Coronavírus: Brasileiros falam sobre o reflexo do cancelamento de eventos no exterior

Desde o dia 12 de março, o cancelamento ou adiamento de eventos equestres passaram a acontecer de forma exponencial e mudaram a rotina dos competidores brasileiros que participavam de competições internacionais

Entre as coisas que estamos aprendendo com toda essa crise do coronavírus, sobretudo, é que precisamos de paciência. As notícias mudam a cada hora e o reflexo do cancelamento ou adiamento de eventos por todo o mundo afetou, assim como todas as demais atividades, a rotina de milhares de pessoas que vivem do cavalo ou do rodeio.

O portal Cavalus tem noticiado, à medida que as informações chegam à redação, todos os eventos cancelados, medidas de segurança e tudo que diga respeito à pandemia. Basta dar uma busca pela palavra coronavírus dentro do nosso site para se inteirar. Além disso, também estamos atualizando as matérias que já publicamos com novos dados.

Buscando olhar para toda a situação por outro ângulo, fomos procurar saber como andam os brasileiros que competem no exterior. Até o momento, a situação lá fora é mais grave do que no Brasil, sem dúvida. A maior parte das pessoas com quem conversamos mora nos Estados Unidos. Contudo, os atletas de Salto tinham programação para uma estada na Europa.

Se por um lado a mudança de rotina afeta negócios, reflete na parte financeira, pode ser momento de cada um parar e avaliar o que pode vir de bom. Mais tempo para treinar ou para ficar com a família, por exemplo. Veja o que dizem os brasileiros com quem conversamos!

José Vitor Leme

PBR

Assim que as cidades e os órgãos de saúde passaram a proibir a circulação das pessoas, a PBR tinha etapa marcada em Duluth, Georgia, que aconteceu com portões fechados. O mesmo pretendia fazer esse final de semana, transferindo, ainda sem público, a etapa para Pueblo, Colorado. Porém, no dia seguinte, anunciou que tudo ia parar.

Adotaram, inclusive, a postura de tomar decisões dia a dia, semana a semana, evento por evento. Segundo a fonte do portal Cavalus, as inscrições para as etapas de abril encontram-se abertas, por exemplo. Mas tudo pode mudar a qualquer minuto.

São muitos os brasileiros que disputam o campeonato de montaria em touros da PBR. Não só na divisão principal, mas também nas divisões de acesso. Alguns deles estão com toda família nos Estados Unidos, esposa e filhos, porém uma boa parte não. A incerteza da realização ou cancelamento de eventos, portanto, está fazendo com que vários deles coloquem na balança se é melhor ficar por lá ou voltar para o Brasil.

Contudo, o otimismo do líder do campeonato mundial da PBR no momento pode ser exemplo. José Vitor Leme não tem planos de voltar por conta do coronavírus. “Não tenho previsão de ida ao Brasil no momento. Tudo se normalizando, temos muitos eventos durante o verão e pretendo ir ao máximo possível deles para somar pontos”.

Ele disse ainda que tem aproveitando esse tempo para ficar em casa. “Estou organizando as coisas aqui no rancho, cuidando dos animais e ficando com a família. Aproveitando, aliás, para me recuperar da lesão”. José Vitor machucou as costelas na etapa da Kansas City e ficou sem montar nas duas seguintes.

“Estou me recuperando bem, graças a Deus. Acredito que quando a PBR retornar já estarei pronto para montar novamente. Os adiamentos vão ajudar nesse sentido, para que eu não perca outro evento”. 

Coronavírus: Brasileiros falam sobre o reflexo do cancelamento de eventos no exterior
Junior Nogueira e Marcos Alan
Coronavírus: Brasileiros falam sobre o reflexo do cancelamento de eventos no exterior
Keyla Polizello

PRCA

Já Junior Nogueira, Laço Pé, Marcos Alan, Tie-Down Roping, e Keyla Polizello, Três Tambores, disputam o campeonato mundial da PRCA nos Estados Unidos. A ProRodeo cancelou ou suspendeu todos os rodeios de março. “Está tudo parado na PRCA. Algumas provinhas menores acontecem, mas com pouca gente. Seguimos treinando, mantendo a tropa ativa. Treinamos todos os dias, mas essa época era de muitos rodeios bons, importantes para a classificação mundial”, conta Juninho.

