Rodeio

Os desafios de uma mulher ao gerir uma associação dentro do rodeio

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A Associação Nacional de Três Tambores é a única que mantém-se ativa no meio há 15 anos

Desde que foi lançada, a ANTT é gerida pelas próprias competidoras. É uma entidade que surgiu para regulamentar e ajudar a fazer crescer o esporte Três Tambores dentro dos rodeios, e mais do que isso, fazer com que todos que operam a máquina entendessem as necessidades do esporte. Ao logo desses 15 anos, as conquistas foram muitas e importantes. Com um trabalho sério e idôneo, diretoria após diretoria foi vencendo batalhas e conquistando um espaço importante para o esporte.

Priscila Aguiar, Paula Camargo, Silvana Bertato  e Flávia Cajé são os nomes que já ocuparam (e ainda ocupam, no caso a Silvana é atual presidente), o cargo de presidente da ANTT. Cada uma com sua experiência e contando sempre com a ajuda uma da outra. A ANTT é uma família em que cada membro das diretorias, que se renovam a cada dois anos, seguem a mesma linha de pensamento, fazendo da associação uma instituição mais forte a cada temporada. Quando Flavia Cajé assumiu a presidência, em 2012, ela já tinha noção do que enfrentaria, e ‘peitou’ tudo e todos defendendo a ANTT a todo custo. Baixinha, com voz calma muitas vezes, procurando sempre mediar os conflitos da melhor forma, ela é uma leoa guerreira quando o assunto é a ANTT.

Confira nossa conversa com ela!

Como sua história com os Três Tambores começou?

Flávia:  Meu irmão amava cavalos e acho que por influência dele eu comecei a amar também. Ele tinha uma égua da raça Mangalarga, a Garota, e através dela começamos a conhecer outras raças e as modalidades. A primeira modalidade que fiz foi o Team Penning, com meu pai e meus irmãos. Mas foi só uma questão de tempo começar a fazer os Três Tambores. Eu amava assistir quando era criança, no centro de treinamento onde treinávamos Team Penning. Mas foi no Barretos Country Hotel, onde antigamente funcionava um CT, que eu comecei no Tambor.

Como conheceu a ANTT?

Flavia: Através de um treinador que tive e também por intermédio da Flávia Guerra, que na época era uma das diretoras e muito minha amiga. Sua família patrocinava e incentivava muito a entidade, que ainda estava no começo.

E como foi o convite para participar da diretoria?

Flávia: Comecei a competir pela ANTT em uma etapa em Cândido Mota e foi um horror (risos). Teve um temporal que destruiu a festa quase que toda. Vi as meninas da diretoria fazendo de tudo para realizar a prova, presenciei o esforço e dedicação delas e fiquei admirada. Não conhecia quase ninguém e foi naquele momento que quis conhecer e, quem sabe, tentar ajudá-las. Era final de 2005, se não me engano. No ano seguinte, passei a seguir o campeonato todo, a amizade com mais meninas foi crescendo, e também puder conhecer melhor a ideia delas em relação ao esporte. Nesse ano mesmo, 2006, fui convidada para fazer parte da diretoria. No começo não ajudava muito, pois não entendia como poderia colaborar. O tempo foi passando e fui tentando ajudar mais. Aos poucos fui aumentando a minha ajuda, aprendendo com cada uma das diretoras. Todas as meninas faziam o que podiam, e algumas vezes, o que não podiam, para a ANTT melhorar como esporte dentro do rodeio.

E para chegar a presidente, como foi essa caminhada?

Flavia: Foi no final de 2011, durante a final da ANTT em Paulínia. Marcamos uma reunião da diretoria lá e estávamos desesperadas, pois estávamos em um momento de grande dificuldade. Foi um ano bem complicado para fecharmos etapa, quase não tínhamos dinheiro para continuar. Nessa época, entrou outro campeonato, que oferecia a prova de graça dentro do rodeio, enquanto para ter a ANTT era preciso que as comissões pagassem, o formato que a ANTT sempre fez. Então, aquele ano foram de negociações muito difíceis e um sufoco para conseguirmos fechar etapas. Então, naquela reunião, sentamos e pensamos que tínhamos que parar, que não dava mais para trabalharmos de graça. Lembro que olhei para cada uma e o nosso semblante era de decepção, o que me marcou muito. Foi ai que aceitei virar presidente da ANTT e decidi que se a ANTT fosse acabar, nós íamos acabar tentando. O meu pensamento era de que enquanto eu estivesse ali não ia deixar a ANTT acabar. E, graças a Deus, todo nosso esforço e dedicação valeu a pena. Daquele dia para frente, a ANTT só cresceu, passamos por vários obstáculos ao longo dos anos e vencemos. Até hoje, cada dificuldade que temos, paramos e respiramos. Agora sabemos que podemos ultrapassar por qualquer barreira. Fiquei como presidente até começo de 2015.

