As coisas como elas são

Numa grande clínica de ferrageamento que sediamos na UC com um profissional estrangeiro, recebemos 40 dos melhores ferradores do Brasil.

Profissionais que todos conhecemos, já ouvimos falar ou mesmo somos ou fomos clientes. Num dos dias, o professor solicitou-nos um cavalo para demonstrar o ferrageamento normal de um cavalo, completo. Fez a ferradura a partir de uma barra de ferro, modelou-a para o casco e colocou-a no cavalo.

Um trabalho demorado, minucioso, detalhista e, principalmente, de alta responsabilidade, pois um erro poderia significar muito. Os alunos assistiram à demonstração com muita atenção e até mesmo admiração pela qualidade e refinamento do trabalho.

Cada detalhe foi minuciosamente trabalhado, revisado, checado com o casco do cavalo. Fez as quatro ferraduras, todas absolutamente perfeitas para os cascos. Quando terminou, ferrou uma das patas e pediu que dois ferradores terminassem aquele cavalo. Estes dois ferradores, nacionalmente conhecidos, assim o fizeram.

Terminaram de ferrar o cavalo, que foi levado de volta à sua cocheira. Este era o último dia da clínica. No final daquela tarde, todos foram embora e a rotina da UC continuou normalmente, com os cavalos treinando, trabalhando, etc.

ferrador de cavalo
“O cavalo que usa ferraduras as perde em um galope no piquete e nada podemos fazer”.

Na manhã do dia seguinte, o cavalo foi solto no seu piquete. Saiu correndo, como todas as manhãs, brincou com os outros que estavam lá, comeu, rolou, enfim, fez as chamadas ‘coisas de cavalos’. Na hora do almoço, retornou à sua cocheira para comer a ração e quando entrou no pátio da UC, um som a menos vinha de suas patas. Somente três ferraduras batiam no chão. A quarta não… era somente o casco, sem a ferradura, que havia se perdido no pasto…

Amigos, este cavalo foi ferrado no dia anterior por um dos melhores ferradores do mundo, e por dois dos melhores ferradores do Brasil. Ferrageamento impecável em todos os aspectos. Experiência de sobra ferrando um simples cavalo. Aí ele saiu correndo e perdeu a ferradura. Seu proprietário teve de esperar um ou dois dias até que o ferrador viesse e repregasse a ferradura.

Este é um exemplo típico de que trabalhar com cavalos é assim mesmo… O cavalo que usa ferraduras as perde em um galope no piquete e nada podemos fazer. Ficamos por muitas vezes impotentes perante diversas situações. Talvez sejam lições que tomamos destes fascinantes animais, que acima de tudo nos ensinam que devemos ter autocontrole, paciência e calma, como eles, entre eles fazem. Talvez seja mais simples do que possamos pensar. Tão simples que complicamos…

Por Aluísio Marins
Foto: Picstopin

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