcha humana. Quando estamos montando um cavalo, ocorre uma integração sensorial que contribui para maior conscientização do nosso corpo, melhora na coordenação motora e do equilíbrio, entre muitos outros benefícios.
Esse é apenas um exemplo de como o cavalo pode ajudar crianças e adultos na reabilitação física e psíquica. Por isso, ele é considerado um importante método terapêutico, comprovado pela ciência e indicado pela medicina. Mas não é só na saúde que há benefícios, a própria interação com o animal pode ajudar na socialização, autoconfiança e autoestima.
No campus da USP em Piracicaba, cerca de 38 mil atendimentos, principalmente de crianças, foram realizados pelo Projeto Equoterapia Esalq desde 2001. O serviço da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), idealizado pelo professor Claudio Maluf Haddad, tem a proposta de oferecer tratamento terapêutico e educacional complementar com o cavalo a pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social.
A divulgação das vagas é feita por edital público. A seleção segue critérios socioeconômicos. É necessário ter o diagnóstico/laudo de deficiências físicas e mentais, além da recomendação médica para a equoterapia. Existem três tipos de atendimentos: exclusivamente psicológico, exclusivamente fisioterapêutico, ou híbrido, que inclui tanto o psicológico quanto o fisioterapêutico.
“Dentro dessas categorias os candidatos são ranqueados em ordem de prioridade e esses dois resultados são cruzados. É feita uma listagem e é selecionado o número de pessoas que é condizente com o número de vagas que temos naquele momento”, explica Sila Carneiro da Silva, professor do Departamento de Zootecnia da Esalq e coordenador administrativo do Projeto Equoterapia da Esalq.
Atualmente, o projeto conta com 10 cavalos com capacidade para atender 24 praticantes, com idade a partir de três anos. Em geral, a sessão é de 45 minutos e as atividades não contemplam apenas aquelas montadas.
“Desde o momento em que o praticante interage com o cavalo, já é considerado a equoterapia, o toque é importante para o praticante. Eles são estimulados a interagir com o cavalo, escová-lo, prepará-lo para subirem. Temos uma proporção de tempo diferente dependendo do grau de evolução do praticante para maior tempo ou menor tempo de atividades no chão. Mas todos eles realizam essa aproximação”, conta a professora Roberta Ariboni Brandi, do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, e coordenadora técnica do Setor e do Projeto Equoterapia da Esalq.
Como preparar os cavalos para equoterapia?
A professora Roberta Brandi explica que todos os cavalos usados no atendimento recebem treinamento voltado para a equoterapia e o tempo de resposta vai depender do perfil do cavalo. Além dos dez animais hoje utilizados, há outros três em treinamento.
“Todos os nossos cavalos vieram para o nosso grupo por adoção. Buscamos também no abrigo da prefeitura de Piracicaba cavalos que sofreram maus tratos. Nós temos três cavalos que vieram dessa condição. Então os cavalos passaram por testes para verificar se eles gostariam ou não de trabalhar na equoterapia”.
O processo inclui testar a aproximação da cadeira de rodas, barulho, repetição de movimentos, e todas as atividades que serão realizadas com o praticante. “A resposta do cavalo em estar apto a trabalhar na equoterapia é dependente da personalidade deles. Tivemos cavalos que em dois meses se mostraram aptos e já estão trabalhando, mas temos um cavalo que, só depois de dois anos de treinamento, resolveu que gostaria de participar do trabalho”, destaca a professora da FZEA.
Para dar um conhecimento maior sobre esse processo de formação do cavalo para a equoterapia, a professora Roberta Brandi ministrará nos dias 29 e 30 de julho o curso “O Cavalo como Protagonista de Atividades e/ou Terapias Assistidas”.
“A forma de treinamento do cavalo é muito importante para trabalhar com equoterapia. É consolidado que o cavalo é um animal que tem personalidade e podemos usar isso a nosso favor. Gostaríamos de tornar esse conhecimento público para ajudar nos atendimentos de outras equipes e também no conhecimento das pessoas que fizeram cursos para trabalhar com atividades assistidas.”
São 16 horas de conteúdo voltado para profissionais das áreas de saúde, educação e ciências agrárias. O curso será no Setor de Equinocultura da Esalq, na Av. Pádua Dias, nº11, São Dimas, em Piracicaba.
A iniciativa tem coordenação do professor Sila Carneiro da Silva da Esalq e o apoio da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq). A taxa de inscrição é de R$ 1.200,00 para profissionais e estudantes, sendo realizada até 14 de julho. A partir de 15 de julho, o valor é de R$ 1.500,00. Grupo de até cinco participantes paga R$ 1080,00 fazendo a inscrição até o dia 15 de julho.
Os valores arrecadados com a inscrição serão utilizados para a manutenção dos animais do Projeto Equoterapia da Esalq.
Por Jornal da USP/Hérika Dias
Fotos: Divulgação/Projeto Equoterapia/Esalq USP
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