Em uma das reuniões de diretoria da ANTT

Assumir a ANTT mudou a sua rotina e a sua vida?

Flávia: Muito (risos). Enquanto fui presidente, dediquei todo o tempo para a ANTT. Fomos conseguindo parceiros e fazendo reuniões, reuniões e mais reuniões. Conquistamos grandes vitórias e tivemos algumas perdas, mais faz parte de qualquer projeto, né. E até hoje, mesmo eu não sendo presidente, mas ainda fazendo parte da diretoria e ainda a frente de muitos projetos dentro da ANTT, muitos dias do meu ano são dedicados à Associação.

Mas você ainda continua na linha de frente. Como é gerir uma associação como essa?

Flavia: Quando sai da presidência, eu já tinha feito um trabalho árduo e tinha meio que pegado o jeito (risos). Quando a Silvana (Bertato) voltou como presidente, ela, e toda a diretoria, decidiu que eu continuaria fazendo o trabalho na linha de frente, junto com a Graziella Agnes, claro que com a supervisão e ajuda dela e de toda a diretoria.

Gerir a ANTT, ao mesmo tempo que é gratificante, é bem difícil. Temos muitos entraves, mais acredito que hoje o mais difícil, na minha opinião, é encontrarmos grandes empresas que não sejam do ramo para investir. A parceria de empresas de grande porte e de outros segmentos poderia levar o esporte para quem não conhece, ou não gosta, ou ainda para quem tem uma visão errada. Se pudéssemos mostrar o que somos, acho que abriria ainda mais portas. Acho que devido algumas propagandas negativas sobre o esporte com animal (qualquer esporte), dificultou muito essa parte. Se tivéssemos esses apoio, facilitaria muito, o esporte esquestre de uma maneira geral, e a ANTT e os Três Tambores incluídos, cresceriam e se valorizariam muito mais.

Final de campeonato junto as demais diretoras

Mas porque vale tanto a pena continuar, qual é a parte mais gratificante desse trabalho?

Flavia:  Lembra que falei que elas ganharam minha admiração na primeira prova que eu fui? A partir do momento que comecei a ajudar, eu senti o espírito da ANTT, e é isso que me desafia cada vez mais a melhorar pontos que ainda não estão ideais. E cada vez que conseguimos superar um obstáculo, procuro outro para superarmos aquele também (risos).  Sinto orgulho do que a ANTT é hoje e saber que eu colaborei, por pouco que seja, sinto uma felicidade sem tamanho.

O que dizer para quem não acredita na importância da ANTT?

Flavia: Acho que não tem como alguém do meio não acreditar no trabalho da ANTT hoje. Na época da Pri ou da Paula, acho que isso aconteceu muito, e até quando eu peguei a presidência, mais acho que hoje não tem como. Cada dia que passa trabalhamos muito para crescermos e as pessoas enxergam isso. E se tem alguém que não enxerga, calma, que ela ainda vai enxergar.

Ainda acho que tem gente que pensa que é fácil, mas como em qualquer área, sempre vai ter gente que acha que o melhor não fez nenhum sacrifício para conseguir ser o melhor, sempre vamos escutar isso.

Como a ANTT mudou a forma que as pessoas do rodeio enxergam os Três Tambores?

Flavia: A ANTT colaborou muito para valorizar o Tambor dentro do rodeio. A questão do camping e pista, por exemplo, hoje todas as comissões sabem que o cavalo precisa correr em uma pista adequada e não de qualquer jeito, precisam ficar alojados com suas competidoras em um local com água e luz, pra dizer o mínimo. Desde o credenciamento, até a forma de todas as comissões de rodeio respeitarem o nosso esporte hoje, foi uma evolução, ano a no, e que a ANTT foi uma das que colaborou para que a visão de todo mundo mudasse. A ANTT brigou muito para isso tudo que temos hoje acontecesse. Mas ainda temos que exigir e argumentar em muitos eventos, para eles entenderem o quanto a modalidade é grandiosa e importante, e o motivo pelo qual pedimos tudo que tem nos contratos.

Eu só tenho a agradecer por todos esses anos dentro da ANTT. Aprendi muito e hoje sou uma pessoa muito melhor devido a todos os momentos e aprendizados que tive com cada um dos profissionais, diretoras, competidoras e seus familiares, parceiros (empresas, eventos e entidades) que trabalhei dentro do campeonato ao longo desses 11 anos que faço parte. É uma honra para mim vestir a camisa da ANTT e, mesmo que eu saia da ANTT, a ANTT nunca sairá de mim!

Por Luciana Omena
Fotos: arquivo pessoal

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