Keyla e Marcos Alan sentem, da mesma forma, o reflexo, e estão se resguardando o quanto podem, em casa, sem ir para os rodeios. Todavia, mantendo os cavalos condicionados. “Está tudo parado e o reflexo é ruim, esse é o nosso trabalho. Mas temos que acatar, seguir e torcer para que tudo se resolva logo”, lembra Keyla.

Rodrigo, Nila e os pais de Rodrigo, Luzia e Carlão

Apartação

Rodrigo Taboga e a esposa Nila moram em Fort Worth, Texas, e estão em casa, acatando as recomendações de todos os órgãos competentes a respeito do coronavírus. Dois grandes eventos da modalidade, NCHA Super Stakes e Breeder’s Invitational, foram adiados. Então, a estratégia está sendo treinar. Afinal, os cavalos, certamente, não podem nem devem ficar parados.

Para a Apartação, o momento mais importante da temporada é o potro do futuro no final do ano. A paralisação dos eventos, sobretudo, está sendo focar no treinamento dos animais de três anos em preparação, justamente, para o NCHA Futurity. Precisam, acima de tudo, de bastante treino. Com as competições, a estratégia é levar alguns potros dessa idade para as provas e/ou trabalhar entre uma prova e outra para que eles alcancem seu pico no tempo certo.

Fazendo parte da equipe do norte-americano Beau Galyean, Rodrigo e o experiente mentor estão olhando para toda a situação pelo lado bom da coisa. “Precisamos aproveitar que a correria fora de casa cessou para trabalhar com mais intensidade os cavalos de três anos. É uma chance de não só nós, como também todos os demais treinadores estão tendo nesse momento. É diferente, mas tem a parte positiva, sem dúvida”, conta o brasileiro.

O casal mora em um rancho e, de certa forma, já estão isolados da cidade. Por isso, seguem treinando todos os dias os cavalos. O reflexo, no entanto, sem provas, é que deixará de entrar dinheiro de eventuais premiações. É um impacto financeiro que vem desse reflexo que não tem como negar.

Sem contar que deixar sem evento os cavalos de quatro a seis anos, que estariam em plena atividade, atinge os proprietários de maneira idêntica. Poderiam estar competindo e ganhando dinheiro. “Estamos bem, aqui não tem ninguém com sintomas”, reforça Nila.

Coronavírus: Brasileiros falam sobre o reflexo do cancelamento de eventos no exterior
Franco Bertolani – Foto: Divulgação/Alden Corrigan

Rédeas

Depois que a NRHA fechou o escritório por conta da situação com o coronavírus, recomendou o adiamento dos eventos de Rédeas por pelo menos 30 dias. A maioria das provas da modalidade são chanceladas pela associação. O NRHA Derby, próximo evento próprio, está marcado para junho e ainda não falaram sobre ele.

Ao passo que todas as provas até 13 de abril estão na ‘janela’ de recomendação da NRHA para que sejam cancelados ou adiados. Não só nos Estados Unidos, assim como na Europa. Quem vive esse momento de perto e sente o reflexo da crise é o brasileiro Franco Bertolani. É bastante diferente ficar sem ir as provas, já que todo o cronograma de treinos são baseados nos eventos.

Com o Cactus Classic cancelado, Franco já pode descansar um pouco os cavalos que estava preparando. Porém, ainda mantém no calendário o treinamento para o NRBC que ainda mantém a data. “Além das provas, tenho dois cursos marcados, um no Canadá e outro na Austrália, acredito que também adiem”, fala o brasileiro.

De maneira idêntica a Rodrigo, Franco está mantendo o foco nos cavalos de três anos, que prepara para o NRHA Futurity. Caso o NRBC seja cancelado, ai sim ele dará outra folga para os cavalos de Derby aguardando notícias do evento da NRHA em junho. “Venho treinando forte e caso não tenha os eventos, vou dar um descanso para os mais velhos, focando bastante nos potros”.

A indústria toda da Rédeas vive esse reflexo. O mercado de forma geral está todo parado, assim como a cidade, escolas, outros eventos esportivos. “Acho que ainda demora mais uns três meses para normalizar. Então, vamos seguir as recomendações e esperar para ver como as coisas ficam”.

