Cabeça ocupada não pensa besteira

Estamos trabalhando um potro de três anos de idade. Lindo, saudável, sobra vigor, energia e qualidade.

Veio para ser iniciado, domado. Vai ser um daqueles que daqui uns anos vamos nos lembrar, tamanha a qualidade. É um potro agitado pela idade e energia acumulada, normal nos potros. Aqui conosco, tem uma rotina de trabalho intensa em termos de variedades de trabalho.

Pela manhã, após receber a ração, sai da cocheira e vai ser escovado no pátio. Poderia ser escovado na cocheira, mas o fato de ser levado até outro local, com outros cavalos, ter que ficar quieto, calmo, e deixar ser escovado já é parte do trabalho. Após a escovação, iniciamos os trabalhos ao cabresto. Ele ainda não está montado, portanto, sendo preparado do chão para isto. Roda na guia ao passo, com calma, trabalha exercícios para os posteriores e anteriores, inicia trabalhos de encurvatura, reunião e engajamento, recuos e paradas. Tudo do chão, ao cabresto.

Trabalha também toda a parte de alivio da pressão. São exercícios com corredores feitos de cones e cercas. Tudo ao passo, sem correria, sem stress. Baixo stress, alto rendimento, alta produtividade. Aprendizado puro. Após esta sessão, que dura mais ou menos 40 minutos ele fica solto, relaxando, espojando e olhando a bela paisagem que temos na UC.

Na hora do almoço, volta para sua cocheira, recebe a ração e descansa. Por volta das 14 horas volta para a rotina de escovação novamente, fora da cocheira. Retorna à cocheira e recebe alfafa natural no meio da tarde. Após a alfafa, vai para um belo local gramado, de frente com os piquetes, e fica amarrado por um tempo. Ali, olha outros cavalos passando, aprende a ficar calmo e quieto. Em alguns dias, retorna para uma segunda sessão de trabalho, em outros vai para o piquete novamente, em outros, volta para um manejo de cascos ou algo que possa ocupar o tempo. No final do dia, volta para sua cocheira, recebe ração e alfafa.

Vamos assim até que um dia colocamos a sela, montamos e saímos para a fazenda. Depois do potro montado, saímos para a fazenda onde ele experimenta o gado, terrenos irregulares, passeios calmos e experiências positivas. Preparamos o cavalo em aspectos como respeito, educação ao cabresto, calma e paciência.

Deixamos que o cavalo aprenda as coisas normais que todo cavalo deve saber: Caminhar ao cabresto, ficar parado ao cabresto, rodar para os dois lados, recuar, respeitar o espaço das pessoas, respeitar outros cavalos, deixar ser escovado, não morder cordas ou cabos, não morder as pessoas.

São coisas que muitas vezes passam despercebidas, mas que fazem a diferença na hora em que colocamos uma sela e exigimos mais do potro. São fatores que fazem com que o cavalo sinta-se parceiro do cavaleiro, confie, enxergue o cavaleiro como solução e não como problema. Potros com a cabeça ocupada não perdem tempo, não se cansam fisicamente, não desgastam suas articulações com correrias sem sentido, e principalmente, sabem valorizar os momentos que estão conosco.

Por Aluisio Marins, MV

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