Edvaldo Gonçalves – Foto: Divulgação/Andrea Bonaga

Itália

O primeiro evento equestre adiado por causa do surto de coronavírus foi o NRHA European Futurity de Rédeas. Estava programado para acontecer de 24 a 28 de março em Cremona, Itália. A cidade fica, sobretudo, no epicentro do contágio naquele país. O Quarter Horse News deu a notícia no dia 24 de fevereiro quando haviam somente 124 casos confirmados na Itália e duas mortes apenas.

Dados de quarta-feira (18 de março) apontam que os números chegam a 35.713 pessoas contaminadas pelo novo coronavírus e 2978 mortes. Cremona localiza-se na Lombardia, região que registra 1959 óbitos do total do País.

Um brasileiro sente esse reflexo de perto. Edvaldo Gonçalves, o Val, trabalha para o italiano Rancho Elementa com cavalos de Rédeas, nos arredores de Roma. Ele está confinado, sem poder voltar ao Brasil, inclusive, já que as fronteiras foram fechadas. “Muito grave a situação aqui do País, a doença é muito séria mesmo. Estamos trancados em casa, não podemos sair”.

Val conta que, mediante autorização, é permitido que as pessoas saiam apenas para ir ao supermercado e farmácia. “Se fomos para a rua sem autorização podemos ser presos. E quando saímos, no mercado ou farmácia temos que respeitar a distância de um metro de outra pessoa e só entra um por vez”.

Dessa forma, ele reforça que o melhor mesmo é permanecer em casa, sem sair. “Moro aqui no rancho, trabalho com os cavalos todos os dias, mas sem sair de casa há 20 dias. Temos que nos resguardar. E estamos torcendo para que no Brasil as coisas não cheguem como estão aqui”.

Thiago Rhavy – Foto: Divulgação

Salto

Uma boa parte dos brasileiros de alto rendimento no Salto está no exterior nesse começo de ano. Sobretudo, buscando índices olímpicos ou participando dos grandes eventos dessa época, como o Winter Equestrian Festival. Por conta do avanço da proliferação do novo coronavírus pelos Estados Unidos, as duas últimas semanas do WEF foram canceladas.

De lá, os cavaleiros tinham planos de seguir treinando na Europa e participando de concursos, todavia as fronteiras estão fechadas. Thiago Rhavy está no grupo que sente o reflexo da paralisação dos eventos equestres.

Conforme informações da assessoria de imprensa do cavaleiro, ele chegou a retornar ao Brasil, mas logo voltou aos Estados Unidos, no último sábado (14), com a expectativa de encerrar o WEF, que acabou sendo cancelado por conta da pandemia.

Ainda de acordo com a assessoria de imprensa, os planos do Rhavy agora são de ficar em Palm Beach, perto de Wellington, Flórida, treinando sua égua BH Salamandra Baloubina, até liberarem a entrada dos dois na Europa. Como praticamente todas as provas foram remarcadas ou canceladas, o cronograma dele e dos demais brasileiros da modalidade permanece dessa forma.

Brasileira é Rookie of the Year na Nova Zelândia
Nancy Franco – Foto: Divulgação/Adair Wilson

Nova Zelândia

E expectativa de uma brasileira para a festa de premiação da temporada 2019/2020 da New Zealand Rodeo Cowboy Association foi frustrada pela chegada do novo coronavírus na Nova Zelândia. Nancy Franco, assim como os demais compatriotas, sentem o reflexo da crise mundial. Apesar do número de casos ser pequeno por lá, os eventos foram todos cancelados ou adiados, incluindo os de rodeio.

Em comunicado, a NZRA anunciou o adiamento do Waimarino Rodeo, que aconteceria esse final de semana. E ainda, do Millers Flat Rodeo, marcado a princípio para 28 de março. Ness data, ainda seria realizada a festa de premiação na qual Nancy receberia oficialmente seu prêmio por ter sagrado-se Rookie of the Year (novata do ano) nos Três Tambores.

“As provas menores foram mantidas, mas em algumas cidades já começaram as medidas de contenção. Quem puder, trabalhar de casa e circular menos pelas ruas. O Governo tem restringindo de forma mais enérgica a entrada dos turistas. Para quem mora no País mais chegou de fora, tem que passar por quarentena. Temos menos de 20 casos confirmados por aqui, menos do que no Brasil”, conta ela à nossa reportagem.  

Por Luciana Omena
Colaboração: Natália de Oliveira
Crédito da foto de chamada: Pixabay

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